O Brasil terá 19 judocas no Campeonato Pan-Americano e da Oceania da modalidade, que começa nesta sexta-feira (15), em Lima (Peru). Seis deles chegam à competição, que garante 700 pontos ao campeão no ranking da Federação Internacional de Judô (IJF, sigla em inglês), para defender o título conquistado no ano passado, em Guadalajara (México). Caso da paulista Beatriz Souza, que apesar de ter apenas 23 anos, já é um dos nomes mais experientes da equipe.
Atual número dois do ranking na categoria pesado (acima de 78 quilos), Bia chegou em 2018 à seleção brasileira adulta, aos 19 anos. Na temporada seguinte, foi medalhista de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Lima e ajudou o Brasil a conquistar o terceiro lugar no Campeonato Pan-Americano por equipes, vencendo duas vezes a cubana Idayls Ortiz, campeã olímpica. Em 2021, ela foi ao pódio no Campeonato Mundial de Budapeste (Hungria), também levando o bronze.
As conquistas deixaram a então novata disputando com Maria Suelen Altheman pelo posto de representante brasileira da categoria na Olimpíada de Tóquio (Japão). Dez anos mais experiente, Suelen levou a melhor, ficando apenas três posições à frente no ranking, ambas no top-10 mundial. No momento, os papeis estão invertidos, com a veterana em quarto lugar, dois atrás de Bia.
"Acho que posso pegar o ciclo passado como uma enorme experiência. Foi bem puxado, com muitas competições e treinamentos. Saio mais forte, melhor tecnicamente e com foco maior. A gente [ela e Suelen] é super amiga fora do tatame. Ela me ajuda muito. Acho que é assim que se constrói um grande atleta. Você evolui com a rivalidade no tatame de competição. Queria chegar nela e queria a vaga. Acho que tanto eu consegui evoluir muito, como ela também", disse Bia à Agência Brasil.
A maturidade da paulista não passa somente pela experiência representando o Brasil nos tatames. Natural de Peruíbe (SP), Bia se mudou para São Paulo sozinha, com apenas 13 anos, para seguir carreira no esporte pelo qual se apaixonou.
"É muito difícil sair de casa na adolescência. Logo eu, super agarrada na família. Chegava em casa do treino, tinha comidinha pronta, era só arrumar a cama e estava tudo certo [risos]. Quando sai de casa, é tudo diferente. A saudade diária bate forte, os treinos muito fortes também, o que era outra realidade. Acordava mega cedo para ir à escola, então tinha que ter o estudo em dia, treinar e me alimentar, além de descansar e segurar a saudade para não bater o desespero de querer voltar para casa", recordou a judoca, apresentada à modalidade pelo pai, ex-atleta de judô.
"Ele me levou para o primeiro treino. Era uma criança muito agitada, então precisava de algo para me controlar [risos]. No treino, eu me apaixonei pela galera lutando e se agarrando dali, jogando o outro daqui. Falei: 'quero isso para mim'. Meu pai disse: 'Quer? Então a gente vai trabalhar para você conseguir'. Ele me levava todo dia para treinar. Às vezes, eu não queria, fazia manha, mas ele levava. Meu pai é a maior inspiração para isso", contou Bia, emocionada.
A perseverança, recompensada com resultados, pode ser coroada em 2024, com a estreia olímpica. Atualmente, Beatriz é a judoca mais bem colocada entre os brasileiros no ranking mundial. Ela iniciou o ciclo dos Jogos de Paris (França) com o título do Grand Slam de Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), em novembro do ano passado, e a prata na etapa de Tel Aviv (Israel), em fevereiro. Depois do Pan de Lima, a paulista terá pela frente o Grand Slam de Budapeste, em julho, última competição antes do Mundial de Tashkent (Uzbequistão), em outubro.
"A gente estudou muito os torneios do ciclo, principalmente as desse ano. O foco, agora, está no Pan e em fazer uma periodização de treino mais focada até o Grand Slam e o Mundial. Serão menos competições e mais treinos. A gente precisa ajustar mais os detalhes que estão faltando e chegar forte nas competições", explicou a judoca.
O caminho rumo à estreia olímpica e, quem sabe, uma medalha, está sendo traçado. Independentemente do que nele aparecer, o judô já transformou a vida de Bia.
"[O judô] É fundamental para a mulher que sou hoje, desde nova tendo que lidar com responsabilidades, o que me trouxe um amadurecimento gigantesco. Quanto à autoestima, sou a mulher mais forte do mundo! É mentira [risos]. Eu me acho uma mulher incrível. Para a minha idade, lido com certas coisas que, acho, outras pessoas não conseguiriam lidar. Tenho uma cabeça forte e isso me ajuda a continuar forte e treinando para me manter no tatame, que não é fácil", concluiu.
Pan de Lima
A seleção brasileira feminina também será representada no Pan de Lima por Amanda Lima (até 48 kg), Larissa Pimenta (até 52 kg), Rafaela Silva, Jéssica Lima (ambas até 57 kg), Ketleyn Quadros (até 63 kg), Maria Portela, Luana Carvalho (ambas até 70 kg) e Mayra Aguiar (até 78 kg). Além de Bia, Larissa e Ketelyn defenderão os títulos conquistados no ano passado.
O time masculino terá Ryan Conceição (até 60kg), Eric Takabatake, Willian Lima (ambos até 66 kg), Daniel Cargnin (até 73 kg), Guilherme Schmidt, Vinícius Panini (até 81 kg), Rafael Macedo (até 90 kg), Rafael Buzacarini (até 100 kg), Juscelino Nascimento Júnior e Rafael "Baby" Silva (ambos acima de 100 kg), sendo que Juscelino competirá somente na disputa por equipes mistas. Willian, Guilherme e Baby foram campeões no último Pan.
O evento reunirá países que integram o continente americano e terá participação de judocas de Austrália, Nova Zelândia, Samoa e Fiji, todos da Oceania. Os torneios individuais serão realizados entre esta sexta (15) e sábado(16), com a fase preliminar em horário a ser definido e as finais previstas para iniciar às 14h (horário de Brasília). A competição por equipes mistas começam às 7h30 de domingo (17).