A imprevisibilidade é um dos elementos que enobrecem o futebol. Nem mesmo todo o ensaio e tática conseguem antever as surpresas e contratempos dentro e fora das quatro linhas. Tite pode confirmar isso. Convicto de que contaria com Guilherme Arana na lateral esquerda, o dono da prancheta verde-amarela balançou após a confirmação da lesão de que deixou de fora um de seus xodós. Motivo para desespero? Nem tanto. A solução chamada Alex Sandro sempre esteve por perto.
Alex Sandro foi revelado pelo Athletico-PR. Porém, foi vestindo a camisa do Santos que o paulista de Catanduva se destacou após o título da Libertadores de 2011 e chamou a atenção de clubes estrangeiros. Assim como a maioria dos boleiros, esbarrou em dificuldades. É aí que entra a capoeira. Filho de dona Maria de Fátima Lobo, uma baiana batalhadora, o defensor encontrou forças para superar os adversários no jogo da vida e chamar a atenção nas rodas e nos gramados.
O repertório adquirido nos tempos de capoeira foi fundamental para que Alex Sandro alcançasse o nível de performance atual. As virtudes são reconhecidas não apenas por ele, mas também por adversários. "Tenho duas medalhas de acrobacia, uma de prata e outra de ouro. Até na Itália, os treinadores me falam que alguns movimentos parecem de capoeira", contou em depoimento à Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Os dribles, voleios e saltos em campo são reflexos de uma infância de resistência. Como um bom brasileiro, Alex Sandro não fugiu às lutas. A dispensa na peneira final do Santos e a reprovação em um teste realizado no São Paulo o abalaram, mas não conseguiram pará-lo.
Ao olhar para trás, a peça-chave da retaguarda canarinho lembra de questionar-se no Morumbi. Anos depois, não conteve a emoção após retornar ao palco da decepção vestindo a Amarelinha.
"Quando fui reprovado no teste do São Paulo, sentei na arquibancada do Morumbi e olhei para o campo, já com as lágrimas escorrendo. Pensando: 'e agora? Será que eu nunca vou conseguir, que eu nunca vou ser jogador de futebol?' Depois, estive com a Seleção Brasileira no mesmo estádio onde chorei um dia. É uma reviravolta na vida", relembrou o defensor.
A maior chance
A reviravolta com as oportunidades agarradas no Athletico-PR, Santos, Porto e, agora, na Juventus não significaram o fim das frustrações. Até mesmo na própria Seleção ele se decepcionou. Em 2018, ele ficou de fora da convocação para o Mundial na Rússia ao ver os experientes Marcelo e Filipe Luís preencherem as vagas do setor canhoto da defesa. A tristeza em não ter tido o nome anunciado naquele 14 de maio o moldou.
O mundo da bola mostra que também dá as suas voltas. Alex Sandro faz parte do grupo dos 16 jogadores que disputarão a primeira Copa da carreira. Mesmo assim, o lateral da Juventus chega com moral e ostenta o posto de um dos jogadores mais experientes do grupo que vai à caça do hexacampeonato no Catar. Com 68 convocações, 37 partidas e 2.623 minutos em campo, ele fica atrás apenas dos intocáveis Alisson, Casemiro, Danilo, Marquinhos, Neymar e Thiago Silva.
Histórias da vida real, como a do garoto que saiu de Catanduva para realizar o sonho de uma nação no Catar, são inspiradoras. De "esquecido" há quatro anos e segunda opção durante o ciclo a um dos pilares de Tite, Alex Sandro promete abusar da ginga que a capoeira lhe deu para superar o peso da responsabilidade e driblar as adversidades em bordar mais uma estrela na camisa mais prestigiada do futebol.
O gaúcho ponto de equilíbrio
Coincidentemente, a última vaga da lateral-esquerda foi preenchida por um gaúcho de Caxias do Sul. Conterrâneo do técnico Tite, Alex Telles foi o segundo mais bem-sucedido entre as 11 peças testadas no setor canhoto de 2016 para cá.
Assim como Alex Sandro, Telles embarcou como marinheiro de primeira viagem em Copas do Mundo. Há quatro anos, ele assistia em casa a eliminação para a Bélgica, nas quartas de final da disputa na Rússia.
Apesar da presença entre os outros 25 escolhidos pelo treinador, Alex Telles nem sempre esteve no radar para o Catar. No intervalo entre o ciclo Rússia-Catar, ele viu Filipe Luís e Renan Lodi também serem aproveitados. A primeira chance com a Amarelinha veio em 2019, quando ainda defendia as cores do Porto.
Três anos depois, muitas mudanças aconteceram. As duas temporadas pelo Manchester United moldaram um lateral completo. No entanto, respirar novos ares era necessário para garantir a camisa 16 da Seleção. Em agosto, foi emprestado ao Sevilla e manteve a preferência do comandante.
O equilíbrio tão pregado por Tite foi fundamental para Alex Telles carimbar a vaga. Camisa 10 nas Seleções de base do Brasil, ele sempre demonstrou qualidade para se lançar ao ataque e solidez para exercer o papel de defensor.
Conheça os laterais-esquerdo
Nome: Alex Sandro Logo Silva
Nascimento: 26/1/1991
Local: Catanduva (SP)
Posição: lateral-esquerdo
Número da camisa: 6
Clube: Juventus (ITA)
Estreia na Seleção: 10/11/2011 - Gabão 0 x 2 Brasil - Amistoso
Minutos em campo: 2.623
Convocações: 68 — Jogos: 37
Primeiro gol: 12/10/2018 - Arábia Saudita 0 x 2 Brasil - Amistoso
Participações em Copas: estreante
Principais títulos: Libertadores (2011), Copa América (2019), Campeonato Português (2012 e 2013) e Campeonato Italiano (2016, 2017, 2018, 2019 e 2020)
Nome: Alex Nicolao Telles
Nascimento: 15/12/1991
Local: Caxias do Sul (RS)
Posição: lateral-esquerdo
Número da camisa: 16
Clube: Sevilla (ESP)
Estreia na Seleção: 23/3/2019 - Brasil 1 x 1 Panáma - Amistoso
Minutos em campo: 453
Convocações: 15 — Jogos: 8
Primeiro gol: Não marcou
Participações em Copas: estreante
Principais títulos: Campeonato Português (2018 e 2020) e Campeonato Turco (2015)
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