Salvador — Dos oito medalhistas brasileiros no boxe, três estavam juntos e misturados no último fim de semana, na capital baiana, no Congresso Olímpico Brasileiro. O evento organizado pelo COB no Centro de Convenções parou para ver o baiano Hebert Conceição, de 24 anos, ouro em Tóquio-2020 na categoria peso médio (-75kg), e o conterrâneo dele, Robson Conceição, peso leve (-60Kg) campeão na Rio-2016, estenderem tapete vermelho para o ídolo de várias gerações Servílio de Oliveira — protagonista do primeiro pódio do país na modalidade.
Era 1968. Cidade do México. A memória brilhante de Servílio de Oliveira não lhe deixa enganar. Ele lembrou da série de combates, um a um, com a emoção de quem revivia cada disputa. “A primeira foi contra um boxeador turco chamado Engin Yadigar. Na segunda, enfrentei um adversário de Gana, Joseph Destimo. Venci por pontos. Nas semifinais, perdi para o mexicano Ricardo Delgado, que depois ganharia o ouro”, detalha o paulistano.
O bronze foi para os pescoços de Servilio de Oliveira e de Leo Rwabwogo, de Uganda. O brasileiro tem um orgulho danado daquele terceiro lugar Faz questão de dizer que, como foi derrotado pelo campeão olímpico Ricardo Delgado, é o autêntico terceiro colocado.
O ex-pugilista levou a medalha ao evento e permitiu que os mais curiosos não somente tocassem, mas posassem para a foto com a relíquia. Lá se vão 54 anos de zelo pelo símbolo da conquista que abriu caminho para os ouros de Hebert Conceição e Robson Conceição, as pratas de Bia Ferreira e Esquiva Falcão e os bronzes de Adriana Araújo, Abner Teixeira e Yamaguchi Falcão.
Os olhos de Hebert e Robson brilhavam diante de Servílio. Sabiam que, mais cedo ou mais tarde, atingirão o patamar do mestre no Hall da Fama do COB. “Eu tive um encontro com o primeiro medalhista brasileiro do boxe (Servílio) e o primeiro campeão olímpico (Robson). Estava no meio deles”, emocionou-se Hebert Conceição, ouro em Tóquio.
“Foi um momento único ver de perto a primeira medalha olímpica do Brasil. Igual a ela jamais terá outra”, exaltou o humilde Robson Conceição, minimizando até mesmo o próprio pioneirismo dourado nos Jogos do Rio-2016.
Enquanto Hebert e Robson assistiam ao trailer da homenagem que receberão em um futuro breve, Servilio curtia o desfecho cinematográfico daquele bronze conquistado há 20 anos projetando projetando o sucesso de um herdeiro. “É uma das homenagens mais importantes que eu recebi. Entrar para o hall da fama eternizou meu nome. Daqui a 500 anos, as pessoas vão olhar e saber que eu contribuí para o esporte brasileiro com uma medalha”,orgulhou-se Servílio de Oliveira.
Ele é avô de um pugilista. Luiz Oliveira, o Bolinha, conquistou ouro nos Jogos da Juventude de Buenos Aires-2018. Sinal de que a base vem forte. À espera da primeira participação do neto nos Jogos Olímpicos, provavelmente em Paris-2024, Servílio elogia os dois meninos de ouro do país. “O Robson é um rapaz que evoluiu muito como boxeador e pessoa. O Hebert tem uma personalidade mais falante. Eu torço muito pelos dois”, comentou.
*O repórter viajou a convite do Comitê Olímpico do Brasil