Dentro da idiossincrasia do futebol argentino, chama-se “Pipa” ao matador, ao artilheiro, ao goleador. Em toda a história da Terra da Prata, tão poucos foram reconhecidos e aclamados com tal apelido como Gonzalo Higuaín, que anunciou a aposentadoria do futebol nesta segunda-feira (3/10), aos 34 anos. A despedida será após a disputa das duas rodadas finais da Major League Soccer (MLS, a liga dos Estados Unidos), a serviço do Inter Miami.
Mesmo nascido na cidade francesa de Brest, seu coração seguiu o lado paterno na profissão e na alma. Jorge, pai de Gonzalo, era argentino e foi zagueiro de clubes como Boca Juniors, River Plate e San Lorenzo. O pequeno filho decidiu pela camisa celeste e branca e, desde cedo, foi formado para ser o centroavante da seleção argentina.
Tornou-se o quinto maior artilheiro de sua seleção nacional na história e teve sua primeira oportunidade em Copas do Mundo pelas mãos de Diego Armando Maradona, responsável por levá-lo após mostrar seu futebol em três temporadas no Real Madrid, em 2010, na África do Sul. Nessa trajetória, os gols em eliminatórias e Copas Américas faziam o nome de Higuaín cair nas graças do torcedor argentino.
Perto de casa, a Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, reservava, porém, um dos momentos mais tensos da vida do atacante. Seu único gol naquela edição foi fundamental para a classificação do time comandado por Alejandro Sabella às semifinais. Com um tiro de peito de pé, de fora da área, em tento solitário contra a Bélgica, no Mané Garrincha, em Brasília.
No entanto, oportunidade de gol não faltaria no jogo que mais o marcou em sua vida. Após a classificação nos pênaltis contra a Holanda, em São Paulo, a Argentina chegava à final diante da Alemanha dos 7 x 1 contra o Brasil. No Maracanã, com a camisa nove em tom azul-marinho e detalhes dourados, teve uma bola cara a cara com Manuel Neuer, após um recuo estranho de Toni Kroos e desperdiçou chutando mal, à esquerda do gol, com 20 minutos jogados.
Ainda assim, seis minutos depois, “El Pipa” fez explodir o maior palco do futebol brasileiro com o gol que poderia ser um dos mais importante da história do seu país, ao rematar um cruzamento vindo da direita para o fundo das redes. “Yo, yo, yo! (Eu, eu, eu!)", disse o centroavante, levando o dedo indicador de sua mão direita ao peito enquanto o grito de libertação argentina soava pelo Maracanã. O sonho era realidade, até o jogador ver a bandeira do auxiliar erguida e entrar em desespero interno.
Aos 10 minutos da etapa final, entretanto, o centroavante protagonizaria uma das maiores broncas dos hermanos com o futebol em todos os tempos: Higuaín recebeu lançamento pela direita, por trás da defesa, até ser abalroado pelo goleiro alemão Neuer. Um lance em que uma boa parte dos árbitros do mundo marcariam pênalti. Não foi assim com o italiano Nicola Rizzoli, que à época só tinha assistência virtual para situações de bola na linha de gol, uma novidade naquele Mundial.
Naquela tarde, o gol de Mario Götze daria o tetracampeonato à Alemanha e manteria a Argentina na fila de espera por títulos. Seu principal centroavante em campo, substituído na prorrogação para a entrada de Rodrigo Palacio, nunca foi campeão com sua seleção. Para completar a sina de azar em finais, ainda perdeu gols inacreditáveis nas duas finais contra o Chile nas decisões da Copa América em 2015 (errando o um pênalti nas cobranças finais) e em 2016.
Apesar de a sorte não o ter agraciado com uma taça pela albiceleste, o atacante mostrou gratidão eterna por defender seu país. “Vivi os melhores momentos da minha carreira com a seleção. Foi algo inimaginável, maravilhoso, inesquecível. Defender essa camisa é uma sensação única”, disse em sua conferência de imprensa para o anúncio da aposentadoria.
Na coletiva, “El Pipa” ainda lembrou de momentos iniciais da sua carreira no River Plate, quando ajudou a equipe a eliminar o Corinthians em pleno Pacaembu, pela Libertadores de 2006. “Ganhamos por 3 x 1 e eu fiz dois gols. Eu era muito jovem e joguei partidas importantes com apenas 17, 18 anos. Foram momentos emotivos para mim”, recorda.
Antes de chegar ao futebol norte-americano, Higuaín jogou também em Real Madrid, Napoli, Milan, Juventus e Chelsea. “Depois de 17 anos e meio de carreira como profissional, sinto que o futebol me deu muitíssimo. Agradeço a todos que confiaram em mim, chegou o momento de dizer adeus”, despediu-se.
*Estagiário sob supervisão de Danilo Queiroz
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