Em linha reta, a distância entre Brasília e o Catar é de, aproximadamente, 12 mil km. Uma rota duas vezes e meia maior do que os 4,3 mil km entre o ponto mais ao norte e mais ao sul do Brasil: o Monte Caburaí, em Roraima, e o Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul. Resumindo, os moradores da capital federal precisam atravessar quase três Brasis para acompanhar de perto as emoções da Copa do Mundo Qatar-2022.
Embora seja uma missão complicada, há quem aceite o desafio. O servidor público Giscard Stephanou, 48 anos, reside no DF e foi ao país do Oriente Médio para acompanhar não apenas a Seleção Brasileira, como as demais partidas possíveis do Mundial. Ao lado da esposa, Michelle Stephanou, 47, o candango apaixonado pelo Grêmio acompanhará mais de 30 partidas da competição.
"Eu farei pelo menos 36 jogos e a Michelle, quase 20. Tenho ingresso para a final. A decisão deve ser entre o vencedor de Brasil e Argentina contra um europeu. E o Brasil será hexa", palpita Giscard.
Além de ser torcedor assíduo nesta Copa do Mundo, o gremista também é dono do perfil Candangos na Copa, representante da capital nacional nas redes sociais ao seguir o certame presencialmente. "O Candangos na Copa surgiu na Rússia. Acompanhamos vários jogos e, agora, estamos aqui. Surgiu justamente para representar o Distrito Federal e integrar o pessoal de Brasília, que vem divulgar, por meio da nossa camiseta e da nossa bandeira, dois elementos muito característicos: o ipê-amarelo e os candangos. É um projeto que vai continuar nas próximas Copas", explica.
Recepção
O ambiente e a forma de recepção estrutural surpreende positivamente em relação às experiências passadas. "Há uma atmosfera sensacional. Posso comparar com as Copas anteriores: está melhor aqui em relação à organização, à estrutura que eles estão disponibilizando, à logística, ao entretenimento nos jogos. Os estádios são um luxo, têm até ar-condicionado para os pés", descreve o torcedor, encantado.
Apesar das grandes diferenças entre todas as culturas presentes no Mundial, a impressão entre os brasileiros e os árabes é surpreendentemente agradável, com direito a atos de generosidade dos anfitriões. "Nos oferecem comida e bebida porque querem. 'É para vocês', eles falam. Na abertura, eles presentearam todo mundo. Achávamos que seriam mais fechados e que a gente nem conseguiria conversar com eles, mas são afáveis e de ótimo trato. Nos entendemos muito bem", relata Giscard.
O servidor público observa uma positividade ao notar nativos e outros estrangeiros torcendo para o Brasil. "Por mais que não tenham uma seleção boa, essas nacionalidades são fanáticas por futebol, mas algumas delas sequer estão na Copa. Eles adoraram torcer para seleções sul-americanas e europeias. Mostra que o futebol é uma paixão mundial, não importa a religião nem de onde a pessoa venha. O futebol une o mundo", destaca.
A representatividade dos enviados da capital federal se mistura não somente aos vários povos do mundo, como também aos demais torcedores nacionais nas terras orientais. "O pessoal fica curioso com a camisa e os símbolos. Todos que vieram do DF se enturmaram rapidamente. A gente fez dois encontros em Brasília, antes de vir, e fizemos outro aqui. É bom que estejamos presentes para mostrar que o Brasil tem pessoas de 27 estados e cada um tem característica e identidade. Todo mundo adora os brasileiros. Quando veem a camisa amarela, pedem para tirar foto. Isso é muito legal", conta o candango.
Saudade temperada
Outro aventureiro em terras árabes é o bancário Rômulo Palmeira, 45 anos. O candango, torcedor do São Paulo, está há quase duas semanas no país sede da competição e sente uma leve saudade da comida nativa. "Senti falta da culinária brasileira. A gente percebe que aqui tem a característica própria da alimentação. Por exemplo, a questão da pimenta. Em algumas refeições, é pimenta para dar e vender", relata.
Outras diferenças nos aspectos cultural e social também são percebidas por um turista vindo de um local de realidades distintas. "Como exercício de comparação, vejo que aqui é tudo arrumado, organizado, bonito, seguro. Você fica bem mais tranquilo do que no Brasil em relação à violência. Outra questão é a das mulheres, sobretudo as muçulmanas cobertas de pano, em uma cultura muito machista, mesmo com algo como 80% de quem mora e trabalha aqui ter vindo de outros países, como Índia, Quênia ou Bangladesh", comenta.
A Copa do Mundo, em si, leva naturalmente milhares de fãs ao local do evento. Muitos desses torcedores se tornam visitantes de uma determinada região pela primeira vez. "Esse é o terceiro país para onde eu viajo. Na última oportunidade, viajei para a Rússia, na Copa passada, onde fiquei por uma semana. Representar Brasília neste evento é maravilhoso. A sensação é fantástica. Depois da oportunidade de conhecer um evento como este, fico pensando como será o próximo", conta Palmeira.
O são-paulino palpita por clássicos no caminho da Seleção Brasileira e sonha alto. "A expectativa de todo bom torcedor brasileiro é chegar à final. Particularmente, estou projetando uma final contra a Inglaterra. Vejo que a principal ameaça, a seleção mais difícil para o Brasil enfrentar, seria a Argentina. Tudo indica que deve ser uma das semifinais. Se chegar e passar, o hexa é nosso", prospecta.
* Estagiário sob a supervisão de Fernando Brito
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