Salvador — Quem os vê caminhando pelo Centro de Convenções de Salvador considera mais uns entre tantos atletas aposentados protagonistas do Congresso Olímpico Brasileiro. Só que não. O ex-pugilista Servílio de Oliveira, a ex-levantadora Hélia Rogério de Sousa Pintoo, a Fofão, e o ex-judoca Aurélio Miguel viviam um fim de semana especial. Os três aguardavam por mais uma apoteose na carreira. Homenageados durante o evento, eles entraram para o hall da fama do esporte nacional.
Como manda o ritual do COB, Servílio, Fofão e Aurélio tiraram moldes das mãos que escreveram páginas douradas na história da participação do Time Brasil nos Jogos Olímpicos. Bronze na Cidade do México-1968, Servílio de Oliveira era um dos mais entusiasmados. Aos 73 anos,o senhor negro de barba branca esbanja juventude e memória impecável. Conta histórias do arco da velha com a precisão de uma linha do tempo.
Servílio começou a praticar boxe quando a modalidade vivia o auge no Brasil, após a conquista do título mundial de Éder Jofre. Aos 19 anos, disputou os Jogos Pan-americanos Winnipeg-1967. Na mesma temporada, foi campeão dos Jogos Latino-americanos, no Chile, assegurando vaga aos Jogos Olímpicos do ano seguinte. Na Cidade do México, conquistou a primeira medalha do boxe brasileiro. No boxe profissional, acumulou 19 lutas e venceu todas. Servílio é um dos poucos lutadores que se aposentaram invictos.
“Estou felicíssimo em receber essa homenagem. Hoje, eu tenho a certeza de que, daqui a 500 anos, vão saber quem foi Servílio de Oliveira. Dedico essa homenagem à minha mulher, Maria Chalot, porque em abril completaremos 50 anos de casados. Uma companheira que esteve ao meu lado em tantos momentos difíceis e nos bons também”, disse Servílio.
Aurélio Miguel começou a praticar judô aos quatro anos por conta de problemas de saúde. Em 1983, tornou-se o primeiro brasileiro a ser campeão mundial júnior. Em Seul 1988, conquistou a então inédita medalha de ouro olímpica para o judô nacional. Em Barcelona-1992, foi o porta-bandeira da delegação brasileira na cerimônia de abertura dos Jogos e em Atlanta-1996 voltou ao pódio olímpico, conquistando o bronze.
“É importante manter a lembrança e a memória do esporte olímpico do Brasil. Quando disputei os Jogos Olímpicos de Seul, eu fui o sétimo ouro do Brasil. A partir de 1998, conseguimos as leis de incentivo, que fez com que conseguíssemos nos transformar numa grande potência. Só em Tóquio-2020, tivemos, por exemplo, medalhas de ouro no boxe, na vela, na maratona aquática, no surfe, na canoagem e na ginástica artística”, disse Aurélio.
Fofão defendeu a Seleção Brasileira por 17 anos, em 340 jogos. A levantadora disputou cinco edições dos Jogos Olímpicos. Conquistou o bronze em Atlanta-1996 e Sydney-2000. Mas foi a despedida olímpica que realmente marcou sua carreira. Como capitã, conquistou a medalha de ouro inédita no vôlei feminino em Pequim 2008. A trajetória como jogadora acabou em 2015, com o título da Superliga Feminina e a disputa do Mundial de Clubes.
“Estou muito feliz e me sinto engrandecida pela homenagem. É uma emoção muito grande ver grandes amigos que tivemos oportunidade de nos aproximar aqui, tanto na plateia quanto ao meu lado no palco. Esse é um daqueles momentos em que a gente agradece ao esporte tudo que ele nos proporcionou. Sou muito grata a todos”, disse Fofão.
Criado em 2018 com o objetivo de exaltar, difundir e eternizar aqueles que fazem a história do Movimento Olímpico do país, o Hall da Fama do COB tem 20 homenageados, entre atletas e treinadores de modalidades olímpicas. Todos os integrantes terão seus moldes expostos em um espaço de preservação da memória olímpica montado pelo COB.
*O repórter viajou a convite do Comitê Olímpico do Brasil (COB)