Brasil

Série de erros faz Brasil tropeçar e chegar exposto nas oitavas de final

Erros de avaliação, lesões em série, coleção de decepções no ataque e prepotência ao escalar reservas contra Camarões: como o técnico bugou a Seleção tupiniquim e a deixa exposta para duelo das oitavas de final contra a Coreia do Sul

Marcos Paulo Lima - Enviado especial
postado em 03/12/2022 06:00
 (crédito: Lucas Figueiredo/CBF)
(crédito: Lucas Figueiredo/CBF)

Há cinco meses, o mundo desabou na cabeça de Tite por causa de dois amistosos na Ásia para celebrar os 20 anos da conquista do penta. Senhor da razão, o tempo deu direito de resposta, ontem, ao técnico. Coreia do Sul e Japão são os pedágios para uma Seleção condenada a quebrar um tabu. Nunca antes na história deste país, o Brasil conquistou o título com derrota na fase de grupos. Em 1998, o time de Zagallo até se recuperou do revés contra a Noruega, por 2 x 1, curiosamente na terceira rodada, e decidiu o título com a França, porém, amargou o vice após derrota por 3 x 0. A série do penta em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002 até teve empate. Derrotas como a de ontem para Camarões por 1 x 0 — a primeira diante de um desafiante africano —, não. Herói dos Leões Indomáveis, o centroavante Aboubakar ficou em êxtase na comemoração e foi até expulso.

Com o ego abalado, Tite sentiu o baque depois da partida. "Copa do Mundo não te dá segunda chance. Nessa, ela deu. Tem que ficar sentido 24 horas, amanhã (hoje) é preparação", afirmou.

O treinador admitiu o impacto da derrota no elenco. "Fica sentido e tem que sentir quando perde. Faz parte da vida. Mas o futebol e a competição te proporcionam, até por termos vencido dois jogos, uma segunda chance. Mas temos que ficar sentidos, até amanhã (hoje) de tarde quando iniciarmos a preparação", repetiu. Em crise, Tite tomou uma decisão extrema. O treino de hoje será fechado no Grand Ahmad Stadium. Nenhum jogador dará entrevistas.

Primeiro colocado do grupo G mais por sorte do que o juízo que faltou a Tite para mandar a campo os titulares e não os reservas, o Brasil enfrentará a Coreia do Sul na segunda-feira, às 16h (de Brasília), no Estádio 974, sem passar a mínima confiança ao torcedor. Os problemas são variados. Começam em uma defesa remendada por contusões, passam por um meio de campo sem imaginação, estouram em uma coleção de atacantes que não valeram um Richarlison na primeira fase e terminam na reabertura do incessante debate sobre a Neymardependência.

Na teoria, o Brasil é favorito contra a Coreia do Sul. Enfrentou o adversário duas vezes neste ciclo. Venceu a primeira por 3 x 0, em 2019, no vizinho Emirados Árabes Unidos, e há cinco meses goleou por 5 x 1, em Seul. A soma dos resultados é 8 x 1 no placar agregado. Porém, até o auxiliar técnico Cléber Xavier desconfia da autoridade brasileira.

"É uma equipe que mudou em relação ao último jogo que fizemos, cinco ou seis jogadores que não atuaram nesses jogos, principalmente o de hoje, com um pouco de mudança do sistema também. Vamos trabalhar em cima disso", afirmou sentado ao lado do treinador.

Na prática, a Coreia do Sul parece o menor dos problemas. Tite convocou nove atacantes. Usou todos. Apenas Richarlison fez gol. O outro saiu dos pés do volante Casemiro. Os substitutos tiveram chance e decepcionaram. Gabriel Jesus acumula 532 minutos sem balançar a rede na Copa do Mundo. Oito exibições sem gol. Chamado por ser o único centroavante raiz, Pedro também frustrou quem o apoiava.

O meio de campo é sem criatividade com titulares ou reservas. Salvam-se Casemiro e Fabinho. Falta imaginação a todos os outros. Rodrygo foi reprovado no teste como titular emulando Neymar. Éverton Ribeiro sentiu a estreia. Tomou decisões equivocadas. Fred e Bruno Guimarães mantiveram pontos de interrogação na cabeça de Tite.

Até mesmo a defesa, o setor mais estimado por Tite, teve seu dia de pane. Éder Militão e Bremer não conseguiram deter Aboubakar e o Brasil é a última Seleção vazada na fase de grupos. A retaguarda derrete pelas laterais. Como se não bastassem as lesões de Danilo e Alex Sandro, o departamento médico tem um novo paciente: Alex Telles. Dos quatro laterais, o único inteiro é quem não jogava havia 68 dias — Daniel Alves.

As lesões em série consumiram parte do repertório do Brasil de Tite. Expôs aos adversários soluções emergenciais. A Coreia do Sul sabe, por exemplo, que Éder Militão pode ser lateral-direito e Marquinhos, esquerdo. Escaneou Lucas Paquetá nas funções de meia e volante. Desnudou Rodrygo como possibilidade para substituir o insubstituível.

Camarões reabre o debate sobre a dependência de Neymar. Os próximos dois dias passam a ser importantíssimos para o surgimento de um fato novo minimamente capaz de amedrontar uma Coreia do Sul capaz de derrotar Portugal de virada com Cristiano Ronaldo e tudo em campo.

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