Ganhador de cinco Bolas de Ouro como melhor jogador do mundo, autor de mais de 800 gols na carreira e vencedor de cinco títulos da Liga dos Campeões, o atacante Cristiano Ronaldo agora é reserva do Manchester United. É um paradoxo explicado pela forma de atuação do time inglês, com marcação sob pressão e muita movimentação, e pela ausência do craque na pré-temporada, quando bateu o pé para sair.
Aos 37 anos, o jogador português sente o dissabor de olhar seus companheiros se aquecendo ou tirando fotos para os jogos enquanto ele caminha desinteressado para o banco de reservas nas partidas do Campeonato Inglês. Antes, as câmeras estavam em seu rosto por outro motivo. Cristiano Ronaldo nunca viveu esse sentimento em sua plenitude. Nesta temporada, tem sido frequente ele ficar no banco.
Em um jogo cada vez mais intenso, com busca incessante pela recuperação da bola, Cristiano Ronaldo tem dificuldades para se adaptar. Sem o português, a equipe de Manchester é mais dominante, especialmente na marcação. O time corre mais sem ele. Nos nove jogos em que Cristiano não foi titular na Premier League até agora, o United percorreu em média 120 quilômetros. Com ele, a média cai para 99 km. Na visão do treinador, a melhor atuação do time na temporada foi exatamente o triunfo sobre o Tottenham por 2 a 0. Sem CR7.
Quando os anos chegam, é natural que um jogador perca espaço e pense na hora de parar. Cristiano Ronaldo, por ora, caminha na contramão dessa decisão. Ele diz que não pretende parar depois da Copa do Mundo do Catar. Ainda sonha disputar por Portugal a próxima Eurocopa, a ser jogada em 2024, na Alemanha.
O jornalista David Carvalho, da Rádio e Televisão de Portugal (RTP), destaca a questão física. "Cristiano não fez a pré-época (pré-temporada) e isso teve reflexos na forma como (o técnico) Erik Ten Hag entendeu gerir a situação do capitão da seleção portuguesa", opina.
O próprio treinador havia dado essa justificativa em setembro. Cristiano Ronaldo se apresentou com atraso para a pré-temporada, alegando problemas pessoais. Praticamente um mês depois, o craque continua no banco. "Ele não esteve na pré-temporada e não se pode perder a pré-temporada. É a base de tudo, principalmente pela forma como jogamos. Exige cooperação e posicionamento certo, com ou sem bola", afirmou.
Cristiano Ronaldo tem dois gols em 12 jogos nesta temporada, apenas seis deles como titular, sendo quatro na Liga Europa e dois na Premier League. O time fez 14 partidas no total na temporada até agora. O craque não frequentava o banco de reservas tantas vezes assim desde sua segunda temporada de sua primeira passagem no Manchester United, quando tinha 20 anos.
O astro de 37 anos não está confortável com a reserva. E deixou isso claro quando abandonou o jogo diante do Tottenham aos 44 minutos do segundo tempo na quarta-feira, dia 19. Por causa da indisciplina, o atacante acabou barrado da partida seguinte, diante do Chelsea (1 a 1). Foi a segunda vez no torneio inglês em ele que não foi escalado. Na outra, na derrota por 6 a 3 no clássico com o Manchester City, o técnico Erik ten Hag afirmou que ele não havia sido escalado na goleada por "respeito à sua carreira".
Carvalho explica que o início dos problemas foi o desejo de Cristiano Ronaldo de sair antes do início da temporada para disputar a Liga dos Campeões em outro clube. Isso pegou muito mal. Como os mais ricos da Europa rejeitaram um acordo, e os outros são incapazes de pagar seu salário, o português acabou ficando para cumprir o último ano de seu contrato.
Nos bastidores do clube inglês, existe a esperança de que ele faça uma boa Copa do Mundo pela seleção portuguesa para que possam surgir clubes interessados no atacante na janela de janeiro. No Manchester United, ninguém acredita que ele sustente essa condição por mais tempo. Alguns comentários dão conta de que ele nem volte mais depois da Copa. O fato é que Cristiano Ronaldo vive situação pela qual outros craques não passaram. Messi não foi o mesmo do Barcelona no PSG, mesmo assim não ficou no banco esperando o treinador lhe chamar, como fazem os reservas.
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