Doha — O sol ainda não tinha raiado quando todos se juntavam em casa ou nas ruas e ligavam a TV. A milhares de quilômetros dali, os gramados japoneses eram o palco para quem produziu a alegria de tantos e tantos brasileiros no lado oposto do planeta. Duas décadas depois, um novo grupo de protagonistas quer repetir a história, agora com um roteiro diferente. O primeiro de sete possíveis capítulos é hoje. Desta vez, não será necessário despertador. A partir das 16h (de Brasília), o Brasil enfrenta a Sérvia pelo Grupo G e inicia a caminhada em busca do sonho de voltar a conquistar a Copa do Mundo. O cenário não poderia ser melhor: o Estádio Icônico de Lusail, palco da final do Mundial do Catar.
A cidade construída para a competição é lar da maior arena do país. São mais de 80 mil lugares para quem testemunhará a história do futebol na decisão de 18 de dezembro. Mas o sonho — ou obsessão — de tantos, por vezes, se faz pressão, entre jovens e experientes. Richarlison, por exemplo, tinha 5 aninhos em 30 de junho de 2002, quando o camisa 9 Ronaldo, o Fenômeno, levou Oliver Khan à lona e fez os dois gols do triunfo contra a Alemanha, em Yokohama.
Aos 25, o capixaba de Nova Venécia assume uma missão inglória. Levantamento da reportagem mostra que o dono da camisa 9 da Seleção não balança a rede há nove jogos na Copa do Mundo. O jejum iniciado com Fred no mata-mata do Mundial de 2014, no Brasil, passou pela Rússia nas costas de Gabriel Jesus e desembarcou no Catar na bagagem de Richarlison.
O último gol de um camisa 9 do Brasil na Copa foi de Fred na última rodada da fase de grupos de 2014 contra Camarões, no Mané Garrincha, em Brasília. Depois disso, o Brasil enfrentou Chile, Colômbia, Alemanha e Holanda naquela edição, sem Fred balançar a rede. Aposta de Tite há quatro anos e meio, na Rússia, Gabriel Jesus deu sequência à abstinência. Não balançou a rede contra Suíça, Costa Rica, Sérvia, México e Bélgica. Depois de ostentar falsos e autênticos centroavantes como Tostão (1970), Reinaldo (1978), Serginho Chulapa (1982), Careca (1986 e 1990), Romário (1994) e Ronaldo (1998, 2002 e 2006), o Brasil procura um matador substituto.
Vice-artilheiro da Era Tite neste ciclo de Copa, com 17 gols, o jogador do Tottenham manifestou na última terça-feira prontidão para a missão dada pelo técnico. "Não estou 100%, estou 200%. Chegou o momento, o momento de ser feliz, se divertir, e eu estou aqui para isso, ajudar meus companheiros e fazer o meu melhor para a Seleção sair vitoriosa de todos os jogos", frisou.
A abstinência da camisa 9 do Brasil não pressiona o dono da posição na conquista da medalha de ouro nos Jogos de Tóquio. Embora usasse a 10 na Olimpíada, Richarlison terminou artilheiro do torneio com cinco bolas na rede. "Quando você veste a camisa 9, a primeira coisa que vem na cabeça é fazer gols. Graças a Deus, eu tenho bastante gols com a camisa da Seleção jogando como 9. Acho que, com esses companheiros que tenho ali no ataque, creio que os gols vão sair naturalmente. Claro que na última Copa a gente viu o esforço do Gabriel Jesus, o papel importante que ele fez na equipe, mas a cobrança vem porque ele é o 9, e o 9 tem que marcar gols. Essa cobrança é normal, acontece aqui, acontece no meu clube", admitiu.
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Elo
Richarlison é um dos 16 estreantes do Brasil em Copa do Mundo. Coincidentemente, Tite trouxe ao Catar a mesma quantidade de calouros convocados por Didier Deshamps na conquista da França em 2018. O mix de experiência e juventude necessita de elos para amenizar a pressão e a ansiedade, especialmente na estreia. Um deles é o capitão.
"Eu sempre estive preparado para todas as situações. É um momento especial, agradeço à comissão pela capitania desse jogo. É uma competição de tiro curto, temos de estar preparados para o primeiro confronto, sabemos a pressão e a importância do primeiro jogo. Nervosismo faz parte, mas estamos bem equilibrados para fazer uma boa estreia", afirmou o zagueiro Thiago Silva, capitão brasileiro nas Copas de 2014, 2018 e nesta estreia em 2022.
Com semblante tranquilo, Tite disse estar "mais leve, mais em paz, mais Adenor". Ao longo da semana, calmamente repetiu o ritual que antecede todos os jogos da Seleção desde 2016. Na mesquita localizada no centro de treinamento do Brasil em Doha, o comandante foi falar com Deus. Ele sabe que hoje terá um compromisso bem diferente dos demais, mas decidiu manter o que tem dado certo para controlar os nervos.
"O nervosismo é menor (do que em 2018). Faço minhas as palavras do Thiago. O aprendizado pode ser teórico, mas é fundamental o prático. Os jogos têm um componente emocional muito forte, a estreia ainda mais. Pela expectativa que gera, é humano. Talvez isso interfira nas expectativas do que acontece no jogo. Temos o maior torneio do mundo, os maiores atletas do mundo, talvez a maior visibilidade de um esporte do mundo. Mas temos de ser o que somos na nossa essência", enfatizou.
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