Al Khor — O banquete de hoje no antepenúltimo dos 64 jogos da Copa do Mundo do Qatar será servido no Estádio Al Bayt, a tenda erguida no deserto, às 16h (de Brasília). O retrospecto recente de campeões vigentes não indicava a presença da França nesta fase. A performance das seleções africanas também não. Jamais um país daquele continente havia atingido uma fase tão aguda do torneio. Marrocos conseguiu ir além. Representa também o mundo árabe e procura mais um tapete mágico capaz de ajudá-la a superar uma potência. Deu sumiço na Bélgica (fase de grupos) Espanha (oitavas) e Portugal (quartas).
Quem testemunha o salto Luiz XV dos gauleses ou a embriaguez de felicidade sem álcool, óbvio, dos marroquinos em Mshreib, Souq Wakif ou Corniche, três dos cartões postais mais populares do Catar, tenta entender como as seleções de Didier Deschamps e Walid Regragui se tornaram tão fortes depois de uma sequência más notícias antes da Copa.
A França desembarcou em Doha sem Kanté, Pogba e Benzema, atual vencedor da Bola de Ouro, Havia mais um problema: a maldição de quem defende o título. Campeã em 2006, a Itália foi eliminada na fase de grupos em 2010. Hegemônica na África do Sul, a Espanha caiu na primeira etapa em 2014. Tetra no Brasil, a Alemanha voltou cedo pra casa em 2018.
Candidata a igualar o bi da Itália (1934 e 1938) e do Brasil (1958 e 1962) em edições consecutivas da Copa, a França mantém o sonho porque aprendeu com os erros alheios. A Espanha, por exemplo, levou ao Brasil, em 2014, 19 heróis do título de 2010. Deschamps optou pela renovação. As lesões em série também desafiaram o técnico a reinventar o elenco. Dos 26 convocados, 10 estavam na Rússia: os goleiros Lloris, Areola e Mandada; os defensores Pavard e o desligado Lucas Hernández (contusão), além de Mbappé, Griezmann e Giroud. A fórmula do rejuvenescimento funcionou.
A França é a primeira campeã desde o Brasil, em 1998, a alcançar as semifinais em defesa do título. Deschamps apostou em jogadores abaixo dos 25 anos. Koundé, Theo Hernandez, Upamecano, Dembelé e Tchouaméni estão correspondendo. A experiência de Rabiot tem sido fundamental para dar equilíbrio e tranquilidade aos novos pupilos de Deschamps.
Marrocos também precisou tomar decisões antipopulares. A primeira delas, demitir o técnico bósnio Vahid Halilhodzic. Ele implicava com dois dos principais astros da seleção: Mazraoui e Ziyech. Ex-lateral de Marrocos, Regragui assumiu a prancheta, pacificou o elenco e fez da defesa a maior virtude. Sofreu apenas um gol em oito partidas no cargo — três amistosos e cinco partidas oficiais nesta Copa do Mundo. A defesa passou intacta contra Bélgica, Espanha e Portugal, ou seja, três candidatas ao título no Qatar.
A maior sacada, no entanto, é outra. A federação foi à caça de jogadores e até técnico marroquino nascidos fora das fronteiras do país. Com o mapeamento, conseguiu convencê-los a defender a terra dos pais e avós. Catorze jogadores e mais o técnico têm 15 têm certidão de nascimento de países como Espanha, Bélgica, Holanda, Itália, Canadá e até mesmo na… França!
Romain Saiss e Sofiane Boufal nasceram na terra dos colonizadores. Saiss, em Drôme, no sudeste francês. Começou a carreira como zagueiro nas divisões de base até virar um dos líderes da seleção. Boufal é parisiense. Foi assediado pela França. Ironicamente, um técnico francês o convenceu a escolher Marrocos: Hervé Renard, protagonista do triunfo da Arábia Saudita contra a Argentina na abertura da Copa. A França abriga um "desertor". Guendolzi é descendente de marroquinos, mas defende Le Bleus.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.