Luto

Pelé já morou em Brasília e brilhou duas vezes nos campos brasilienses

Na vitoriosa trajetória profissional, Pelé brilhou duas vezes em Brasília, cidade onde morou quando foi ministro dos Esportes

Correio Braziliense
postado em 30/12/2022 11:08 / atualizado em 30/12/2022 11:45
 (crédito: Arquivo público DF)
(crédito: Arquivo público DF)

Uma partida antes do milésimo gol e outra após concretizar um dos tentos mais emblemáticos da história do futebol mundial. De forma simplória, assim pode ser resumida a história de Pelé com os gramados do Distrito Federal. Na coleção de 1.283 bolas na rede da gloriosa carreira, o Rei do Futebol rabiscou duas em concertos disputados na capital federal. A história do maior camisa 10 de todos os tempos com Brasília, porém, vai muito além dos campos e está marcada em locais icônicos da cidade.

Os principais deles, entretanto, em nada lembram os gloriosos dias em que receberam o desfile de dribles e lances clássicos do Rei do Futebol. Em 25 de maio 1967, quando já era consagrado como bicampeão do mundo com a Seleção Brasileira, Edson Arantes do Nascimento atuou em um palco criado para homenageá-lo. No Guará, o Estádio Pelezão, então com dois anos de fundação, teve a visita do maior jogador de todos os tempos como o seu momento de maior glória. Por lá, o camisa 10 do Santos encarou a Seleção de Brasília.

Na goleada por 5 x 1, Pelé escreveu as primeiras linhas da história com a capital. Mesmo com a implacável marcação do zagueiro Moacir Melo e do volante Luís, o Rei do Futebol deixou a marca dele e distribuiu lances de efeito. “Lembro, até hoje, que ele tentou colocar a bola entre as minhas pernas para fazer graça com a torcida, mas eu me recuperei a tempo. Gesticulei com ele e ouvi: ‘Você abriu as canetas, pô’”, recordou o zagueiro central, capitão da Seleção de Brasília, em entrevista ao Correio em 2010. Na ocasião, o camisa 10 não jogou os 90 minutos e deixou o campo ovacionado

Pelé levou quase sete anos para voltar a desfilar sua habitual categoria nos gramados do Distrito Federal. O palco da apresentação foi outro. Na era analógica do Mané Garrincha, o Rei do Futebol também deu show vestindo a camisa 10 branca com detalhes em preto do Santos. Em 20 de março de 1974, fez a única apresentação no quadradinho em uma competição profissional diante do extinto Ceub, durante participação do clube candango no Campeonato Brasileiro daquele ano. O jogo foi apenas 10 dias após a inauguração da hoje tecnológica arena.

Assim como na estreia em Brasília, o Rei do Futebol guardou uma bola na rede do Mané Garrincha na vitória santista sobre o clube brasiliense por 3 x 1. Após o fim do jogo, Pelé deixou lembranças com um dos zagueiros da equipe local. Pedro Pradera ficou com uma chuteira e uma camisa autografada do Santos. Relíquias que sequer ficaram com o atleta. “Não coube nos meus pés. Dei para alguém, só não lembro quem”, relembrou, em 2010, ao Correio. Desapegado, Pradera não guardou nem o uniforme alvinegro. “Está com o meu pai”.

Morada como ministro 

Com o passar de tantos anos, praticamente não restaram lembranças materiais das passagens de Pelé pelos gramados candangos como jogador profissional. O Estádio Pelezão durou pouco. Nos anos 1980, o local foi desativado, virou sucata e abrigo de sem-tetos até se transformar em condomínios de luxo e alto padrão em meados de 2009. O Mané Garrincha em nada lembra aquele que recebeu Pelé após a reformulação para a Copa do Mundo de 2014. Tudo virou história e lembranças da presença do maior jogador da história por Brasília.

A relação de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, com o Distrito Federal foi intensa durante a vida e não ficou restrita somente aos dois concertos com a bola no pé nos estádios brasilienses nos tempos de jogador profissional com a camisa 10 do Santos. Muito após a aposentadoria, no período em que mergulhou na política, em meados dos anos 1990, o Rei do Futebol também fez morada em Brasília e foi um dos mais nobres inquilinos da Asa Sul.

Pelé teve a capital federal como local oficial de trabalho entre 1995 e 1998. No período, o Rei do Futebol foi figura governamental ao ser o primeiro a ocupar o cargo de ministro dos Esportes, pasta criada no mandato inaugural do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Consequentemente, enquanto esteve no cargo, o Rei do Futebol também teve a capital federal como casa. No tempo à frente da pasta, ocupou uma residência na SQS 314, na W3 Sul.

Porém, anos antes de viver em Brasília como ministro, Pelé teve uma experiência inesquecível na mesma avenida. Em meio às passagens como atleta em 1967, contra a Seleção de Brasília, e de 1974, diante do Ceub, o Rei do Futebol foi vangloriado pelos brasilienses nas ruas da cidade. Em 25 de novembro de 1969, desfilou em carro aberto do Corpo de Bombeiros pela W3 Sul e visitou vários prédios do governo e centros esportivos na capital federal.

Na passagem para ser homenageado pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici, foi recepcionado por súditos fervorosos com a oportunidade de estar perto da Majestade. “Presença de Pelé sacudiu a cidade”, contou o Correio no dia seguinte. “Foi cumprimentado e aplaudido por sua enorme legião de fãs de Brasília, chegando a emocionar-se com tantas demonstrações de carinho. Em nenhum momento deixou de acenar para seus entusiasmados admiradores”, narrou a reportagem.

Em 2008, Pelé voltou ao Distrito Federal para participar da reinauguração do Estádio Bezerrão, no Gama. O Rei do Futebol deu o pontapé inicial da partida entre a Seleção Brasileira e Portugal. Deu sorte. Em campo, o time tupiniquim goleou os lusos por 6 x 2.

Pelé virou nome de espaços esportivos na cidade. Se o Pelezão, erguido em homenagem a ele, não existe mais, Brasília batizou outros locais em referência ao maior jogador de futebol de todos os tempos. O ídolo deu nome ao Centro Olímpico de Samambaia, o primeiro do tipo construído na capital federal. Em 2009, o Rei do Futebol esteve na cidade para prestigiar a inauguração do complexo ao lado do então governador José Roberto Arruda, responsável pela obra. Emocionado, afirmou que a criação das Vilas possibilitava o surgimento de novos atletas olímpicos no país.

 

 

 

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