Quando a organização e a vontade falam mais alto que a camisa, tudo pode acontecer em uma partida de futebol. Sem temer o bom time da Bélgica, Marrocos fez jogo em excelência e venceu por 2 x 0 no Estádio de Al-Thumama, em Doha, pela segunda rodada do Grupo F da Copa do Mundo Qatar-2022.
Enganou-se, inteiramente, quem acreditou que este seria um grupo fácil e simples para os Diabos Vermelhos. Claramente mais inspirados, os africanos se valeram de vigor físico e manutenção de ritmo, entendendo perfeitamente seus momentos dentro do duelo, sendo o suficiente para o triunfo com uma pitada de malícia e garra, fundamental perante um favorito nas prévias.
Em drama, os belgas têm decisão na rodada final diante da Croácia, na próxima quinta-feira (1º/12), ao meio-dia, no Estádio Ahmad Bin Ali, em Al-Rayyan. Os marroquinos tentam conferir a classificação às oitavas no mesmo horário frente ao Canadá, no mesmo estádio onde viveu uma de suas maiores glórias na história.
O jogo
Marcados pelas vaias rivais e pelas linhas médias dos mediterrâneos, os europeus tentavam dominar o duelo, preocupados pelo rápido e intenso contra-ataque, pelo qual estavam suscetíveis. Entretanto, o primeiro ataque claro foi de Michy Batshuayi, finalizando contra o corpo de Munir El-Kajoui, aos quatro minutos. O arqueiro precisou correr, antes da bola rolar, para substituir Yassine Bono, que sentiu dores antes do começo do compromisso.
Mais recuada na intenção de cansar o adversário e sair com contragolpes, os magrebinos cederam algumas oportunidades de bola parada para uma formação de alta estatura na média, um risco claramente assumido. Os Diabos Vermelhos somaram 65% de posse de bola nos primeiros 15 minutos, considerando a nova medida oficial, que considera uma divisão com posse “contestável” ou “em disputa”.
Ainda que pressionados contra o próprio campo, os marroquinos não corriam riscos, mostrando sua solidez compacta na retaguarda. Conseguiram ganhar território e agredir o campo belga na segunda metade da etapa inicial, sem conseguir concretizar suas ações e mantendo o marcador por igual.
Apenas aos 34 houve nova ocasião de gol no jogo, oferecida pelo lateral Achraf Hakimi, que entrou pela direita em velocidade, recebeu passe alto, mas finalizou razoavelmente distante da meta de Thibaut Courtois. Um fator que poderia ser uma determinante durante todo o confronto era o grande número de passes errados e de cessão da posse do esférico, no chamado “perde e ganha” no meio-campo.
Antes do intervalo, os Leões do Atlas desferiram um golpe para mudar o cenário da história do jogo. Aos 46, Hakim Ziyech sofreu falta, cruzou perigosamente e colocou a bola no gol, após desvio nas costelas do goleiro belga. Entretanto, o colegiado mexicano Cesar Ramos foi chamado ao monitor da arbitragem de vídeo para conferir interferência do impedido Romain Saiss na ação da jogada. Mesmo sem ter tocado na bola, o zagueiro teria impacto direto no lance de acordo com o juiz, que retirou o tento inaugural.
Surpreendentemente, a partida voltou mais fria para a etapa final em uma primeira impressão, não sendo vazia pela finalização de Eden Hazard aos seis minutos, com defesa de Munir. O que se mostrou foi uma verdadeira batalha pelo domínio na metade da cancha, com os africanos levando a melhor a princípio, comprovada pela perigosa finalização de Sofiane Boufal, aos 11, driblando um marcador e chutando desde a área rival.
Os marroquinos seguiam predominantes na parte intermediária do terreno de jogo e aos belgas não restou mais que o contragolpe e a velocidade, sempre rechaçados. Neste momento, apenas um chute bloqueado de Batshuayi, aos 22, foi sua melhor chance.
Aos 30, os mediterrâneos repetiram a estratégia em bola parada. Em cruzamento vindo pela esquerda, Abdelhamid Sabiri bateu fechado e Saiss voltou a forçar erro de Courtois. Desta vez, o defensor estava habilitado: gol marroquino e explosão magrebina em Doha. O tento foi o primeiro de falta nesta edição de Copa do Mundo
Com Romelu Lukaku sem estar 100% em seu condicionamento físico, o chamado “abafa” era a ordem do técnico Roberto Martínez. Aos 36, Jan Vertonghen cabeceou bola vinda de escanteio perto do arco, quase empatando. A bola parada, arma antiga dos belgas, parecia a alternativa para tentar a salvação, a resistência dos Leões do Atlas veio na estratégia na intermediária e na garganta dos torcedores, incansáveis nos 96 minutos líquidos de partida.
A explosão total nas arquibancadas veio aos 47 minutos, com Ziyech recuperando a bola na área belga após um tiro de meta própria e Zakaria Aboukhlal conferiu na gaveta, dentro da área, inalcançável ao arqueiro. Certamente, uma das maiores festas deste Mundial teve seu salão no Estádio de Al-Thumama.
Ficha técnica:
COPA DO MUNDO
Grupo F - 2ª Rodada
Bélgica 0 x 2 Marrocos
Estádio de Al-Thumama, Doha, Catar
Bélgica
Courtois; Castagne, Alderweireld, Vertonghen e Meunier (Lukaku); Witsel, Onana (Tielemans), Thorgan Hazard (Trossard), De Bruyne e Eden Hazard (Mertens); Batshuayi (De Ketelaere)
Técnico: Roberto Martínez
Marrocos
Munir; Hakimi (Attiat-Allah), Saiss, Aguerd e Mazraoui; Ounahi (El-Yamiq), Amrabat e Amallah (Sabiri); Boufal (Aboukhlal), Ziyech e En-Nesyri (Hamdallah)
Técnico: Walid Regragui
Gols: Sabiri, aos 30, e Aboukhlal, aos 47 minutos do 2º tempo
Cartões amarelos: Onana (Bélgica); Sabiri (Marrocos)
Arbitragem: Cesar Ramos (México)
* Estagiário sob supervisão de Danilo Queiroz
Saiba Mais