Doha — Se um apaixonado por futebol tivesse o direito de lustrar uma dessas lâmpadas mágicas comercializadas em Souq Waqif, o tradicional mercadão do Catar, e fazer um pedido aos gênios da bola, possivelmente um deles seria pela eternidade de Lionel Messi. Porém, nem mesmo o jogador eleito sete vezes o melhor do mundo é imune ao marcador mais perverso: o tempo. Aos 35 anos, o semideus do século 21 iniciará hoje, às 7h (de Brasília), no Estádio Lusail, contra a Arábia Saudita, na abertura do Grupo C, o adeus ao maior palco do espetáculo do futebol mundial.
A provável turnê de despedida de Messi na quinta participação em Copa começa onde ele deseja estar em 18 de dezembro. A arena escolhida para receber a final é o endereço para a apoteose de quem ganhou quase tudo na vida. E se ainda não tem a Copa no currículo, a culpa não é totalmente dele.
Messi foi subaproveitado por José Pekermann em 2006. Fazia parte de uma Argentina bagunçada taticamente sob o comando de Diego Maradona. Teve a chance da vida em 2014 sob a batuta de Alejandro Sabella, mas não brilhou quando esteve mais perto da taça. Há quatro anos e meio, viu a Argentina ser atropelada pela França do jovem Mbappé nas oitavas.
O astro não chega bem fisicamente à Copa, mas está leve mentalmente. Ganhou o primeiro título com a seleção principal em 2021, contra o Brasil, no Maracanã, na final da Copa América. Encerrou jejum de 28 anos. O mais importante: a Argentina evoluiu nas mãos de Lionel Scaloni. Triunfos como aquele na Finalíssima contra a Itália, no duelo entre os campeões da América do Sul e da Europa, não deixam dúvida quanto a isso. A interrogação até ontem no Centro de Mídia era sobre a escalação do camisa 10. O inchaço no tornozelo é muito visível.
"Eu cuidei e trabalhei como em toda minha carreira. Certamente é a minha última Copa e a última oportunidade de conquistar esse grande sonho que temos", avisou em uma das respostas sinceronas na concorrida entrevista coletiva.
O discurso de Messi no segundo dia da Copa sensibiliza os fãs e fortalece a Associação de Futebol Argentina nos bastidores. A aposta é de que os árbitros protejam o astro. Em 2019, por exemplo, ele reclamou publicamente da qualidade da arbitragem na Copa América. "Está armada para o Brasil ganhar", provocou.
De pedra, Messi pode virar vidraça. É a vez de os concorrentes, entre eles o Brasil, monitorarem a arbitragem com olhos de lince. O tratamento dado a ele na provável última dança. Possível, pois Messi chegou a se aposentar da Seleção e mudou de ideia. É mais confiável com os pés do que com a língua nem sempre assertiva.
Em todo o caso, o plano do tri recomeça pela quinta vez na carreira de quem merece a glória pessoal. "O que me motiva é o sonho, a esperança de tentar uma vez mais e jamais desistir. Não podemos pensar no que aconteceu, temos que tentar e persistir no que queremos. É difícil, neste momento, fazer com que os jovens entendam que é preciso aproveitar o momento. Isso aconteceu muito comigo. Uma Copa é sempre especial. Você não sabe se um dia vai repetir", disse o gênio no Centro de Mídia.
Frágil, a Arábia Saudita é candidatíssima a saco de pancada. Ao menos, jogará empurrada pela torcida. O país faz fronteira com o Catar. Logo, haverá uma invasão não suficientemente maior do que a idolatria por quem o mundo deve começar a se despedir na Copa.
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