Doha — Irã e Estados Unidos duelam nesta terça-feira (29/11), às 16h, por uma vaga nas oitavas de final da Copa do Mundo. Esse, porém, é um daqueles encontros que vão além do futebol. A partida no Estádio Al Thumama coloca frente a frente duas nações com histórico de rivalidade nos bastidores políticos.
Apesar das relações conturbadas, as tensões nem sempre existiram. Há um tempo, iranianos e estadunidenses eram amigos. "Nosso diálogo tem sido inestimável, nossa amizade é insubstituível", chegou dizer o ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, sobre o xá da Pérsia, Mohamed Reza Pahlevi, durante um jantar no Irã em 1977.
Aquele encontro foi um dos maiores sinais da aliança entre Teerã e Washington. O primeiro embate, porém, veio anos antes. Os EUA não tinham tanta influência no Irã até 1953. Naquele ano, convocada pelo governo britânico, a Agência de Inteligência norte-americana interveio no domínio iraniano.
A operação Ajax depôs o primeiro-ministro Mohamed Mossadeq, eleito democraticamente pela população, e promoveu o retorno da monarquia, comandada pelo xá Mohamed Reza Pahlevi. A ação foi política e financeiramente planejada, já que o novo governante iraniano era favorável ao capitalismo durante o período de Guerra Fria contra a União Soviética.
Historiadores creem que este episódio marcou o início da rivalidade entre os países e despertou nos iranianos o sentimento anti-imperialista contra os EUA. Entre 1953, ano do golpe que restaurou a monarquia no Irã, e 1979, os países mantiveram uma relação próxima. Economicamente, os EUA se beneficiavam do petróleo do iraniano.
Em janeiro de 1979, a Revolução Islâmica obrigou o xá da Pérsia a fugir do país. Na contramão, o líder religioso Ruhollah Musavi Khomeini retornou ao Irã após 15 anos de exílio.
Anti-americano, o aiatolá Khomeini se estabeleceu no poder. A partir daí, o Irã voltou a ter controle total sobre o petróleo explorado no país - o que irritou os EUA e outras potências globais.
O ápice do revide iraniano foi em novembro de 1979, quando manifestantes mantiveram diplomatas e outros civis norte-americanos como reféns na embaixada dos EUA no Irã. O sequestro durou 444 dias e fez com que Washington declarasse uma série de embargos econômicos ao país do Oriente Médio.
Entre 1980 e 1988, os EUA apoiaram Saddam Hussein na guerra entre Irã e Iraque. O respaldo estadunidense possibilitou o governo iraquiano a usar armas químicas no conflito, que mataram milhares de pessoas. Em 1984, Washington declarou o Irã como país patrocinador do terrorismo e aumentou as sanções econômicas.
Momento atual
Ao longo das últimas décadas, a situação seguiu tensa até que, em 2015, o governo de Barack Obama firmou um acordo nuclear entre o Irã e outros países. Os iranianos se comprometeram a parar de enriquecer urânio com finalidade bélica para ter em troca o fim das sanções econômicas.
Tudo se cumpriu por três anos até que os EUA romperam o acordo em 2018, por decisão do então presidente Donald Trump. Em 2020, a tensão atingiu níveis elevados quando Trump ordenou um bombardeio que matou dois líderes militares iranianos.
Atualmente, os países seguem em conflito. De tempos em tempos, ataques ou episódios diplomáticos ligam o sinal de alerta.
Em campo
No futebol, será o primeiro encontro entre Irã e EUA desde a Copa do Mundo de 1998, na França. Os iranianos venceram por 2 x 1, em partida marcada pela politização.
No Catar, a política volta à pauta, mas de maneira diferente. O Irã está no centro do debate, especialmente por conta da supressão de direitos das mulheres. Jogadores da seleção chegaram a não cantar o hino em forma de protesto.
O tema ganhou força especialmente como reação ao caso de Mahsa Amini, que apareceu morta aos 22 anos após ser presa por "uso inadequado" do véu islâmico. Cerca de 380 pessoas morreram desde que as manifestações começaram, em setembro, de acordo com a Iran Human Rights Watch.
No campo, Irã e EUA se enfrentam num duelo em que o vencedor estará classificado às oitavas de final da Copa do Mundo - feito inédito para o futebol iraniano.
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