Lusail — Aos 35 anos, Lionel Messi passou por algumas humilhações na carreira. A maior delas, até então, a derrota por 8 x 2 para o Bayern de Munique nas quartas de final da Liga dos Campeões de 2020. Com a camisa da seleção, amargou 6 x 1 na altitude de La Paz pelas Eliminatórias de 2009 sob o comando de Diego Armando Maradona. Resultados elásticos à parte, nada se compara ao que aconteceu, na terça-feira (23/11), na derrota por 2 x 1 para a Arábia Saudita na abertura do Grupo C da Copa do Mundo.
Messi fez um gol de pênalti no primeiro tempo, viu a arbitragem anular dois de Lautaro Martínez e outro dele. O rascunho de uma goleada virou um dos maiores garranchos dos Mundiais. Não é possível bancar o maior porque o Brasil perdeu semifinal para a Alemanha, em casa, por 7 x 1, em 2014. A Coreia do Norte venceu a Itália na Copa de 1966, na Inglaterra, Antes, os Estados Unidos derrotaram a Inglaterra por 1 x 0 no Independência, em Belo Horizonte.
O fato é que a primeira das últimas partidas de Messi na Copa do Mundo reforça a tese de que o jogador eleito sete vezes melhor do mundo precisa zelar pela biografia. Perder para a frágil, mas épica Arábia Saudita, significa manchá-la. Ele havia amargado derrotas por 4 x 0 para a Alemanha nas quartas de final da Copa de 2010 e até mesmo revés de 4 x 1 diante do Chile. Nenhum desses resultados causou o estrago de ontem em uma das favoritas ao título.
O semblante de Messi na sala de conferências e na passagem pela zona mista, um labirinto para o contato com a imprensa, era de vergonha. Se pudesse, ele certamente fugiria dali. "Estamos arrasados. É um golpe muito duro. Não queríamos estrear dessa maneira. Queríamos vencer para dar tranquilidade. Esse momento é de focar na fortaleza, na união do grupo. É o momento de estarmos mais unidos do que nunca", declarou o abalado camisa 10.
Menino na primeira participação na Copa em 2006, Messi deu prova de que virou homem. Assumiu o papel de líder e fez questão de chamar a responsabilidade e blindar os companheiros. Agora é passar tranquilidade. "Foi um golpe muito duro, uma derrota dolorida. Temos de seguir confiando em nós. Vamos tentar ganhar do México para ver como fica", projetou.
Sincero, citou as razões para a derrota. A incompetência para evitar tantos impedimentos foi um dos motivos apontados pelo gênio. "Sabíamos que eles jogariam com a linha alta. Aceleramos um pouco. Depois, começamos a desordenar, perder o funcionamento, perder o meio de campo", analisou, fazendo o papel do técnico Lionel Scaloni.
Sutilmente, Messi mandou indireta para o técnico sobre a postura da Argentina no segundo tempo. "O gol tão cedo nos confundiu. Não encontramos o jogo que vínhamos demonstrando por muito tempo. Com o resultado contra é mais difícil", avaliou.
Para sorte da Argentina, os concorrentes México e Polônia empataram por 0 x 0. Mesmo assim, os bicampeões mundiais amargam a lanterna. A liderança isolada é da Arábia Saudita com três pontos. México e Polônia dividem o segundo lugar.
Como Renard virou o jogo
Quando a seleção é fraca, um bom técnico compensa. A Arábia Saudita entrou em campo para enfrentar a Argentina com status de uma das piores da Copa do Mundo. No entanto, conta com uma espécie de gênio da lâmpada à beira do campo. Ninguém dá nada por ele, mas o francês Hervé Renard tem história na periferia do futebol e deu nó tático em Lionel Scaloni.
A sacada do comandante da Arábia Saudita foi sutil, mas certeira: reduziu espaço, encurtou o campo, subiu a linha de marcação, obrigou a Argentina a jogar em 15 metros e dificultou a vida adversária. Milagres como esse não são novidade na carreira do treinador.
Aos 54 anos, o responsável pela virada da Arábia Saudita contra a Argentina levou a modesta Zâmbia ao título da Copa Africana de Nações, em 2012. Superou nos pênaltis a badalada Costa do Marfim, com Didier Drogba em campo e tudo. Três anos depois, virou a casaca e guiou os Elefantes à glória no principal torneio do continente.
Coube a ele o papel de domar uma das favoritas ao título, pilhar a torcida saudita e transformar Doha em um pedacinho de Riad. O país é vizinho do Catar. Tem fronteira terrestre a 70 km de Doha. Daí a invasão ao estádio e o barulho ensurdecedor na entrada da seleção em campo, na execução do hino nacional, nos gols de Al-Shehri e Al-Dawsari e a cada defesa do heroico goleiro Al-Owais no triunfo. Antes, só havia derrotado Marrocos e Bélgica, ambos em 1994, e o Egito, na edição passada.
Questionado na entrevista coletiva sobre a razão do triunfo, o treinador foi direto na resposta: "Coisas malucas acontecem. As estrelas se alinharam por nós, mas não se esqueçam que a Argentina é um time fantástico", ponderou o treinador.
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