FÓRMULA 1

Maioria na F-1, mulheres criam grupos para não irem sozinhas a Interlagos

Nas últimas semanas, elas se articularam em grupos de Whatsapp e Telegram para irem unidas para a corrida deste domingo

O aumento recente da popularidade da Fórmula 1 veio acompanhado de uma presença maior das mulheres na torcida, tanto nas arquibancadas quanto nas redes sociais. Mas, como em outros setores da sociedade, elas ainda sofrem com assédio. Por isso, o público feminino vem adotando estratégias para se proteger destas situações dentro e fora do Autódromo de Interlagos durante o GP de São Paulo.

Nas últimas semanas, elas se articularam em grupos de Whatsapp e Telegram para irem unidas para a corrida deste domingo. O objetivo é se encontrarem do lado de fora de Interlagos para que nenhuma delas precise entrar sozinha no circuito. "Já estouramos o número máximo de integrantes no Whatsapp e precisamos criar um grupo no Telegram, sem limite de participantes. Já alcançamos pelo menos 400 mulheres com estes grupos", diz Beatriz Rosenburg.

Formada em Economia, a fã de automobilismo é uma das principais lideranças destes grupos. A carioca de 29 anos já sentiu na pele o assédio num meio que até pouco tempo era dominado pelos homens.

"Eu estava sozinha com a minha prima no GP de 2013. Um cara me abordou, me fez elogios e pediu um beijo. Eu não queria, óbvio. Então, ele me pegou pelo braço. Fiquei em choque. Um outro homem interferiu e me ajudou. É o tipo de coisa que a gente não espera que aconteça numa corrida de F-1?, afirma Beatriz, em entrevista ao Estadão.

Não foi o único caso que a carioca testemunhou ou mesmo sofreu em Interlagos. "Geralmente, quando uma mulher desce a arquibancada, o pessoal começa a gritar, falar coisas... E também tem os caras que ficam na porta do banheiro feminino", relata.

O assédio na arquibancada assustou Beatriz. "Não cheguei a fazer denúncia. E fiquei muito tempo sem falar sobre o assunto. Só retornei ao autódromo em 2016 porque não estava à vontade para voltar antes. No ano passado, até vim para São Paulo, mas não fui a Interlagos. Fiquei assistindo o GP do hotel com algumas amigas. Neste ano, criamos coragem para voltar."

A "coragem" cresceu com o trabalho em grupo. Em 2018, ela criou um adesivo em que pede respeito às mulheres. A iniciativa decolou e hoje já são mais de 1.500 adesivos para o GP deste fim de semana. Beatriz dá uma dica importante: "as mulheres têm que vir ao autódromo sem medo. Nenhuma mulher está sozinha. Conseguimos encontrar companhias, seja na fila ou nos canais no Instagram e no Twitter".

Ao mesmo tempo, Beatriz e suas amigas criaram um grupo nas redes sociais chamado "Mulheres em Interlagos" e abriram um canal, o "Interlagos Safe", para trocar dicas, tirar dúvidas e, claro, buscar companhia feminina para ir ao GP.

A união acabou estimulando ainda mais a troca de ideias sobre automobilismo, fortalecendo o lado fã de cada uma. Hoje elas contam com mais um espaço para conversar sobre Fórmula 1, o site "Lap One", um blog colaborativo. "É um espaço para as mulheres escreverem sobre automobilismo. Tem cerca de 15 meninas participando, mas sem compromisso mais sério. Não tem aquela cobrança para escrever", explica Beatriz, que até abriu uma loja online para vender produtos com a marca do blog.

Presença feminina

O aumento da presença das mulheres nas arquibancadas de Interlagos é confirmada pelos números do Observatório do Turismo, ligado à SPTuris. Em 2019, as mulheres corresponderam a 17,4% dos fãs que estiveram no circuito nos três dias do evento. Dois anos depois (em 2020, não houve GP por causa da pandemia), aumentou para 20,7%. Para este ano, a expectativa é de crescimento maior.

Este movimento é resultado direto da busca pela F-1 de ampliar sua popularidade entre o público mais jovem. A categoria, porém, já está ciente dos casos de assédio nas arquibancadas, e não somente no Brasil. Por isso, criou neste ano uma campanha para pedir respeito às mulheres, tanto nos circuitos quanto nas redes sociais.

A organização do GP de São Paulo também se movimentou para combater o assédio. A direção da etapa brasileira treinou seus funcionários, abriu um canal de comunicação em seu site e iniciou campanha nos telões no autódromo, na linha do #RespectWomen, que vem aparecendo nas redes sociais nos últimos meses.

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