Pode parecer que não, mas técnicos de futebol têm tempo para leitura. Dorival Silvestre Júnior curte literatura. Quando o profissional de 65 anos assumiu o Flamengo, em 11 de junho, contra o Internacional, a reportagem do Correio perguntou ao novo comandante rubro-negro qual é o livro de cabeceira da vez. Ele respondeu que não era sobre tática ou biografia de colega famoso. Muito menos algum tema específico sobre o esporte mais popular do mundo: "O poder do hábito", revelou.
O Flamengo perdeu por 3 x 1, em Porto Alegre. Depois da estreia, o treinador diagnosticou um dos problemas do elenco e repetiu mais de uma vez. "Nós temos que mudar o comportamento, fazer algo diferente." Coincidentemente, o terceiro capítulo do livro é intitulado: "A Regra de Ouro da Mudança de hábito: por que a transformação acontece". Publicada em fevereiro de 2012, a obra de Charles Duhigg, ex-repórter do The New York Times, ajuda a explicar a evolução do Flamengo desde a troca do treinador português Paulo Sousa por Dorival Júnior.
Embalado pelas classificações para as quartas de final da Libertadores e da Copa do Brasil contra Tolima e Atlético-MG, respectivamente,o Flamengo enfrenta o Juventude, hoje, às 20h30, no Mané Garrincha, em um acelerado processo de transformação anímica, técnica, tática e desejo pelo sucesso.
Algo semelhante à revolução iniciada pelo treinador Tony Dungy quando assumiu o Tampa Bay Buccaneers, em 1996. A franquia da Flórida acumulava 16 temporadas de vexames na NFL — a liga profissional de futebol americano. Dungy convenceu os proprietários do time a contratá-lo com o discurso de que "o segredo da vitória era mudar os hábitos dos jogadores". Convicto do que desejava, incutiu um discurso na mente dos liderados: "Os campeões não fazem coisas extraordinárias. Fazem coisas ordinárias, mas as fazem sem pensar, rápido demais para o outro time reagir. Seguem os hábitos que aprenderam", ensinava.
O time evoluiu. Voltou a figurar nos playoffs. Disputou o mata-mata por 10 temporadas consecutivas. Foi de chacota a campeão do Super Bowl em 2002 — o primeiro dos dois títulos do Buccaneers. O técnico havia sido demitido em 2001, porém o time campeão usava a mesma formação e jogadores do "Sistema Dungy".
O treinador conquistaria o primeiro Super Bowl pessoal em 2007, à frente do Indiana Colts. Além da honra de ser o primeiro técnico afro-americano a vencer a NFL, Dungy tornou-se um dos mais respeitados no esporte profissional dos Estados Unidos.
Questionado pelo Correio se trechos do livro explicam a mudança de hábito do Flamengo, Dorival Júnior assume que sim, mas pondera: "Ainda que tenha um capítulo específico e orientador, equipes têm pequenos problemas que são particulares, tentamos atacar de todos os lados. O principal não são os problemas detectados, mas as soluções propostas, e que os atletas acreditem no que foi proposto", prega Dorival Júnior.
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