Guerra dos mundos

Marcos Paulo Lima
postado em 14/03/2022 00:01

A chegada em massa dos quatro clubes mais populares do Rio às semifinais do Campeonato Carioca significa bem mais do que a quebra do jejum de quatro anos. O quarteto não se apoderava dessa fase do torneio desde 2018. À época, o Botafogo desbancou o Flamengo; o Vasco eliminou o Fluminense, e os alvinegros decidiram o título. O mata-mata com direito a seis clássicos — quatro na semi e dois na final no período de 16 de março a 3 de abril — pode ser o último com desequilíbrio técnico e financeiro entre os candidatos ao título estadual.

Atual tricampeão, o milionário Flamengo tem a dinastia ameaçada pelo Fluminense há duas temporadas. O tricolor ostenta a melhor campanha da fase classificatória e conquistou a Taça Guanabara com dois pontos de vantagem sobre os rubro-negros graças ao confronto direto. Venceu por 1 x 0 na quarta rodada e se encheu de moral.

Fla e Flu resistem à moda. Não abrem mão do modelo associativo. O time da Gávea desfruta um processo de reconstrução econômica iniciada na gestão de Eduardo Bandeira de Mello, em 2013, e esportiva no primeiro mandato de Rodolfo Landim. Se contabilizarmos os títulos possíveis nas duas gestões, o clube só falhou nas finais da Sul-Americana em 2017 e na decisão do Mundial de Clubes da Fifa, em 2019.

Inspirado no arquirrival, o Fluminense também passou a arrumar a casa desde o início da era Márcio Bittencourt. Mesmo com dificuldades financeiras, o time chegou às quartas de final da Libertadores no ano passado. Disputou as últimas duas decisões do Carioca. Está com a vaga encaminhada à fase de grupos do principal torneio continental neste ano e, aos poucos, monta não somente um elenco, mas um time competitivo. É há um bom tempo o único concorrente carioca minimamente organizado para peitar os rubro-negros.

Em 2018, Botafogo e Vasco desbancaram Flamengo e Fluminense na última semifinal do Carioca entre titãs. Há quatro anos, a balança não era tão desequilibrada. Hoje, sim. Apequenados por sucessivos rebaixamentos, o Glorioso e o Gigante da Colina são azarões. Nenhum deles tem interesse — e muito menos paciência — para arrumar a casa, como fez o Flamengo e se esforça o Fluminense.

Ontem, o presidente Márcio Bittencourt cortou na própria carne na tentativa de equilibrar as finanças. Ele confirmou a venda do atacante Luiz Henrique para o Bétis, da Espanha, por 13 milhões de euros (R$ 70 milhões). Curiosamente, a vida de rico do Flamengo começou assim. Em 2013, o ex-presidente Bandeira de Mello devolveu o badalado Vágner Love ao CSKA Moscou por não ter condição de pagar o alto salário. O clube amargou dois anos de vacas magras até voltar ao mercado com força em 2015, na aquisição do centroavante Paolo Guerrero.

Vendidos

À beira da falência, o Botafogo aposta na era das Sociedades Anônimas do Futebol (SAF). Usou de influência política para isso na gestão do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e tenta surfar a nova onda. O clube está vendido ao inglês John Textor. O empresário estadunidense começou a reforçar o time, entre outros, com Lucas Piazon. O técnico português Luis Castro será liberado na sexta-feira pelo Al-Duhail, do Catar. Provavelmente assumirá no fim de semana como novo técnico.

O Vasco imita o Botafogo. De pires na mão, desistiu de lutar pela sobrevivência por conta própria. Em negociações aceleradas com a multinacional 777 Partners, o clube também entrará em breve, definitivamente, no mundo da SAF. O clube recebeu o primeiro aporte financeiro da firma norte-americana e tem promessa de mais investimentos.

Em tese, as semifinais de arromba podem ser as últimas entre primos ricos e pobres. A expectativa de vascaínos e botafoguenses é por times à altura dos velhos tempos a fim de voltar a bater de frente com a dupla Fla-Flu. Em metamorfose, ambos se despediram, ontem, da primeira fase, com resultados diferentes. O Vasco venceu o Resende, por 3 x 0. O Botafogo empatou por 2 x 2 com o Audax.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação