NEGÓCIOS DO ESPORTE

"Vasco da grana"? Entenda pontos da reestruturação do clube como SAF

Com o "sim" dos sócios, a 777 Partners trabalha para consolidar a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) cruzmaltina. Listamos por tópicos o que torcida do Gigante da Colina pode esperar (ou não) do mecenas em curto, médio e longo prazo enquanto luta para voltar à Série A do Brasileirão

Paulo Martins*
postado em 09/08/2022 22:20 / atualizado em 09/08/2022 22:23
 (crédito: Rafael Ribeiro/Vasco)
(crédito: Rafael Ribeiro/Vasco)

Quase 3,9 mil votos favoráveis em um universo de mais de seis mil sócios aptos instituíram, oficialmente, uma nova era no Vasco com a opção pela venda da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do clube de São Januário para a empresa 777 Partners. A nova fase vascaína começou na Assembleia Geral Extraordinária (AGE) do último domingo (7/8) com a aprovação da venda de 70% das ações do Vasco SAF para o grupo norte-americano, agora dono oficial do departamento profissional cruzmaltino. Novos e importantes passos do processo devem ser dados nos próximos dias.

Quando a empresa do futebol vascaíno for registrada, o grupo de investimento terá controle majoritário sobre as decisões do futebol do cruzmaltino nos gramado. Com parceria com outros clubes no futebol europeu, como Genoa, da Itália, e Sevilla, da Espanha, a 777 Partners promete um investimento de R$ 700 milhões no clube carioca. O valor seria usado no pagamento de dívidas do Vasco e em investimentos na equipe. Os outros 30% da empresa permanecem com a associação civil.

Mas, na prática, o que deve mudar e permanecer no Vasco depois dos movimentos jurídicos e financeiros para o clube deixar de ser uma associação sem fins lucrativos e passar a funcionar como uma sociedade anônima do futebol? Para responder a isto, o Correio preparou uma análise com pontos centrais que envolvem diretamente o dia a dia do clube e podem mudar na nova gestão.

Expectativas e curto prazo

A empolgação da torcida vascaína, nutrida pela esperança de dias melhores, deve ser acompanhada de paciência. “O processo de criação de uma SAF é complicado e requer muitas etapas”, afirmou o principal acionista da 777 Partners, Josh Wander, em pronunciamento aos torcedores. Claramente, antes de sonhar com um Vasco poderoso, é necessário ascender à Série A do Campeonato Brasileiro e não esperar títulos de imediato.

Neste primeiro momento, o fundamental é equilibrar a ordem interna e as contas do clube, para que, uma vez organizada, a saúde da instituição fora de campo beneficie as ações dentro das quatro linhas. De agora em diante, o time carioca funciona como uma empresa. No momento, o clube tramita para abrir um CNPJ e uma conta bancária. Além disso, é necessário alterar a forma de atuação na Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Quando o dinheiro entra no Vasco?

Parte do aporte de R$ 700 milhões caiu nos cofres do Vasco em março. Na ocasião, a 777 Partners antecipou R$ 70 milhões a título de empréstimo-ponte. O processo foi aprovado pelo Conselho Deliberativo. Ainda em 2022, a empresa norte-americana deve injetar mais R$ 120 milhões no clube carioca. O restante do dinheiro da venda da SAF será investido no cruzmaltino até 2026. No ano seguinte, os aportes estarão aliados ao desempenho esportivo.

O elenco vai ser qualificado?

O aporte inicial da 777 Partners, à priori, não significa a obtenção de um elenco dos sonhos, recheado de estrelas. Esse é um ponto-chave nos primeiros instantes de transição, sobretudo para a próxima temporada (com o cenário virtual de um acesso, uma vez que o Vasco está cotado para subir e ocupa, de momento, o 4º lugar na Série B). Os nomes de jogadores recém-chegados — alguns nem tão conhecidos pelo torcedor comum — fazem parte dessa lógica.

No entendimento da 777 Partners, o grupo atual é suficiente para cumprir o objetivo de tirar o clube da segunda divisão. Além disso, a janela de transferências internacionais fecha na próxima segunda-feira (15/8), impossibilitando, por exemplo, a inscrição de reforços contratados de clubes do exterior,

Crescimento gradual

A SAF, em si, não deve ser algo de brilhar aos olhos dos torcedores de cara. A necessidade de aguardar, pelo menos, alguns meses vem no exemplo de outra SAF em momento de transição no pós-acesso à Série A. O Botafogo sofre com oscilações, mas não tem ameaças de momento nos seus planos a curto prazo: reforça gradualmente o elenco e entende que deve ser dado um passo de cada vez para chegar a competir com as principais potências do futebol nacional e sul-americano. Logo, não dar um passo maior do que a perna também pode ser importante para o Vasco.

Ordem interna

Embora a iniciativa da sociedade anônima de futebol exista, o clube não deve ter, necessariamente, o comando tomado pela SAF. Mesmo com o departamento de futebol liderado pela 777 Partners, outros órgãos internos do Vasco (como os conselhos) e a torcida devem ter sua voz, sobretudo em uma agremiação historicamente ativa em manifestações sobre a política interna. No pronunciamento de Josh Wander aos vascaínos, o acionista disse não ter vindo para mudar o que foi construído pela história do Vasco, mas seguir a escrevê-la. O tempo responderá se essa tendência seguirá.

São Januário será reformado?

Assunto recorrente entre os vascaínos, um upgrade em São Januário chegou a ser considerado logo nas primeiras semanas da aproximação da 777 Partners com o clube. O cruzmaltino chegou a apresentar um projeto para os executivos norte-americanos em março. Porém, até onde se sabe, não há obrigação da SAF de realizar intervenções no estádio. Na prática, o espaço segue sendo gerido pela associação civil do Vasco. Caso haja uma reforma na cancha vascaína, o time ainda teria onde jogar. Em clima bélico com a administração da dupla Flamengo e Fluminense, o cruzmaltino procura meios de participar da licitação do Maracanã, prevista para o segundo semestre do ano.

 

*Estagiário sob a supervisão de Danilo Queiroz

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação