Com onze rodadas para o fim da Série B — a 28ª rodada começa nesta sexta-feira (2/9) —, o desenrolar do campeonato teve como destaque a facilidade de vitórias de quatro — dos seis times que já foram campeões brasileiros: Cruzeiro, Bahia, Vasco e Grêmio. Já o Sport Recife briga pelo acesso aos quatro primeiros que subirão para a Série A, enquanto o Guarani enfrenta apuros para não cair a Série C.
Desde a 13ª rodada, os quatro primeiros da Série B se mantém os mesmos: Cruzeiro líder, Bahia e Grêmio ajustados para subir depois de um rebaixamento não planejado e um Vasco que tem vivido de tudo (abandonado por Zé Ricardo, liderado por Nenê e em fase de transição com a nova SAF — Sociedade Anônima de Futebol).
Em meio a esse cenário, os considerados grandes clubes do Brasil estão tendo vida mais fácil na Série B, e a exigência da ordem econômica nas gestões dos times obrigou as diretorias a organizarem a vida organizacional dos times. Para explicar alguns pontos sobre as gestões, o Correio ouviu Leandro Mazzei, professor de Ciências do Esporte da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
O docente explica como a necessidade da organização financeira interfere nos clubes: “O que a gente tem visto na história é que, de fato, os clubes que têm maior poder financeiro, conseguem maior desempenho. Entretanto, a grande discussão é a sustentabilidade financeira. No passado tinha clube que gastava muito e ficava endividado ao longo dos anos. Não dá para sair contratando atletas renomados de uma vez para depois a dívida ser cobrada ao longo dos anos.”
Para Mazzei, a tendência de um bom clube profissional é a boa administração dos recursos financeiros. Ainda assim, o dinheiro não é o único quesito que importa quando a bola rola em um jogo de times expressivos. “Esses clubes têm um poder econômico maior que o restante da Série B, com torcidas relevantes e história, fazendo valer essas variáveis. O desempenho é multivariável, não dá para considerar um fator só para explicar, mas a economia tem uma força maior”, explica.
O especialista também comenta sobre os modelos de Sociedade Anônima de Futebol. “Ainda é muito cedo para dizer se é um determinante para que esses clubes tenham sucesso. Primeiro que estamos falando da Série B, que exige um nível de desempenho menor, segundo porque esses clubes têm muitas dívidas, então isso também é uma saída a curto prazo para sair disso, mas não a longo prazo. A SAF dá um tempo maior para a dívida ser paga pelos investidores, com uma quantidade de anos em que isso não precisa ser pago de imediato, mas uma hora esse prazo acaba”, adverte o professor.
Dos times posicionados entre os quatro que ascendem à primeira divisão, apenas o Grêmio não tem planos anunciados para este modelo. De acordo com o especialista, um clube não deve tornar-se empresa meramente para livrar-se de uma dívida de forma irresponsável: “Tem muito clube pretendendo se tornar SAF para escapar das dívidas a curto e médio prazo, alargando essa validade mas mantendo o problema. Quem vai pagar? O investidor, o clube ou ambos? Eis a questão.”
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Facilidade para uns, dificuldade para outros
Dos times que já foram campeões nacionais, Guarani e Sport Recife não estão no G4. O Sport se concentra em uma zona junto de alguns clubes que já estiveram na Série A, enquanto o Bugre está em penúltimo. Estes são alguns exemplos de clubes que já viveram constantemente na elite do futebol brasileiro, como Criciúma (campeão de Copa do Brasil) e Chapecoense (campeã da Copa Sul-Americana).
O Correio conversou com o Diretor Executivo de Futebol do Vila Nova, Carlos Frontini. A equipe goiana vai a Porto Alegre enfrentar o Grêmio, que não vence há quatro jogos e está a três pontos de sair do G4, enquanto o Vila está dentro da zona de descenso devido à diferença de três vitórias com o Brusque, uma vez que estão empatados em 28 pontos.
O representante fala sobre as dificuldades de gerir um clube no país: “Não é fácil fazer futebol no Brasil. Tirando de cinco a oito equipes, o resto das equipes sofrem financeiramente. A solução é tentar se reconstruir de campeonato em campeonato. Gestão leva tempo e eu acho que o imediatismo faz a diferença por aqui. Tudo tem que ser para ontem. Não há tempo ao tempo e futebol não é uma fórmula que se consegue aplicar e ter a certeza que vai dar certo, nem mesmo se fazendo tudo certinho.”
Frontini declarou que a paciência é necessária na hora de buscar os resultados desejados em um planejamento geral: “O espaço é conquistado com transparência e responsabilidade, mesmo que tenha um orçamento baixo. Isso sobretudo com quem está colaborando, para manter essas pessoas perto de você. A torcida no Brasil participa mais quando a equipe está numa situação confortável, brigando por acesso ou títulos e no caso contrário você dificilmente terá esse apoio.”
Além da pressão externa, o executivo aponta maus gestores como problema dentro dos clubes. “Estando na parte de cima da tabela, tudo é tranquilo e bem feito se estiver brigando pelo acesso e por títulos e tudo será bem aceito. A gente tem o exemplo europeu do time do Ronaldo, o Real Valladolid, que caiu em um ano mas manteve a convicção e conseguiu, no outro ano, o acesso. Será que vai haver esse tempo no Brasil também? E mais, mesmo com esse modelo, se deixarem aquelas mesmas pessoas que quebraram o clube tocar, vai quebrar como SAF também. Flamengo e Palmeiras se consertaram sem esse tipo de gestão.”, relatou.
Para o gestor do Vila Nova, a sociedade anônima de futebol é uma via inevitável para o futebol nacional. “A SAF ainda é uma coisa nova no futebol e a gente precisa ver, no decorrer do tempo, o que vai acontecer. Acho que isso é um caminho sem volta no futebol brasileiro, com todos endividados e temos que entender o clube de futebol como uma empresa: entendemos que tem a paixão por trás disso tudo, mas se se toca como clube, só tem prejuízo.”, diz.
*Estagiário sob supervisão de Ronayre Nunes
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