Lusail — Enfastiado de conquistar prêmios individuais, Lionel Messi brincava com os filhos Thiago, Mateo e Ciro no gramado enquanto ouvia, um a um, os nomes de Emiliano Martínez (goleiro), Enzo Fernández (jogador jovem) e Kylian Mbappé (Chuteira de Ouro com oito gols) serem chamados para receber prêmios individuais no belo palco montado no gramado no formato da logomarca da Copa do Mundo Qatar-2022. Era como se dissesse: "divirtam-se, meninos, daqui a pouco eu chego lá".
Messi até foi lá rindo à toa receber a Bola de Ouro, mas estava estampado na face dele outro desejo. A taça cobiçada era outra: a entrega do troféu em vigor desde 1974 foi uma liturgia. Espécie de batismo, com as presenças do emir do Catar e do presidente da Fifa no papel de anfitriões do culto ao camisa 10. Messi vestiu uma túnica, recebeu a taça e foi finalmente alçado ao patamar de outros três ídolos argentinos com a letra M, autores da trilogia: Mario Kempes (1978) e Maradona (1986). Ele seguiu feliz e saltitante em direção aos companheiros e consumou o sonho de 1.001 noites. Aliás, de 4.568 dias.
Messi estreou na Copa há 16 anos em uma goleada da Argentina contra a Sérvia na fase de grupos de 2006, na Alemanha. Subaproveitado por José Pékermann, amargou, do banco, a eliminação nos pênaltis contra a anfitriã nas quartas de final. Na edição seguinte, sob a batuta de Diego Armando Maradona, caiu novamente nas quartas de final diante da Alemanha. Os germânicos eram uma pedra na chuteira de Messi e voltaram a frustrá-lo na decisão de 2014, no Maracanã. Messi passou chorando olhando para o troféu.
Neste domingo, apalpou o objeto do desejo carinhosamente antes de recebê-lo. Quebrou protocolos. Curtiu intensamente o momento, sentou-se à beira do palco e depois disso não arrastou os pés do lado da mulher, Antonella Roccuzzo, e dos três filhos, Thiago, Mateo e Ciro, como se tivesse acabado de cumprir um voto de família.
Antes da final, Messi recebeu uma carta do herdeiro mais velho, Thiago. O menino de 10 anos exigia o título. Lembrava de derrotas amargas, uma delas para o Brasil na semifinal da Copa América de 2019, em Belo Horizonte.
"Eu nasci na Argentina. Terra de Diego (Maradona) e Lionel (Messi), dos garotos das Malvinas que jamais esquecerei. Não posso te explicar, porque você não vai entender as finais que a gente perdeu tantos anos, mas acabou. Porque no Maracanã eles ganharam a final contra o Brasil de novo, pai", iniciou Thiago. E terminou citando trecho da música que embalou o tricampeonato aqui no Catar: "Rapaz, agora ficamos animados de novo. Eu quero ganhar o terceiro (título). Eu quero ser campeão do mundo e Diego do céu, podemos ver isso com Don Diego e La Tota incentivando Lionel", completou.
Estava pago. Assim que a decisão por pênaltis acabou, ele foi em direção à família e disse: "Aí está". Depois disso, sentado como rei, observava seu povo feliz na arquibancada. Sempre à sombra de Maradona e até de Carlitos Tévez na Copa América de 2011, em casa, Messi havia encerrado as acusações de que não era argentino por ter deixado o país aos 12 anos para jogar nas canteras do Barcelona, as divisões de base do clube catalão.
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Messi garante seguir jogando pela seleção
Embora a disputa no Catar tenha sido a última da carreira, Lionel Messi garante que seguirá jogando pela seleção argentina. O final feliz com o título mundial no Estádio Icônico de Lusail serviu para o astro renovar os votos com a camisa alviceleste.
"Quero jogar mais algumas partidas como campeão mundial. Todo mundo quer isso, é o mais desejado por todos. Tive a sorte de ter conquistado tudo na minha carreira, e era isso que me faltava. Quero levar para lá (Argentina) e desfrutar com todos", ressaltou o maior ídolo da atual geração hermana.
Ontem, Lionel Messi entendeu que tudo aconteceu exatamente como deveria. Após tantos tropeços e frustrações nas quatro linhas, principalmente a derrota na final do Mundial de 2014 para a Alemanha, o camisa 10 fez uma revelação, dizendo que "sabia" que o grande pedido da carreira seria atendido.
"É uma loucura que tenha acontecido dessa maneira. Eu queria muito. Eu sabia que Deus ia me dar, eu senti que ia ser isso. Agora é aproveitar", disse após deixar o gramado.
A festa azul e branca se estenderá por todo o planeta, sobretudo em Buenos Aires. "Mal podemos esperar para estar na Argentina para ver o quanto isso vai ser louco", complementou Messi.
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