Futebol

Uniformes LGBT+ de Bahia e Vasco são sucesso nas arquibancadas

As camisas tornaram-se peças históricas e de simbolismo para os torcedores do clube, Fábio Porchat e Teresa Cristina foram alguns dos famosos que utilizaram a camisa

Agência Estado
postado em 28/06/2022 14:10 / atualizado em 28/06/2022 14:21
 (crédito: Reprodução/Instagram/@vascodagama/Daniel Ramalho)
(crédito: Reprodução/Instagram/@vascodagama/Daniel Ramalho)

Poderia ser só mais um gol de Germán Cano pelo Vasco. Mas o argentino ficou marcado por uma comemoração na vitória por 2 a 1 sobre o Brusque em 2021, em que os três pontos conquistados pouco serão lembrados na história. Foi a primeira partida do clube em que os jogadores utilizaram um uniforme em apoio à população LGBT+ em 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT. Além disso, na celebração do gol, o atacante ergueu a bandeirinha de escanteio, nas cores arco-íris, em um gesto que viralizou nas redes sociais. Desde então, a comercialização da camisa foi um sucesso nas arquibancadas de São Januário.

O mesmo fenômeno aconteceu com a do Bahia, nos jogos na Arena Fonte Nova, que foi lançada meses antes. A reportagem do Estadão conversou com vários torcedores dos dois clubes que usaram o uniforme em partidas nos estádios brasileiros e nenhum relatou qualquer problema de discriminação.

"A camisa se tornou uma peça muito histórica para nós do Bahia. Estamos sem lote até. Ela é muito mais vendida pelo mercado informal em vários pontos de Salvador. Muita gente ainda procura e estamos tentando ver se faremos um novo lote. A camisa é da nossa torcida e o clube autorizou o uso e depois passou a vender na loja oficial. Todos usam sem qualquer importunação", explica Onã Rudá, fundador da LGBT Tricolor, que lançou a camisa em parceria com o clube baiano. O Bahia registrou mais de 500 vendas de camisas.

Para realizar a série de ações no ano passado, o Vasco consultou o grupo Vasco LGBTQ+ para saber o que o coletivo achava das ideias e se tinha sugestões para contribuir com o projeto. "Participamos de uma reunião com o Horácio Júnior (vice-presidente de Responsabilidade Social e História), eles foram extremamente incríveis com a gente. Ajudamos a escrever o manifesto. A instituição esteve muito aberta e disposta a entender nosso local de fala e nossas opiniões. A gente se sente seguro no estádio com tantas camisas coloridas pela torcida, inclusive é bem emocionante ver tantos torcedores usando com tanto orgulho, saber que torcedores de outros times também quiseram comprar nossas camisas para mostrar apoio e respeito é muito gratificante", explica a torcedora Beatriz França.

O diretor de Relações Públicas do Vasco, Marcus Pinto, lembrou a importância da defesa das causas sociais na história do clube e destacou que a camisa LGBT+, que teve mais de 20 mil unidades vendidas, foi abraçada pela torcida. "A camisa foi e é um sucesso de vendas e os torcedores a utilizam sem qualquer problema. Não temos um ranking de camisas mais vendidas, mas essa já ultrapassou a marca de 20 mil unidades. A história do Vasco se confunde com a história de lutas a favor de causas sociais, como a Resposta Histórica de 1924 contra o racismo, e no caso específico da camisa não poderia ser diferente", disse.

As camisas LGBT+ de Bahia e Vasco também caíram no gosto de torcedores famosos como a cantora Teresa Cristina e o comediante Fábio Porchat, ambos do time carioca, e a campeã olímpica na maratona aquática Ana Marcela Cunha, da equipe baiana, que usaram as redes sociais para divulgar as camisas. À época do lançamento, o então meia do Vasco João Pedro publicou em seu Instagram, orgulhoso, uma foto com suas duas mães vestindo a camisa especial para a data.

Nesta terça-feira é comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBT e, no último fim de semana, Fluminense e Vasco jogaram suas partidas com uniformes em apoio à causa e à luta contra a discriminação. Antes da partida contra o Operário pela Série B, o clube de São Januário ainda levou bandeiras e realizou um show pirotécnico nas cores arco-íris.

Na sexta-feira, o Vasco também realizou um manifesto, com suas principais torcidas organizadas, pela mudança de comportamento nos estádios em relação à causa. O vice-presidente de marketing e novos negócios do clube, Vitor Roma, entende que ações como essas precisam ser sempre exploradas mas não como forma de gerar engajamento. "Mostramos que estamos sempre um passo à frente. A questão do respeito, a inclusão, é o mote desta campanha, mas ela vem de um negócio mais englobado, que é o Vasco lutando pelas causas corretas", diz o executivo, que complementa: "Esse manifesto não acaba hoje".

Outros times também usaram no ano passado camisas com detalhes com o arco-íris em apoio ao Dia Internacional do Orgulho LGBT, mas só Bahia e Vasco comercializaram esses uniformes. Já em setembro de 2021, o Flamengo lançou um uniforme voltado à causa, mas a camisa comemorativa na cor roxa e apenas com uma pequena bandeira arco-íris recebeu algumas críticas.

Na última semana, o ídolo do São Paulo Richarlyson se assumiu bissexual, sendo o primeiro jogador ou ex-atleta da elite do futebol brasileiro a tomar esse importante passo. A barreira do preconceito ainda existe e dificulta que vários jogadores possam se assumir publicamente, sem medo de represálias.

Nos últimos anos, a maioria dos principais clubes brasileiros tem feito publicações em suas redes sociais em apoio à comunidade LGBT+, mas ainda há agremiações que resistem. O próprio conteúdo das postagens pode ser muitas vezes "suavizado", com símbolos e palavras "escondidas" ou com textos menos contundentes, como foi visto no último dia 17 de maio, Dia Internacional da Luta Contra a Homofobia.

Dentre os conteúdos mais elogiados na data, os rivais Atlético-MG e Cruzeiro chamaram atenção para os graves casos de violência contra a população LGBT+ em uma postura mais combativa ao preconceito. Um levantamento do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, divulgado na primeira quinzena de maio, mostrou que pelo menos cinco pessoas LGBTI+ foram vítimas de homicídio no País a cada semana em 2021. Ao todo, foram 262 assassinatos, aumento de 21,9% em relação ao ano anterior, quando o total foi de 215.

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