Al Khor — A torcida de Marrocos soltou o gogó na hora de cantar o hino nacional. Abalou as estruturas do Estádio Al Baytt ao fazer a tenda erguida no meio deserto tremer na tentativa de levar o primeiro país africano — e árabe — a ficar entre os quatro melhores da Copa do Mundo à final. Emoldurou a arquibancada de vermelho e verde, como se fosse um mosaico. Afinal, era maioria entre os 68.294 pagantes. No entanto, a França precisou de quatro minutos para impor a autoridade de atual campeã. Virou o primeiro tempo vencendo por 1 x 0, gol de Theo Hernández. Acabou 2 x 0 graças a Dembélé após assistência de Mbappé.
Chegava ao fim uma das histórias mais lindas do almanaque das Copas. Crianças limpavam as lágrimas nos olhos. Incrédulas diante da eliminação diante do colonizador. Cresceram lendo sobre a França nos livros de história. Eliminá-la foi quase um convite à guerra no cântico do hino nacional. Impactou mais do que a Marselhesa, imponente por natureza. A camisa com duas estrelas bordadas pesou. Reverenciada pelos jogadores, a torcida vai peregrinar rumo ao Khalifa Stadium no sábado, palco da decisão do terceiro lugar contra a Croácia. A França buscará o tri.
A Copa do Qatar terá a final que o emir do Qatar, Tamim bin Hamad bin Khalifa Al Thani, comprou e pediu aos alás do futebol. A Qatar Sports Investments é dona do Paris Saint-Germain. Paga os salários de três dos jogadores mais badalados do mundo: Messi, Mbappé e Neymar. Dois deles serão os protagonistas da final inédita de domingo, às 12h (de Brasilia), no Estádio Icônico de Lusail. Uma das duas seleções será tricampeã. Os gauleses reinaram em 1998 e 2018. A seleção alviceleste ergeu a taça nas edições de 1978 e 1986.
Artilheiros da Copa do Mundo com cinco gols cada, Messi e Mbappé desempatarão o duelo em confronto direto. Também podem ser ultrapassados. Afinal, os parceiros Julian Álvarez e Giroud estão logo atrás com quatro bolas na rede cada um. De uma lado, a Europa pode ampliar a hegemonia para cinco títulos consecutivos. Do outro, a América do Sul tem a oportunidade de encerrar o jejum de 20 sem o caneco. O último foi o do Brasil, em 2002, justamente na Ásia.
Desafiada ao extremo a se reinventar, a França se remendou novamente nesta quarta-feira. Coo se não bastasse disputar a Copa sem Benzema, Kanté e Pogba, o técnico Didier Deschamps perdeu Rabiot. O elenco fortíssimo nem sentiu falta dele. Apesar da onda vermelho e do som ensurdecedor ao pé do ouvido, silenciou temporariamente os marroquinos aos quatro minutos.
Um passe em profundidade encontrou Griezmann livre depois do escorregão de El Yamiq. Ele tentou servir Mbappé, mas o camisa 10 furou. A bola ainda voltou aos pés dele, mas deseja um outro finalizador para empurrá-la às redes. Theo Hernandez ajeitou o corpo e estufou a rede.
Houve silêncio momentâneo na pilhada torcida de Marrocos. Ela rapidamente se recompôs e voltou a empurrar o time. Os africanos criaram oportunidades para empatar Deram trabalho ao goleiro Lloris. Na chance mais plástica da partida, El Yamiq emendou uma bicicleta dentro da grande área e obrigou Lloris a esticar o braço direito para salvar a França. A elasticidade foi insuficiente. A bola ainda tocou na trave antes de a defesa gaulesa completar o serviço.
Marrocos rondava a área da França, fazia a bola passar na frente da área, mas a defesa se virava para impedir o empate. A zaga só melhorou quando Marcus Thuram, filho do campeão mundial Lilian Thuram (1998), entrou em campo para colocar ordem na casa. Além dele, Kolo Muani nem bem havia entrado em campo e balançou a rede aos 42 segundos após assistência de Mbappé, aos 32 minutos do segundo tempo.
Os minutos seguintes foram de emoção. Crianças marroquinas limpavam as lágrimas nas arquibancadas. Mesmo assim, não desistiam de ver ao menos um gol que fosse. Eles mereciam, mas o conceito de justiça para dona Copa é outro. Bola na rede. Uma final inédita entre duas camisas pesadas. Na última cena do jogo, enquanto a França comemorava com seus gatos pingados localizados atrás de um dos gols, os marroquinos corriam em direção aos torcedores, ajoelhavam-se, revenciavam o público o público e se despediam com sentimento de dever cumprido. Disputarão o terceiro lugar contra a atual vice-campeã Croácia. Um título.
COPA DO MUNDO
Semifinal
França 2 x 0 Marrocos
Estádio Al Bayt, Al Khor, Catar
FRANÇA
Lloris; Koundé¸ Varane¸ Konaté¸ Theo Hernández; Tchouaméni¸ Fofana, Griezmann; Dembélé (Muani), Mbappé e Giroud (Thuram).
Técnico: Didier Deschamps
MARROCOS
Bono; Hakimi, El Yamiq, Aguerd, Saiss (Amallah) (Ezzalzouli), Mazraoui (Attiat-Allah); Amrabat, Ounahi, Ziyech, Boufal (Aboukhlal); e En-Nesyri (Hamdallah).
Técnico: Walid Regragui
Gols: Theo Hernández, aos 5' 1ºT, Muani, aos 34' 2ºT
Cartão amarelo: Boufal (Marrocos)
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