Lusail — Do alto de um prédio de oito andares em construção, dois trabalhadores equipados com capacete procuram uma sombra enquanto se esticam, curiosos, para ver o que se passa ali embaixo. Nas ruas, argentinos e sauditas se misturam entre os edifícios de luxo, o ar condicionado a céu aberto e as muitas referências à Copa do Mundo. A cena, aparentemente cotidiana, mostra algumas das várias faces de Lusail, cidade que até pouco mais de dez anos atrás nem existia. Hoje, uma década e 45 bilhões de dólares (R$ 241,8 bilhões) depois, é a futurista casa da estreia do Brasil e da final do Mundial do Catar.
Andar pela ensolarada cidade é constantemente ser lembrado que debaixo do concreto há areia desértica. O caminho desde a capital Doha é de apenas 15 quilômetros. De metrô, o percurso não dura mais de uma hora. Pela janela, é possível ver como tudo foi meticulosamente calculado não apenas para ser, mas para parecer.
Esta, aliás, é a tônica da Copa na Península Árabe. O luxo proporcionado por um país enriquecido pelas reservas de petróleo e gás natural está a serviço dos visitantes, orientados por um trajeto em que pouca coisa sai do controle.
Antes, o local era uma pequena vila familiar só conhecida por conta dos livros de história. Lá, morou o fundador do Catar, o xeque Jassim bin Mohammed bin Thani, morto em 1913. Quase um século se passou até que a área voltasse ao centro do debate local.
A construção de Lusail ganhou tração a partir de 2010, quando o Catar foi escolhido pela Fifa o país-sede do megaevento. A organização do país, então, decidiu apostar as fichas em uma cidade que se tornasse uma referência de desenvolvimento sustentável, com sistemas modernos de segurança, transporte e comunicações.
As curvas e o design realmente impressionam o olhar. A alguns passos do estádio, quatro torres do Lusail Plaza Complex saúdam os que vão à bela baía da cidade. As Marina Twin Towers, na Região Central da cidade, mais parecem brinquedos de montar. Outra construção icônica são as Katara Towers, prédios em formato de U inaugurados recentemente e que viraram atração turística.
"A cidade é maravilhosa, muito bonita, acima da média. Muita gente de outros países vem para visitar", conta o indiano Mohammed Sauim, que mora em Lusail. Boa parte da população da cidade, aliás, não nasceu no Catar. A aposta do governo local é que os muitos empreendimentos façam com que pelo menos 200 mil pessoas morem na nova localidade.
Porém, isso ainda não aconteceu. São muitos prédios vazios e uma população concentrada na capital. "Acho que no futuro mais pessoas vão deixar Doha e se mudar para Lusail. Nós temos muitas realizações por conta da Copa do Mundo. Talvez por isso as pessoas venham", projetou o também indiano Prajosh Kumar CK, que trabalha na cidade.
O ritmo de obras continua acelerado. Fora do perímetro Fifa — em que a maior parte dos edifícios está pronta e em pleno funcionamento — há montes de construções em andamento. Muitos dos que ocupam a cidade estão ali justamente para construí-la, a exemplo da dupla que se esticava para enxergar a movimentação de torcedores no entorno da arena que foi palco da primeira 'zebra' deste Mundial: vitória de 2 a 1 da Arábia Saudita sobre a Argentina.
O novíssimo Estádio Icônico de Lusail é mais um dos empreendimentos suntuosos que modificaram a paisagem da região. Nas arquibancadas, cabem mais de 80 mil torcedores. É a maior instalação esportiva do país e vai sediar a grande decisão do Mundial no dia 18 de dezembro.
Em tão pouco tempo, o estádio entrará para a história por receber a finalíssima. Serão dez jogos de Copa no local, incluindo também oitavas de final, quartas de final, semifinal e duas partidas do Brasil na fase de grupos, contra Sérvia e Camarões. Depois, a tecnológica arena será reconfigurada.
O entendimento da organização é que a nova cidade não precisa de uma instalação esportiva desse porte. Por isso, depois da Copa, o estádio dará lugar a um espaço comunitário com escolas, comércios, cafés, instalações esportivas menores e clínicas de saúde. O design externo se manterá, assim como parte da arquibancada, com o objetivo de lembrar o histórico esportivo do local. Porém, a maioria dos 80 mil assentos será doada para a construção de outras arenas pelo mundo.
Estádio Lusail
Cidade: Lusail, no Catar
Distância do centro de Doha: 15 km
Capacidade: mais de 80 mil torcedores (não será mais estádio de futebol após a Copa)
Inauguração: 9 de setembro de 2022
Design: Inspirado na tigela de servir tâmaras e na lanterna fanar, uma espécie de lampião
Curiosidade: É o maior estádio da Copa e não receberá mais partidas defutebol ao fim da competição
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