Adílio é um nome incontestável na história centenária do Flamengo. Multicampeão nos 12 anos vestindo rubro-negro, incluindo três títulos da Série A do Campeonato Brasileiro, um da Libertadores e um Mundial, o volante virou ídolo pela habilidade, pela criatividade e por incorporar o espírito da torcida em campo. Terceiro nome com mais jogos pelo clube, atrás apenas de Júnior e Zico, é referência, também, pela postura íntegra nos gramados. Prova disso foi passar a carreira sem ser expulso.
Exemplo para crianças, Adílio tem conhecimento para transmitir com a experiência acumulada na vida dedicada ao esporte. O ídolo cumpre a missão como padrinho da Academia FAP. Em parceria com o Correio, a 15ª edição do projeto será em Brasília em 12 e 13 de novembro. Na sexta-feira, o contrato de colaboração foi assinado por Guilherme Machado, vice-presidente dos Diários Associados, Flávio Pimentel, comodoro do Iate Clube — onde o camping acontece — e Éliton Perini, gestor da FAP Eventos Esportivos.
Ao Correio, Adílio destaca a importância social da Academia FAP no impulsionamento do sonho de meninos e meninas de vingar no esporte. "Muitas vezes, os garotos gostam, sonham, acreditam, dão sequência no trabalho e chegam até a ser um atleta profissional", diz. O ídolo rubro-negro ainda vibrou pelo momento do Flamengo, finalista da Copa do Brasil e da Libertadores, mostrou confiança no hexa da Copa do Mundo e defendeu um técnico brasileiro após a saída de Tite.
Como avalia a participação em projetos como a Academia FAP?
É muito importante. A parte social, a garotada junta, cada um do seu bairro. É um dia especial para eles estarem juntos fazendo algo que todo mundo gosta: jogar futebol. A inclusão com os profissionais que vão estar lá trabalhando. Eles fazem um trabalho de qualidade. Muitas vezes, os garotos gostam, sonham, acreditam, dão sequência e chegam até a ser um atleta profissional.
O que gosta de transmitir para as crianças?
Eu conto até uma história de criança, em que eu sonhava um dia ser jogador. Uma época totalmente diferente de hoje. Para ser profissional, era conflituoso. Os pais diziam 'tem que trabalhar'. O esporte ultrapassou barreiras. Ele educa. Hoje, o mundo está voltado ao esporte. De uma maneira geral, aqueles que começaram a praticar tiveram certa dificuldade. Tento passar para eles que é muito importante. É saúde, é criatividade, é cultura. Eles entenderem que, realmente, quando entra para esse mundo, precisa manter. Até hoje, com 66 anos, dou aula, jogo tênis, ando de bicicleta, dou minha corrida, jogo meu futebol. O esporte entrou na minha vida quando criança e permanece.
O que os meninos e as meninas costumam te perguntar?
É muita curiosidade. "Você sonhava em ser um grande jogador?" Quando tem o sonho, precisa ser uma pessoa diferenciada buscando uma maior qualidade. E aí entra o suporte dos pais. É o café da manhã, que a criança precisa começar a entender a importância, e a disciplina também suprema. Na minha carreira de futebol, eu tive poucos cartões amarelos e nunca fui expulso. Essa disciplina é importante. Entender o que é o esporte. Precisa ser uma pessoa bem tranquila.
Quem tieta mais? As crianças ou os pais que te viram jogar?
Os pais (risos). Quando veem o filho pertinho daquele jogador que ele gostava no Maracanã, por meio do rádio. É muito importante os pais chegarem ali, querer bater foto e contar para o filho. Hoje, com a internet, coloca o nome e descobre a nossa vida. É uma coisa legal e satisfatória.
Como vê o momento atual do Flamengo? O time tem duas finais importantes nos próximos dias…
Com a maior grandeza. O trabalho não começou agora. Foi lá atrás. Eu, quando criança, pensava em ser profissional e fazer isso e aquilo. O grupo é maravilhoso. Quando a gente vê um grupo desse, fortalecendo aqueles seus pensamentos, é só gratidão. Até hoje eu trabalho no Flamengo.
Há comparação entre a sua geração e a atual?
Costumo dizer que somos uma família rubro-negra com espaço para todo mundo. São gerações totalmente diferentes. O nosso futebol naquela época era extremamente diferente. A gente gostava de atacar o tempo todo. Hoje, o pessoal pensa um pouco mais, volta a bola para trás. Eu não gosto disso. Decidir logo, né? Eu fui criado no futebol de salão, assim como Zico, Júnior, Nunes, Uri Geller. Para a gente, é decidir logo. Então, a gente foi totalmente diferente. O Flamengo tem poder ofensivo muito grande. Dois jogadores nossos (Gabigol e Pedro) fizeram bastante gols e são artilheiros natos. Nós éramos muito apressados. Eles são muito devagar. Se não decidir, dá chance para o azar. Quando isso acontece, você perde o jogo. A gente não gostava de dar chance para o azar. Quem sabe faz a hora e não espera acontecer.
Você jogou em Guayaquil, cidade da final da Libertadores. O que os jogadores podem esperar da torcida?
Todos são flamenguistas. Quando eu jogava lá, tinha muito torcedor flamenguista. Como jogador do Flamengo, o pessoal gostava muito. Eu ia orientar os jogadores da minha época, e a gente fazia um futebol parecido. Fico feliz que o Barcelona hoje tem um futebol de toque de bola. Até o jogo contra o Flamengo (em 2021) eu vibrei porque eles tiveram um desempenho muito bom. Para a minha felicidade, o Flamengo ganhou o jogo.
Falando de Copa do Mundo, como você vê o trabalho da Seleção Brasileira? Acredita no hexa?
Com muita qualidade. Temos jogadores jovens e bem qualificados dentro do nosso país e lá fora também. Formamos quase uma seleção que joga fora com muita qualidade. Todo mundo mostrando isso. Eu estou muito satisfeito e à vontade para dizer que vai ser um comportamento muito bom na Copa do Mundo visando o título mundial.
O Tite está de saída… Quem acha que deve substituí-lo?
Precisa ser um treinador brasileiro. Temos o melhor futebol do mundo. Quando você olha o europeu, vê que foi tudo copiado daqui. A autenticidade, um futebol maravilhoso que eles têm jogado. Mas tudo nasceu no Brasil. A cada ano, surgem novos talentos. Tem o exemplo do Vinícius Júnior, garoto que nasceu no Flamengo. Hoje, ele é um dos melhores do mundo no Real Madrid. Te digo que temos o melhor futebol do mundo.
De forma geral, o que o futebol representou ao longo da sua vida?
Representa tudo. Fez com que eu formasse uma grande família. Eu sou grato pela imensa torcida do Flamengo, das outras equipes também, botafoguenses, vascaínos. Sempre retratam aquele time maravilhoso. Para mim, é tudo. Eu fui jogador, treinador no Flamengo, revelei bastante jogador. Um deles é o Renato Augusto, do Corinthians (adversário do Flamengo na final da Copa do Brasil). Então, a gente fica feliz. Tanto dentro quanto fora do campo, a colaboração sempre foi 100%.