Descalibrados

Nossa Senhora dos Cobradores de Pênalti tirou férias dos melhores batedores do país. Quase endeusados nesse fundamento, Gabriel Barbosa, Hulk, Raphael Veiga e Fábio Santos conheceram o inferno recentemente em chutes da marca da cal. Todos desperdiçaram pelo menos uma cobrança no primeiro semestre desta temporada. Os goleiros finalmente se agigantaram diante deles e a trave diminuiu em jogos de competições relevantes no calendário nacional e internacional. A 15ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro começa hoje testando novamente o calibre e o resgate da confiança de pés decisivos.

O quarteto de melhor aproveitamento do país surpreendeu até mesmo quem está mal acostumado a produzir vídeo do gol na arquibancada ou celebrá-lo antecipadamente na frente da tevê ou do aparelho celular.

Mais competente da turma, Raphael Veiga tem 96% de aproveitamento na cobranças de pênalti. Pelo Verdão, ele acumula 25 batidas e 24 convertidas. O desempenho (quase) perfeito está na conta do Santos, ou melhor, da trave da Vila Belmiro. No clássico contra o Peixe, em 29 de maio, Veiga tinha a responsabilidade de inaugurar o placar e abrir o caminho para assegurar a liderança do Brasileirão. O meia até deslocou o goleiro João Paulo, mas o destino não permitiu a comemoração no território alvinegro. Como tem um timaço, o atual bicampeão da Copa Libertadores da América contornou o imprevisto. Venceu com gol do zagueiro Gustavo Gómez e assumiu a dianteira da tabela.

"Goleiro nenhum ainda pegou meu pênalti, acertei a trave. Mas, brincadeiras à parte, uma hora ia acontecer. Não adianta ficar lamentando. Nem sempre vou fazer gol e acertar, mas o importante é estar bem", disse depois do clássico paulista.

Quem também não estava acostumado a desperdiçar oportunidades é o lateral-esquerdo Fábio Santos. Em partida importante contra o Deportivo Cali, na Colômbia, pela Libertadores, o jogador do Corinthians bateu mal, por cima do gol, e não converteu uma penalidade oito anos depois da falha isolada contra o Fluminense, na goleada por 5 x 2, pelo Brasileirão de 2014. Um pouco mais de capricho do defensor e cobrador oficial do alvinegro teria resultado em uma sequência mais tranquila na competição continental. No entanto, para a alegria da Fiel, contra o Goiás, em 19 de junho, ele acertou o pé e fez, de pênalti, o gol da vitória sobre o Esmeraldino, no Serrinha, em Goiânia.

Dono de repertório variado, Gabriel Barbosa é sinônimo de bola na rede. Uma tormenta para os adversários nos tiros de 11 metros. Das 35 penalidades cobradas desde a chegada ao Flamengo, em 2019, ele encaçapou 32. No entanto, deu ruim em 25 de junho: Gabigol perdeu. Depois de abrir o caminho para a vitória por 3 x 0 contra o América-MG, o o atacante colocou a bola debaixo do braço, deu a tradicional deslocada no goleiro, mandou a pelota pela linha de fundo e deixou o campo sob vaias no Maracanã. Assim como Raphael Veiga, ele pode se dar ao luxo de dizer que nenhuma cobrança dele foi defendida pelos goleiros.

"Estava 1 x 0, gol meu, erro pênalti e sou vaiado. Agora completei o álbum, todas as torcidas do Brasil me vaiaram. Eu treino bastante, vai acontecer de eu errar. Quando erro, sei que preciso melhorar", reconheceu um aborrecido artilheiro rubro-negro.

Artilheiro do Brasil no ano passado, Hulk não costuma decepcionar os torcedores do Galo. Porém, quando o assunto é pênalti, o camisa 7 não tem dado sorte nos torneios nacionais e azar na agenda internacional. Desde que chegou ao Atlético-MG, ele cobrou 22 pênaltis e converteu 19. Porém, os desperdiçados pesam muito na conta. Todos foram no grande objetivo do clube: a Libertadores. Em 2021, carimbou a trave contra Boca Juniors e Palmeiras. Na semana passada, quando tinha as chances de colocar o time em vantagem nas oitavas de final continental contra o Emelec, esbarrou no goleiro e viu a chance de vitória com um jogador a menos ruir no Equador. "Perdi, mas só perde quem bate. No próximo vou bater novamente", rebateu o atacante

*Estagiário sob a supervisão
de Marcos Paulo Lima