Elas não têm Mundial

Investimentos da Fifa no futebol feminino avançam, mas há pendências como a criação de uma Copa de Clubes. Saiba como e quando a entidade planeja honrar essa dívida e viabilizar um tira-teima entre as melhores equipes do planeta

Quando um time de futebol masculino conquista a Copa Libertadores da América, o assunto antes, durante e depois da celebração do título é o Projeto Tóquio, Yokohama, Doha, Abu Dhabi... A ansiedade pela participação do campeão sul-americano no Mundial de Clubes da Fifa vira obsessão. As mulheres não desfrutam desse privilégio. A desigualdade de gênero tem sido erradicada na centenária entidade, inclusive com a nomeação da primeira secretária-geral da entidade — a senegalesa Fatma Samoura. Porém há dívidas a pagar no Dia Internacional delas.

A Fifa organiza Copa do Mundo e torneios de base Sub-17 e Sub-20, mas ainda deve a criação de um Mundial de Clubes Feminino. Hoje, não existe possibilidade de um jogo dos sonhos entre as campeãs da Libertadores (Corinthians) e da Champions League (Barcelona). O Chelsea pintou o planeta de azul ao superar o Palmeiras na final do mês passado, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. No feminino, o troféu sequer existe.

Há promessa de tirar o torneio do papel, mas a proposta é condicionada à guinada no calendário da Fifa. O presidente Gianni Infantino insiste na realização da Copa do Mundo dos marmanjos a cada dois anos depois da edição de 2026. Em tese, isso facilitaria a criação do Mundial de Clubes Feminino. É o que indica o relatório apresentado, em dezembro, às 211 entidades filiadas.

"Caso o conceito bienal da Copa do Mundo seja implementado, uma sugestão seria organizar a Copa do Mundo de Clubes feminino em um ciclo bienal com início em 2024. Isso seria permitir que a Fifa use o ímpeto da Copa do Mundo feminina de 2023 (na Austrália e Nova Zelândia) como um trampolim para o lançamento da nova competição de clubes e garantiria a realização de um grande evento de futebol feminino a cada ano, alternando clubes e exposição da seleção nacional no nível mais alto", encaminha o documento confeccionado por profissionais da Fifa.

A Copa do Mundo de seleções seguiria nos anos ímpares e o Mundial de Clubes nos pares, a partir de 2024, com 22 dias de competição e formato de 12 times em uma sede única escolhida pelo Conselho da Fifa. As equipes seriam divididas em quatro grupos com três times. Os melhores de cada chave avançariam às semifinais.

Passar o rascunho a limpo exige celeridade no desenvolvimento do futebol feminino em outros continentes. Apenas quatro têm torneios continentais: África, América do Sul, Europa e Ásia. O crescimento de ligas vizinhas às do Canadá e dos Estados Unidos animam a Concacaf a lançar a Liga dos Campeões das América do Norte, Central e Região do Caribe a partir do ano que vem.

"Antes de pensar em um campeonato mais amplo é preciso dar tempo para que Concacaf, AFC [Ásia] e a Oceania criem seus campeonatos continentais femininos, que seriam classificatórios para a Copa do Mundo de Clubes", aponta o estudo da Fifa.

A Libertadores feminina é disputada desde 2009. Quatro clubes brasileiros conquistaram o título: os tricampeões Corinthians e São José e outros dois clubes com duas conquistas — a Ferroviária e o Santos. A Champions League para mulheres começou na temporada 2001/2002. O Lyon, da França, é o recordista com sete troféus. O continente africano iniciou seu torneio no ano passado. O Mamelodi Sundowns, da África do Sul, conquistou a primeira versão ao superar o Hasaacas Ladies, de Gana. A versão asiática começou em 2019. O campeão vigente do torneio é o Amman, da Jordânia.

Enquanto o Mundial de Clubes Feminino da Fifa não sai do papel, a ordem é defender a hegemonia na América do Sul, Europa ou na África.