Em defesa da base

Dos 20 clubes da Série A, apenas quatro têm goleiro titular prata da casa. Saiba por que Hugo Souza não está sozinho na batalha para se consolidar como dono da trave do Flamengo e entenda por que muitos deles ficam pelo caminho

Marcos Paulo Lima
postado em 31/05/2022 00:01
 (crédito: Marcelo Cortes/Flamengo)
(crédito: Marcelo Cortes/Flamengo)

Histórias como a do menino prodígio Gianluca Donnarumma, que virou titular do Milan e debutante na seleção da Itália aos 17 anos, são bonitinhas de ouvir e contar na banda de lá do Oceano Atlântico. Torcedores e críticos se encantaram com a precocidade do astro de 23 anos nascido em 1999 — um dos heróis da Squadra Azzurra na conquista da Euro-2020. Do lado de cá, a tolerância é próxima de zero com goleiros recém-saídos das divisões de base. É possível contar nos dedos de uma mão quantos são entre os titulares da Série A do Campeonato Brasileiro.

Apenas um quinto dos goleiros titulares da elite são formados nas divisões de base dos seus clubes. Todos enfrentaram ou ainda lidam com a resistência da torcida, a desconfiança de alguns treinadores e a crítica muitas vezes pesada da imprensa.

Em fase de lapidação, Hugo Souza, de 23 anos, é o responsável por cicatrizar as próprias feridas a cada falha debaixo das traves do Flamengo. Titular tardio do Internacional, Daniel, de 28 anos, ouviu mais de uma vez que o clube irá ao mercado em busca de um profissional mais experiente do que a cria colorada depois de ele tolerar o banco de reservas de concorrentes como Marcelo Lomba e Danilo Fernandes. A transferência de Santos para o Flamengo causou arrepios na torcida do Athletico-PR. Formado no Furacão, Bento, de 22 anos, é o herdeiro da posição. João Paulo, 26, se mantém intocável debaixo das traves do Santos. Na segunda divisão do Brasileirão, a cúpula do Grêmio comprou a briga, dá respaldo e tenta fazer do promissor Brenno, de 23 anos, seu novo Danrlei.

Convicções como a do técnico do Flamengo, Paulo Sousa, no jovem goleiro da base rubro-negra Hugo Souza, são exceções na elite do futebol brasileiro. O Fluminense apostava em Marcos Felipe, de 26 anos, até a comissão técnica liderada por Abel Braga aproveitar a saída do experiente ídolo Fábio do Cruzeiro para contratar o titular quarentão.

Formado na base do Botafogo, Diego, de 23 anos, foi titular do Glorioso em 20 partidas na conquista da Série B no ano passado. Entrou em campo cinco vezes neste ano. Uma delas em Brasília, na vitória contra o Ceilândia. Porém, o dono da posição é o paraguaio Gatito Fernández. Luva de Ouro na conquista do Mundial Sub-17 de 2019, Matheus Donelli segue aprendendo com o intocável Cássio no Corinthians. Revelado na Academia, Vinicius Silvestre, 28, já foi suplente de Fernando Prass, Jailson, Weverton e, agora, de Marcelo Lomba.

Paciente, Paulo Sousa justificou a confiança em Hugo Souza depois da exibição de gala do pupilo na vitória de virada por
2 x 1 contra o Fluminense, no último domingo. Recorreu até ao sucesso de Vinicius Junior. Aos 21 anos, dois a menos do que o goleiro, o atacante marcou o gol do título do Real Madrid contra o Liverpool na decisão da Champions League. "O Vinicius Junior, quando chegou ao Real Madrid, foi super criticado, e fez o gol do título. Todos têm o seu tempo", argumentou o técnico.

Como se não bastasse a pressão de 40 milhões de rubro-negros e um Maracanã lotado vaiando, Hugo Souza disputa vaga com Diego Alves, 36, campeão de quase tudo no Flamengo; e Santos, 32, medalhista de ouro em Tóquio-2020 e empilhador de taças nos tempos de Athletico-PR. Hugo Souza e tantos outros sobrevivem jogo a jogo.

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