Doha — A noite de ontem (tarde no Brasil), 10 de dezembro de 2022, jamais sairá da memória dos milhões de apaixonados por futebol em Marrocos. Passo a passo, dia após dia, o técnico Walid Regragui e seus comandados têm escrito história na Copa do Mundo. Empurrada por uma torcida feroz, que não se cala por um minuto sequer, a seleção marroquina fez o impensável. Mais uma vez. No Estádio Al Thumama lotado, derrubou outro favorito. Com gol de En-Nesyri em falha da defesa, venceu Portugal por 1 x 0 e se tornou a primeira equipe africana a chegar à semi de um Mundial.
A grande história desta Copa ganha capítulos inacreditáveis a cada jogo. "O dinheiro não consegue superar a paixão e a crença. Isto não é um milagre, é trabalho: Bélgica, Croácia, Canadá, Espanha e Portugal e sofremos só um gol. Todo o nosso continente está feliz por nós. Somos o Rocky Balboa desta prova, pelo nosso espírito", disse o marroquino Walid Regragui, primeiro técnico africano a alcançar as semifinais do Mundial.
"Parece que estamos jogando em casa. O estádio é vermelho, do Marrocos. Jogamos com o coração, pelo nosso país. Uma seleção inacreditável, com espírito fortíssimo", emocionou-se o volante Ambarat.
Pela segunda partida consecutiva, CR7 foi relegado ao banco de reservas pelo técnico Fernando Santos — condição justificável após o brilho do substituto Gonçalo Ramos nas oitavas de final —, entrou no segundo tempo e não conseguiu evitar uma nova derrocada ibérica contra Marrocos.
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A primeira vítima peninsular tinha sido a Espanha, que sofreu nas mãos do goleiro Bono (o melhor do jogo contra Portugal) e foi eliminada nos pênaltis nas oitavas de final. Antes, o arqueiro — que se consagra na categoria de herói nacional ao lado de nomes como Hakimi e Ziyech — já tinha sido fundamental nos duelos da fase de grupos contra Bélgica e Croácia, que não conseguiram vazar a muralha marroquina.
A melhor defesa do Mundial só foi superada uma vez em cinco partidas, na vitória por 2 x 1 sobre Canadá. Ontem, suportou a forte pressão de Portugal, que não viveu sua melhor noite. Nomes como João Félix, Bruno Fernandes e Bernardo Silva não foram sombra do que tinham sido nos desafios anteriores que elevaram Portugal ao status de favorita.
O favoritismo, porém, caiu por terra com o salto de En-Nesyri, que venceu o goleiro Diogo Costa e o zagueiro Rúben Silva para testar em direção às redes aos 42 minutos da primeira etapa. Portugal, então, viu-se encurralado e foi ao ataque, sem êxito. Com o passar do tempo, o nervosismo tomou conta dos jogadores portugueses, que passaram a errar em sequência.
As reclamações contra a arbitragem de Facundo Tello começaram nos minutos iniciais e seguiram até o fim, especialmente por dois possíveis pênaltis não marcados — um em Otávio e outro em Pepe. "Nós estivemos por cima do jogo, sofremos um gol que não esperávamos. Mas eu tenho que dizer, isso é mais forte do que eu: é inadmissível um argentino ter apitado o nosso jogo aqui", reclamou o zagueiro e capitão da seleção portuguesa.
"Depois do que aconteceu ontem, com o Messi falando. Toda a Argentina falando e vem um árbitro argentino para apitar. Não digo que ele veio condicionado para cá, mas o que jogamos na segunda etapa? Jogamos nada. O goleiro deles sempre parando e ele deu só oito minutos de desconto. Nós trabalhamos muito sério. Não jogamos nada na segunda etapa. A única equipe que queria jogar futebol era Portugal", completou.
Enquanto os portugueses lamentam a volta precoce e inesperada para casa, os marroquinos começam a se preparar para mais um embate contra um favorito: a França. A equipe que já deixou para trás Croácia, Bélgica, Espanha e Portugal ousa sonhar mais uma vez para, quem sabe, chegar à final. Com o peso e o apoio de todo um continente, não dá para duvidar.
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