Al Wakra — Único técnico capaz de igualar o italiano Vittorio Pozzo e conquistar duas edições consecutivas da Copa do Mundo entre os 32 treinadores deste ano, no Catar, o atual campeão Didier Deschamps é um homem de convicções fortes. Na semana em que perdeu o atual número 1 do mundo, Benzema por contusão, colocou a cara a tapa e bancou que não convocaria ninguém para o lugar do astro recém-eleito Bola de Ouro pela revista France Football.
Da sala de coletiva para fora, a decisão parecia insana. Internamente, foi um belo doping psicológico. Rebaixado a reserva de Benzema, Giroud conquistou uma nova chance de fazer o que mais se cobrou dele na conquista do bicampeonato na Copa da Rússia, em 2018: gol. Dono da camisa 9 no ataque formado com Griezmann e Mbappé há quatro anos e meio, não conseguiu balançar a rede durante toda a campanha. Virou meme e despertou lembranças de Guivarc’h, o centroavante improdutivo de outro título, o de 1998 contra o Brasil, em casa.
Giroud entendeu o recado do chefe. Mais do que isso: livrou a cabeça dele das críticas na vitória por 4 x 1 contra a Austrália no Estádio Al Janoub, em Al Wakra, na abertura do Grupo D da Copa do Mundo. Os Cangurus saltaram na frente no placar graças ao gol de Craig Goodwin e deixou os franceses assustados. Afinal, horas antes, a Arábia Saudita havia derrotado a Argentina. Entretanto, a França se comportou como atual campeã graças justamente ao centroavante Giroud.
O cara desencantou com quatro anos e meio de atraso, mas na hora certa. Sem Benzema, assumiu o papel de comandar a virada com dois gols em noite para não esquecer. No primeiro gol pessoal, foi oportunista ao aproveitar uma bola que havia batido no marcador depois de uma tentativa de Dembélé para Mbappé. No segundo dele, usou a cabeça para colocar a bola no fundo do barbante e anotar o quarto na virada que virou passeio. Ele igualou simplesmente Thierry Henry como maior artilheiro da seleção francesa, cada um com 51 gols.
Antes, o volante Rabiot havia empatado a partida de cabeça. Elétrico como sempre, Mbappé também usou a cuca para marcar pela França. O candidatíssimo a craque da Copa fez o que dele se espera. Agiu como arco, flecha e líder de um ataque capaz de perder Benzema e, mesmo assim, estrear na Copa do Mundo com quatro gols.
Autoridade de quem brigará, sim, pelo bi, para repetir os feitos de Itália (1934 e 1938) e Brasil (1958 e 1962). Deschamps pega carona e inicia a campanha pessoal para igualar o feito de Vittorio Pozzo, comandante da Squadra Azzurra nos anos 1930.
COPA DO MUNDO
Grupo D – 1ª Rodada
França 4 x 1 Austrália
Estádio Al Janoub, Al-Wakrah, Catar
FRANÇA
Lloris; Pavard (Koundé), Konaté, Upamecano e Lucas Hernández (Theo Hernández); Rabiot, Tchouaméni (Fofana) e Griezmann; Dembélé (Coman), Giroud (Thuram) e Mbappé. Técnico: Didier Deschamps
AUSTRÁLIA
Mat Ryan; Atkinson (Degenek), Souttar, Rowles, Bhich e Mooy; McGree (Mabil), Irvine (Baccus) e Goodwin (Kuol); Leckie e Duke (Cummings). Técnico: Graham Arnold
Gols: Goodwin (Austrália), Rabiot, Giroud (dois) e Mbappé (França)
Cartões amarelos: Duke, Irvine e Mooy (Austrália)