A atual edição da Copa Libertadores já teve sete casos de injúria racial contra torcedores brasileiros. Nos últimos seis anos, foram 27 episódios de racismo nas competições de clubes de nível profissional e masculino, organizadas pela Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), segundo levantamento do Estadão. A grande maioria aconteceu em partidas da Copa Libertadores, fora do Brasil e não teve punição da entidade aos clubes. Praticamente metade dos episódios (11) envolveu torcedores de times argentinos.
Nesta temporada, as partidas entre Palmeiras e Emelec, Corinthians e Boca Juniors, Estudiantes e Red Bull Bragantino, River Plate e Fortaleza, Olimpia e Fluminense, Millionarios e Fluminense, além de Universidad Católica e Flamengo, registraram episódios de racismo direcionados a torcedores. A reportagem procurou a CBF para saber se a entidade está em contato com a Conmebol para investigação dos casos de racismo desse ano e se foi procurada por clubes brasileiros para fornecer ajuda nas denúncias, mas a confederação não respondeu.
O Bragantino apresentou denúncia junto à Conmebol e o Palmeiras também planeja entrar com ação por causa do jogo desta semana, no qual seus torcedores foram ofendidos com xingamentos de macacos. O Fortaleza ainda aguarda um retorno da Conmebol e "não entrou com uma denúncia devido a clara atitude, de tamanha exposição, mas manteve contato com o River Plate para saber as tratativas que seriam tomadas".
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Corinthians e Fluminense não responderam ao Estadão se entraram com representação na entidade. Até agora, somente o Olimpia, do Paraguai, foi punido neste mês pela Conmebol pelo artigo 17 (atos discriminatórios), mas a entidade não especificou qual atitude preconceituosa foi registrada na partida do clube.
O artigo 17 do Código Disciplinar da Conmebol aborda casos de discriminação praticados por jogadores e outros funcionários de clubes, prevendo a suspensão por cinco partidas ou período mínimo de dois meses. É no item 2 que o texto trata dos atos discriminatórios praticados por torcedores. A multa mínima aos clubes é de US$ 30 mil (cerca de R$ 157 mil).
No ano passado, o Flamengo foi vítima de dois casos de injúria racial praticados por torcedores nos confrontos com Olimpia e Barcelona pela Libertadores, ambos fora de casa. Paraguaios e equatorianos foram punidos um mês depois dos episódios em US$ 30 mil pelas denúncias, segundo os artigos 9 e 17.2 do Código Disciplinar da Conmebol.
A Conmebol informou que todos os episódios são investigados e que "sempre teve postura antirracismo". "Certamente de acordo com os relatórios que chegam dos delegados da partida e as imagens que estão disponíveis, as medidas ou decisões correspondentes serão tomadas, mas tudo tem um processo. Caso um seja aberto e uma resolução seja emitida, isso se torna público, mas tem um processo, não é imediato", informou a assessoria da entidade.
Em novembro do ano passado, a Conmebol divulgou a campanha "A falta mais grave é o racismo", destacando a importância de combater casos de preconceito racial e que tem, através de sua unidade disciplinar, "aplicado sanções em casos de racismo, mas também considera essencial apelar a mensagens educativas e de sensibilização". Com frequência, o futebol faz campanha dentro dos estádios para combater o racismo e a violência.
A reincidência de casos por um clube dentro de uma mesma edição de competição também chama a atenção. Em 2018, torcedores do Independiente, da Argentina, estiveram envolvidos em três casos de racismo: contra Santos e Corinthians pela Libertadores, além da Recopa, diante do Grêmio.
"FALTA AÇÃO ALÉM DE NOTA DE REPÚDIO", DIZ PESQUISADOR
O diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, critica a posição da Conmebol tanto na punição aos episódios de discriminação racial quanto na falta de transparência das investigações desses casos.
"O número de casos de racismo é um e o de punidos é outro (bem menor). A maioria tem imagens como prova, mas infelizmente não tem acontecido tantas punições. Há só uma pequena movimentação (da entidade) para mostrar que está reagindo. Falta também união dos clubes que poderiam fazer um documento conjunto para a Conmebol avisando que não vão mais tolerar isso, mas não vimos nada assim. Só vemos uma nota oficial separada de um clube que vai levar esse caso específico. Falta ação além de nota de repúdio. Quando não há punição, também não vemos os clubes se posicionarem", avalia.
Alguns jogadores tomaram mais consciência do problema e passaram a se envolver mais no tema. "Hoje em dia, há um entendimento maior dos atletas de que ser xingado de forma racista é crime e não faz parte do pacote 'ser jogador de futebol'. A internet e os celulares com câmeras também têm possibilitado aos torcedores filmarem ações como essas", diz Carvalho, que vê, atualmente, maior conscientização racial dos jogadores e torcedores.
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