Peso nos pés

Terceira maior fornecedora de jogadores da NHL, Rússia vê astros da liga profissional norte-americana de hóquei no gelo numa fria: agente ucraniano denuncia que Alex Ovechkin, amigo de Vladimir Putin, é uma das estrelas sob desconfiança

Marcos Paulo Lima
postado em 04/03/2022 00:01
 (crédito: Patrick Smith/AFP)
(crédito: Patrick Smith/AFP)

A invasão da Rússia à Ucrânia abriu uma temporada de "guerra fria" na NHL — a liga profissional de hóquei no gelo dos Estados Unidos. A caça aos bruxos é no pior estilo "diga-me com quem andas, e direi quem és".

Terceira maior fornecedora de mão de obra para a NHL, atrás dos EUA e do Canadá, a Rússia tem 41 jogadores espalhados nas 32 franquias. Todos são pressionados a se posicionar politicamente. Mais do que o cancelamento, eles temem represálias contra parentes residentes na Rússia. O governo de lá tem reprimido os contrários à guerra.

Um dos alvos na NHL é um amigo do presidente Vladimir Putin. Aos 36 anos, Alex Ovechkin trabalha no quintal da Casa Branca. Nascido na capital Moscou, em 1985, ano do início do governo de Mikhail Gorbatchev na extinta União Soviética, o winger veste a camisa 8 do Washington Capitals desde 2005. O protagonista da inédita conquista da Stanley Cup contra o Vegas Golden Knights, em 2018, é mais do que o capitão do time. Tem o status de ídolo ameaçado por uma amizade suspeita.

Eleito três vezes MVP da NHL, Ovechkin é aliado do presidente russo Vladimir Putin. Foto publicada na conta pessoal do jogador no Instagram viralizou e cobra um posicionamento. "Eu sou russo, certo? Putin é meu presidente. Há coisas que fogem do meu controle. Chega de guerras, não importa quem são os países envolvidos, Rússia, Ucrânia... Temos que viver em paz", disse.

A guerra iniciada há nove dias mexe no bolso dos jogadores. Ovechkin deixou de ser um dos garotos-propaganda mais disputados pelas marcas da indústria do hóquei no gelo. As sanções lembram o contra-ataque dos EUA e de potências europeias para sufocar a economia russa.

Os laços de Ovechkin com o esporte de alto rendimento são de família. Ele é filho da jogadora de basquete Tatiana Ovechkina — ouro nos Jogos Olímpicos de Montreal-1976 e Moscou-1980. Quando era criança, ele escolheu jogar hóquei no gelo — esporte predileto de Putin. Iniciou no Dínamo de Kiev e depois partiu rumo aos EUA. O sucesso de Ovechkin no Washington Capitals chamou a atenção de Putin. O presidente passou a usá-lo para ampliar a popularidade. Em 2014, Ovechkin não censurou a invasão da Crimeia.

Ironicamente, o agente da maioria dos russos empregados na NHL é... ucraniano! Dan Milstein fez denúncias em defesa dos clientes: "Esses jogadores estão sofrendo discriminação e racismo. Estamos voltando 30 anos no tempo. Eles estão com medo. O esporte mundial se uniu contra a Rússia", reclamou. A esposa, os filhos e os pais de Ovechkin, por exemplo, estão na Rússia.

Outros três jogadores russos reclamam da pressão: Kucherov e Vasileviskiy, astros do atual bicampeão Tampa Bay Lightning; e Ilya Sorokin, goleiro do New York Islanders. Nikita Zadorov, do Calgary Flames, adeiriu ao discurso da NHL contra a Rússia e dificilmente será bem-vindo na Rússia.

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