Ronaldo Fenômeno, hoje empresário bem-sucedido, gestor do Cruzeiro e do Valladolid, deu uma pausa em seus negócios para revisitar a sua brilhante e também acidentada trajetória no futebol. Mais de uma década após sua aposentadoria dos gramados, um dos maiores camisas 9 da história estrela "Ronaldo, O Fenômeno", documentário exibido a partir desta sexta-feira, dia 21, no Globoplay.
Com pouco mais de 1h30min de duração, o longa mostra imagens inéditas de Ronaldo com foco no surgimento do jogador no Cruzeiro, na ascensão meteórica na Europa, na dramática convulsão horas antes da final da Copa do Mundo de 1998, na grave lesão no joelho que quase custou a sua carreira e na reviravolta pouco vista na história do esporte com a jornada brilhante que resultou no pentacampeonato mundial em 2002.
"Foi uma espécie de sincronia entre a minha memória e o que a gente encontrava de material", resume Ronaldo, em conversa com jornalistas em uma das salas de cinema em um shopping em São Paulo onde foi exibido o filme e nas quais estavam convidados ilustres, como Galvão Bueno e Faustão. Ex-jogadores e jogadores, casos de Paulinho, do Corinthians, e Raphael Veiga e o jovem Endrick, do Palmeiras, também foram chamados para ver o documentário.
"Algumas imagens fortes, a ruptura total do tendão do joelho contra a Lazio, por exemplo, eu tenho dificuldade de assistir, mas as outras são mais tranquilas", diz, lembrando-se do rompimento do tendão patelar do joelho direito em abril de 2000.
O estalo no momento da rara e grave contusão foi visto com dor pelo Fenômeno, mas a convulsão dramática no quarto do hotel que dividia com Roberto Carlos no Mundial de 1998 ele assistiu com tranquilidade. Inclusive, partiu dele a ideia de deixar o ex-lateral e amigo detalhar o episódio, já que foi ele o único a ver a cena e o primeiro a chamar os médicos.
"Não queria que fosse eu contando. Achei que ficou bem bacana essa conversa com ele porque ele transmite melhor o que aconteceu. Ele ficou bem assustado. E assim também esclareço de forma natural, sem tabu, o que ocorreu. Essa foi mais ou menos a ideia", explica.
Ronaldo, cabe lembrar, sofreu uma convulsão no banheiro do hotel em que estava hospedada a seleção brasileira no momento em que raspava a cabeça. Apagou e só recobrou a consciência três minutos depois. Ele fez exames e pediu para jogar a decisão contra a França. No entanto, o caso afetou a seleção, que foi dominada pelos franceses e viu o título escapar.
José Luiz Runco, médico da seleção à época, acreditava que o forte estresse a que Ronaldo estava submetido foi o propulsor da convulsão. O ex-atacante entende que aquela dramática situação que motivou inúmeras teorias da conspiração foi importante para que os atletas passassem a dar atenção à saúde mental.
"Na época, quando tive convulsão, não se falava sobre a saúde mental dos atletas. Não havia essa preocupação. Era uma geração diferente, criada de uma certa forma no militarismo. Muitos preparadores físicos eram quase que generais. A gente tenta mostrar no filme como essa parte é fundamental. A geração de hoje tem essa preocupação com a saúde mental, o que é importante", relata Ronaldo.
Roberto Carlos não é o único a falar. O filme tem depoimentos de grandes figuras do futebol mundial. Romário, Zidane, Paolo Maldini, Diego Simeone e Christian Vieri são alguns deles, além de Sônia dos Santos, mãe do Fenômeno, e do técnico Luiz Felipe Scolari.
Como adiantou o Estadão em julho, Ronaldo lançou o primeiro de uma série de documentários com a participação de sua produtora, a Beyond Films - em associação com a Fifa+, DAZN Studios e Zoom Sports. A próxima produção da produtora trata dos bastidores da campanha do Cruzeiro que culminou no retorno à elite do futebol brasileiro.
Boa parte do material foi produzido e captado pela startup de mídia e conteúdo do empresário, que agora está contando uma nova história fora dos gramados. "Há dez anos parei de jogar disposto a escrever outra história. Estou escrevendo essa nova história na mesma indústria, que é o futebol. E tem muita coisa que ainda quero contar", promete.
A resiliência para superar as lesões, os títulos e, principalmente, o talento descomunal fazem Ronaldo ser admirado até hoje. Karim Benzema, eleito melhor do mundo nesta semana, citou o Fenômeno como sua grande referência ao lado de Zidane mais de uma vez em seu discurso na premiação em Paris.
Para Ronaldo, "é como passar o bastão" para as novas gerações. "Me sinto orgulhoso de, além de ter feito meu trabalho em campo e servir de inspiração para esses jovens, vejo que essa mensagem está continuando e com pessoas incríveis, como o Benzema".