Desde 2010, quando foi anunciado como sede da Copa do Mundo de 2022, o Catar convive com críticas relacionas a forma como conduziu a organização do evento. Com o passar dos anos, casos envolvendo corrupção e, principalmente, violação de direitos humanos e trabalhistas inflamaram ainda mais as manifestações. Neste sábado (19/11), um dia antes da abertura do torneio com o jogo dos anfitriões contra o Equador, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, discursou a favor das minorias e rebateu algum dos ataques.
Em Doha, capital catari, o mandatário da entidade máxima do futebol mundial concedeu uma entrevista coletiva onde abordou várias questões envolvendo a próxima edição da Copa do Mundo. Na longa fala, Infantino buscou se aproximar de comunidades discriminadas no país, como a LGBTQIA+. No Catar, ser homossexual é considerado crime passível de punição até com apedrejamento. A condição de trabalhadores envolvidos na condição de estádios e o racismo também estiveram na pauta do dirigente.
“Hoje estou com sentimentos muito fortes. Hoje me sinto catari, me sinto árabe, me sinto africano, me sinto gay, me sinto deficiente, me sinto como um trabalhador imigrante”, ressaltou. “Claro, eu não sou catari, árabe, gay, africano, deficiente, não sou um trabalhador, mas eu me sinto como eles”, continuou o presidente da Fifa. “Quando eu vim para Doha, eu entendi que tinham coisas a melhorar. Hoje, eu posso dizer que o Catar também evoluiu nisso", prosseguiu, apontando “hipocrisia” dos países ocidentais.
No discurso, o italiano usou a experiência da infância na Suíça e fez uma comparação com as dificuldades enfrentadas pelas minorias no país da Copa. “Eu sei como é ser discriminado, como é ser tratado como um estrangeiro. Como criança na escola, eu sofria bullying, porque eu tinha cabelo ruivo e sardas. Eu era italiano e não falava bom alemão. O que você faz? Você vai para o seu quarto, fica mal, chora. E então tenta fazer amigos, tenta convencer os amigos a se relacionar com outros e outros. Não acusa, não insulta”, disse.
Infantino também falou sobre o tratamento aos operários migrantes. “Quem está realmente se importando com os trabalhadores? A Fifa se importa, o futebol se importa, a Copa do Mundo se importa e, para ser justo com eles, o Catar também. Eu estive em um evento alguns dias atrás, onde explicamos o que estávamos fazendo para pessoas com deficiência... 400 jornalistas estão aqui. Aquele evento foi coberto por quatro. Há 1 bilhão de pessoas com deficiência no mundo. Ninguém se importa”, destacou.
O presidente da Fifa também fez questão de condenar o racismo. Nesta semana, por exemplo, torcedores argentinos entoaram cânticos com trechos racistas e transfóbicos. “Esta cidade é linda, as pessoas estão felizes. "Eles não podem torcer para a Inglaterra porque eles parecem indianos". Eles não podem? Não podem torcer para Inglaterra ou Espanha? Isso é racismo. É puro racismo. Todo mundo tem o direito de torcer para quem quiser”, defendeu.
“Não assista”
Na entrevista de cerca de 45 minutos recheada de frases polêmicas, Gianni Infantino também deu um “conselho” aos críticos ferrenhos da realização da Copa do Mundo a ser realizada no Catar até 18 de dezembro, data da final da competição no Estádio Lusail. Utilizando a grandeza do evento em escala mundial (o alcance estimado é de 5 bilhões de pessoas), o presidente da Fifa comparou a situação com pesquisas e sugeriu que quem se incomodar não acompanhe o torneio.
“Aos torcedores que não querem assistir à Copa do Mundo, não assistam. Mas estou convencido de que essas pessoas vão assistir. Em uma pesquisa, é bonito dizer que você dizer não vai assistir à Copa porque é no Catar isso, porque a Fifa aquilo, mas a gente sabe que essas pessoas vão assistir, talvez escondidos. Porque nada é maior do que a Copa do Mundo”, afirmou, antes de fazer uma promessa sobre o Mundial. “Para estas pessoas, as que vão ver escondidas, eu digo que vai ser a melhor Copa do Mundo da história”, garantiu.
No final da entrevista coletiva, o diretor de relações com a imprensa da Fifa, Bryan Swanson, encerrou a fala de Infantino declarando ser gay e dizendo que a entidade se preocupa com todas as orientações sexuais. “Estou aqui sentado como um homem gay. Só pelo fato de o Infantino não ser gay, não significa que ele não liga para isso. Ele liga. Nós falamos disso muitas vezes. A Fifa se preocupa de maneira forte com todas as pessoas de todas as orientações sexuais. Tenho muitos colegas gays por aqui também", afirmou.
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