A tempestade brasileira varreu a Praia de Itaúna, em Saquarema (90km do Rio de Janeiro), ontem, em um dia memorável para o surf nacional. Faltando ainda a disputa das semifinais e da final — provavelmente hoje, se as condições do mar permitirem —, o campeão da etapa brasileira do Circuito Mundial de Surf vai falar português e comemorar em casa. Só falta saber o nome: Samuel Pupo, Ítalo Ferreira, Filipe Toledo ou Yago Dora, os quatro que permanecem na disputa.
O resultado é inédito para o esporte no Brasil, nunca o país havia classificado todos os quatro semifinalistas de uma etapa do circuito. Para completar o dia especial, Filipe Toledo, independentemente do resultado em Itaúna, permanece no topo do ranking mundial e carimba o passaporte para o WSL Finals, em Trestles, na Califórnia, em que os cinco mais bem colocados no ranking se enfrentarão em disputas diretas pelo título de 2022.
Com os pontos pela classificação à semifinal, Filipinho não pode mais ser alcançado, na tabela, pelo sexto colocado. Ontem, ele bateu o brasileiro Michael Rodrigues nas oitavas, e o australiano Connor O'Leary nas quartas, com relativa tranquilidade, e segue firme em busca do seu primeiro título mundial.
O campeão olímpico, Ítalo Ferreira, está bem vivo na briga pelo bi do circuito mundial, que vencera em 2019. Para chegar à semifinal, bateu dois compatriotas: Michael Rodrigues, nas oitavas, e Miguel Pupo, nas quartas, em uma virada épica.
Com uma onda que valeu 7,67, Miguel Pupo deixou Ítalo precisando de uma onda excelente, de 8,17 pontos ou mais, para se classificar. Faltando quatro minutos para o término da bateria, o potiguar de Baía Formosa voou em um aéreo full rotation (volta completa no ar) que lhe rendeu exatamente a pontuação de que precisava. Empatados no somatório das duas melhores ondas, essa última definiu a passagem de Ítalo para as semi. Ele ocupa a quarta posição do ranking e segue com muitas chances de também se classificar para o mata-mata da Califórnia.
Mas, a família Pupo também tem muitos motivos para comemorar. Apesar da derrota de Miguel para um campeão mundial, o irmão dele, Samuel, bateu o também brasileiro Mateus Herdy e avançou para a penúltima fase da competição. Com isso, o sobrenome Pupo voltará a cruzar o caminho do campeão olímpico na primeira bateria das semifinais.
Na outra bateria, Filipinho enfrentará Yago Dora, catarinense de 26 anos que, cinco anos atrás, também em Saquarema, surpreendeu o mundo do surf ao eliminar do torneio campeões mundiais como John John Florence, Gabriel Medina e Mick Fanning, feito que lhe rendeu o apelido de "matador de gigantes". Aquele havia sido o melhor resultado do catarinense no circuito. Se quiser chegar à decisão inédita, Dora terá, hoje, outro gigante a derrubar.
Com mar crispado e ondas pesadas, Saquarema mostra porque é considerada o "Maracanã" do surfe brasileiro. Em nenhum outro pico do planeta, a comunhão entre mar, surfistas e fãs é tão intensa. A praia de Itaúna se transforma em arquibancada e, a cada manobra, a cada nota alta, a cada vitória, a torcida explode em emoção raramente vista no circuito mundial.
Para completar as histórias desta etapa memorável na Praia de Itaúna, vale o registro do supertubo que Caio Ibeli pegou na repescagem, que o levou às oitavas de final. O local de Guarujá (SP) ganhou nota 10, a primeira nota máxima da principal categoria do surf na história de Saquarema. Caio substituiu o tricampeão mundial Gabriel Medina nas cinco primeiras etapas do circuito. No Brasil, Medina foi eliminado logo na repescagem da primeira fase.
A decisão da escala brasileira será a consagração da melhor etapa já disputada no país até agora. Só falta saber quem vai ser erguido pelos braços da galera aos gritos de "é campeão!".
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