Barcelona, Espanha- Neymar apenas assinava os documentos indicados pelo pai e este não fez nada de ilegal: o craque brasileiro e sua família se defenderam, nesta terça-feira (18/10), no julgamento por supostas irregularidades cometidas em sua polêmica transferência do Santos para o Barcelona em 2013.
"Eu assino o que ele manda", afirmou Neymar em uma breve declaração durante as perguntas dos representantes do Ministério Público e de sua advogada.
O atacante do Paris Saint-Germain, de 30 anos, chegou ao lado dos pais, também processados, ao tribunal de Barcelona, cenário desde segunda-feira do último capítulo da saga judicial provocada por sua transferência para o clube catalão há quase uma década.
O presidente do tribunal, que na sessão de segunda-feira autorizou o jogador a deixar o local antes do fim da audiência por estar cansado depois de disputar uma partida no domingo à noite, também permitiu a antecipação do depoimento do camisa 10 da seleção brasileira para esta terça-feira.
Com um calendário apertado, o jogador, que dentro de um mês vai liderar o Brasil na Copa do Mundo do Catar, e sua família poderão retornar a Paris ainda nesta terça e participar nas conclusões do julgamento, previstas para 31 de outubro, por videoconferência.
Neymar afirmou que não lembra se participou nas negociações com o Barça em 2011, um dos pontos centrais do caso, que pretende determinar se o grupo DIS, fundo de investimentos que na época tinha parte dos direitos econômicos do atleta, foi vítima de fraude durante a operação.
"Sempre foi meu pai que cuidou de tudo, sempre foi responsável por isso", disse.
O sonho dele, afirmou, sempre foi jogar no Barça e por este motivo priorizou a oferta do clube catalão em detrimento de outras equipes, como o Real Madrid.
"Neymar nunca participa das negociações", afirmou pouco depois o pai, Neymar da Silva Santos, que revelou ter recebido propostas do clube de Madri desde 2009.
- Valor oculto -
Acusado do crime de corrupção empresarial, o Ministério Público pede para Neymar dois anos de prisão e o pagamento de multa de 10 milhões de euros.
Seus pais, os ex-presidentes do Barcelona, Sandro Rosell e Josep Maria Bartomeu, e o ex-presidente do Santos, Odílio Rodrigues Filho, também são processados, assim como três pessoas jurídicas: FC Barcelona, Santos FC e a empresa fundada pelos pais do jogador para administrar sua carreira.
Todos são acusados pelo fundo de investimentos DIS - que pertencia ao grupo brasileiro de supermercados Sonda - pela suposta ocultação do valor real de sua transferência para o Barça por meio de vários acordos dos quais o grupo ficou de fora.
O FC Barcelona anunciou em um primeiro momento que a contratação de Neymar custou 57,1 milhões de euros (40 milhões para a família e 17,1 para o Santos), mas a justiça espanhola calculou que a operação custou ao menos € 83 milhões.
O DIS, que adquiriu 40% dos direitos econômicos do jogador em 2009, recebeu 6,8 milhões de euros dos 17,1 pagos oficialmente ao clube brasileiro.
Por considerar-se duplamente prejudicado, tanto por não ter recebido sua parte da transferência real quanto pelo contrato de exclusividade assinado por Neymar e o Barça em 2011 - que impediu outros clubes de disputar a contratação do atacante -, o fundo DIS pede a restituição dos 35 milhões de euros que calcula ter perdido.
Como acusação particular, pede ainda cinco anos de prisão para o jogador, Rosell e Bartomeu, além de multas milionárias.
Mas o pai de Neymar argumentou que não era trabalho dele informar ao DIS sobre as negociações que considerava lícitas e autorizadas pelo clube brasileiro por meio de uma carta emitida em 2011.
"Era responsabilidade do Santos", afirmou Neymar da Silva Santos.
- Os jogadores vão para onde querem -
Convocado para prestar depoimento, o presidente do Real Madrid, Florentino Perez, foi conciso.
Ele confirmou que em 2011 o clube merengue ofereceu 45 milhões de euros por Neymar, mas disse que não participou nas negociações e que, em última análise, "os jogadores (...) vão para onde querem e neste caso eu acredito que Neymar queria ir para o Barcelona".
Este processo conhecido como "Neymar 2" provocou o retorno aos tribunais da polêmica operação que já levou o Barça a pagar uma multa de 5,5 milhões de euros por irregularidades fiscais.
A turbulenta história entre o clube espanhol e o brasileiro provocou outras crises, incluindo sua saída abrupta em 2017 para o PSG. Várias ações judiciais foram iniciadas até o ano passado, quando os dois lados chegaram a um acordo "amistoso" para encerrar todos os processos pendentes.
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