A noite de hoje promete ser especial para o combalido futebol do Distrito Federal. Não tem título algum em jogo, mas é como se houvesse. Atolado na Série D do Campeonato Brasileiro desde 2014, e há 17 anos longe do pelotão de elite, dois clubes candangos viverão um dia de grandeza. Os caminhos da Copa do Brasil cruzaram os destinos de Brasiliense e Ceilândia com os de Atlético-MG e Botafogo, campeões das Séries A e B do Brasileiro no ano passado. Os duelos contra mineiros e cariocas são vitrines para os dois times do quadrado contra gigantes da primeira divisão. Os desafios candangos na terceira fase do mata-mata nacional começam às 19h. O Jacaré medirá forças com o Galo, no Mineirão. Do lado de cá, o Gato Preto receberá o Glorioso, às 21h30, na Arena BRB Mané Garrincha.
A oportunidade de a dupla da capital federal interagir com os atuais campeões nacionais pode servir como combustível para a reestruturação e salto às principais prateleiras do país. Longe dos holofotes, as equipes da capital focam na árdua caminhada na Série D, mas se apegam ao otimismo de um primeiro semestre de bom futebol e classificações importantes para surpreender no palco de maior visibilidade. Enfrentar Atlético-MG e Botafogo pode adoçar as bocas candangas, desacostumadas a medir forças com camisas pesadas do país.
Para que o extraordinário vire rotina, Brasiliense e Ceilândia precisam sair do limbo do futebol brasileiro. No início das campanhas na quarta divisão, a dupla finalista das últimas duas edições do Candangão começou bem e ensaia uma consolidação que pode ser recompensada com o acesso à Série C, em setembro. Porém, para que jogos como os de hoje, contra equipes do mais alto calibre do país, se tornem frequentes, os dois precisam subir uma divisão por ano de modo que, na melhor das hipóteses, alcancem o primeiro escalão do cenário nacional em 2025.
O confronto em Belo Horizonte coloca frente a frente o bicampeão candango e o tri mineiro. Dono do Brasil em 2021, o Atlético-MG é favorito. Por estar em outro patamar, o Galo precisa abrir o olho para não tropeçar. De bobo, o Brasiliense não tem nada. Finalista em 2002 e semifinalista em 2007, o Jacaré se finge de morto para dar o bote e abocanhar a vaga.
O Ceilândia chega à terceira fase com o status de sensação. Longe dos gramados nacionais desde 2018, o alvinegro eliminou, logo de cara, Londrina e Avaí, times das duas primeiras divisões do Brasil. A missão da vez é desbancar o mais novo milionário: o Botafogo, adquirido pelo empresário norte-americano John Textor. A injeção de grana no caixa botafoguense possibilitou a chegada de reforços importantes e permitiu o sonho de brigar por grandes objetivos daqui para frente.
Baú de memórias
As bolinhas do sorteio da terceira fase quiseram que Brasiliense e Ceilândia se reencontrassem com antigos adversários depois de um longo tempo. O Jacaré não media forças com o Atlético-MG desde 7 de outubro de 2006. Na ocasião, os atleticanos levaram a melhor por 1 x 0, no Mineirão, pela 29ª rodada da Série B do Brasileiro. Apesar do triunfo alvinegro no duelo mais recente e o poderio desenvolvido nos últimos anos, os mineiros não costumam cantar de galo contra o Jacaré. Os números comprovam isso. Em sete jogos oficiais, quatro terminaram com vitória candanga. A mais emblemática foi justamente no primeiro encontro, na exibição perfeita no Gigante da Pampulha, com placar elástico de 3 x 0 no jogo de ida da semifinal da Copa do Brasil. O Brasiliense costuma se dar bem no maior palco de Belo Horizonte. Dos três jogos disputados por lá, dois terminaram com o resultado positivo.
Quando o assunto é Ceilândia x Botafogo, o saudosismo é ainda maior. O duelo alvinegro não é disputado há 35 anos, desde 29 de julho de 1987. À época, o Glorioso desembarcou no DF para amistosos. O primeiro deles, diante do Gato Preto. Comandado por Brito, ex-zagueiro bicampeão da Copa do Mundo de 1970 pelo Brasil, o time candango enfrentou os cariocas em baixa e com dose de polêmica. No encontro marcado para o Serejão, em Taguatinga, o Ceilândia tomou as rédeas da partida e saiu na frente com Wadi, ainda no primeiro tempo. Buscando o respiro, o Botafogo chegou ao empate 17 minutos depois, com gol irregular do atacante Helinho. Na etapa final, o esquadrão da capital não conseguiu repetir o ímpeto dos 45 iniciais e sofreu a virada numa cobrança de falta de Berg. A segunda vez será em uma arena especial batizada com o nome do maior ídolo da história do clube carioca: Mané Garrincha.
* Estagiário sob a supervisão
de Marcos Paulo Lima