Lá se vão 1.030 dias desde que a Mongólia derrotou Brunei por 2 x 0 no primeiro dos 860 jogos e 2.415 gols das Eliminatórias para a Copa do Qatar. A 22ª edição do Mundial — a primeira no Oriente Médio — desembarcará hoje, às 13h (de Brasília), no Centro de Exposições e Convenções de Doha, para o sorteio dos grupos no penúltimo capítulo de um ciclo marcado por eventos apocalípticos. A fase classificatória foi paralisada pela pandemia do novo coronavírus. Dados da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, apontam 6,1 milhões de mortes pela doença e 487,6 milhões de casos. Em meio à incerteza de novas ondas da enfermidade e campanhas de vacinação, o planeta descobrirá, hoje, qual será o rival do anfitrião na partida de abertura, em 21 de novembro, no Al Bayt Stadium, em Al Khor.
A pandemia fez seleções como a Coreia do Norte, presente nas edições de 1966 e 2010, abandonar as Eliminatórias. Santa Lúcia, Samoa Americana, Samoa, Vanuatu e Ilhas Cook seguiram a decisão. Fenômenos naturais também frustraram sonhos. A erupção do vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Haa'pai, em Tonga, provocou tsunami e tirou a seleção de campo. Dos 211 filiados à Fifa, 206 participaram da competição.
Não há profecias no Apocalipse sobre o fim do mundo antes da Copa. Nem previsões de Nostradamus. No dia da mentida, há uma certeza: O sorteio de hoje é o último com 32 seleções. O formato em vigor desde 1998 será substituído, em 2026, por 48 países em três sedes: Canadá, EUA e México.
A covid-19 causou efeitos colaterais no evento de gala da Fifa. A guerra, também. Dos 32 candidatos ao título, 29 são conhecidos. Há mais três vagas em jogo na repescagem. Uma delas pode ser da vulnerável Ucrânia. O país é atacado há 37 dias pela Rússia. Anfitrião da edição anterior, o país de Vladimir Putin estava na repescagem, mas foi expulso depois do início dos ataques à ex-república soviética. Os ucranianos terão de passar pela Escócia para duelar com o País de Gales. A repescagem internacional ainda terá, em junho, confrontos entre Austrália ou Emirados Árabes Unidos e Peru; e Nova Zelândia contra Costa Rica.
Entre guerras, pandemia, vulcões e tsunamis. classificaram-se seleções velhas conhecidas da Copa. O dono da casa Qatar é o único estreante. Todos os demais países, inclusive os oito remanescentes na repescagem, figuraram na competição pelo menos uma vez.
O Mundial não contará com seus oito campeões pela segunda edição consecutiva. Ausente em 2018, a Itália foi novamente reprovada em 2022. Havia ficado em recuperação na repescagem, mas bombou, em casa, contra a Macedônia do Norte. A Squadra Azzurra deu vexame nove meses depois de conquistar a Eurocopa contra a Inglaterra, em Wembley.
Em jejum desde a Copa de 2002, o Brasil será representado na festa pelo capitão do penta. O ex-lateral-direito Cafu é um dos oito assistentes responsáveis por tirar as bolinhas. "Estou me acostumando com isso, mas ainda me dá arrepios", afirmou em entrevista à Fifa o campeão em 1994 e 2002 e vice em 1998. "É um sinal de que a Copa do Mundo está se aproximando. Passaram-se quase 20 anos desde que eu me tornei o último jogador sul-americano a erguer a Copa do Mundo e é uma lembrança que sempre guardarei. Jogar na Copa do Mundo, quando todo o seu país fica parado para assistir ao jogo, é incomparável", emocionou-se.
No Dia da Mentira, Argentina, Brasil e Uruguai descobrirão se são candidatos "fato ou fake" a encerrar a dinastia da Europa. Os últimos quatro títulos foram para França (2018), Alemanha (2014), Espanha (2010) e Itália (2006). Duas décadas de um incômodo jejum sul-americano.