Rota reprogramada

Após covid-19, guerra provoca terceira mudança seguida na final da Liga dos Campeões. Com avanço do conflito entre russos e ucranianos, Uefa tirou de São Petersburgo e levou a Orelhuda para Paris. FIA também cancela GP de Sochi

Referência no modelo de final única com palco pré-definido meses, ou até anos antes, a Uefa encara, mais uma vez, a necessidade de mudar o palco da final da Liga dos Campeões por uma situação extra-campo. Nos últimos dois anos, a entidade europeia precisou agir pelo avanço da covid-19. Ontem, no segundo dia de elevação das tensões da guerra entre Rússia e Ucrânia, a organizadora do futebol no Velho Continente anunciou a retirada da decisão de São Petersburgo e a transferência para a França. As seleções e os clubes dos dois países terão de jogar em campo neutro.

Embora em escala muito menor de proporção, a Uefa vive o drama enfrentado pela Conmebol na final da Libertadores de 2019. Na ocasião, a entidade sul-americana organizava a primeira decisão única em campo neutro e havia escolhido o Estádio Nacional, em Santiago, para abrigar o jogo. Porém, as tensões provocadas por protestos sociais no Chile forçaram uma mudança para o Monumental, em Lima, no Peru. À época, a decisão foi tomada com pouco mais de 20 dias para o confronto entre Flamengo e River Plate, vencido pelo rubro-negro.

No Leste Europeu, o clima bélico causado pelo avanço das tropas russas na Ucrânia causam tensões humanitárias muito além do esporte. Após advertir a Rússia e "condenar fortemente" o conflito, a Uefa decidiu em reunião, ontem, tirar a final da Gazprom Arena, em São Petersburgo, e colocar a partida no Stade de France, em Paris. "A Uefa gostaria de expressar seu agradecimento ao presidente Emmanuel Macron pelo apoio pessoal e comprometimento para que o jogo de clubes mais prestigiado da Europa fosse movido para a França neste tempo de crise sem paralelos", disse a entidade, em comunicado.

Precursora do modelo de final única com palco pré-definido, a Uefa encara a necessidade de mudança de planos de última hora pelo terceiro ano seguido. Com as facilidades logísticas de deslocamento pela Europa, a entidade popularizou o formato de antecipação do palco da final, adotado desde os anos 1950, quando a competição ainda se chamava Taça dos Clubes Campeões Europeus. Nos últimos dois anos, a pandemia de covid-19 provocou a realocação das decisões. Nas duas ocasiões, Istambul, na Turquia, deu lugar a Lisboa, em Portugal, por questões ligadas à doença.

Kremlin critica

Pouco depois da mudança de sede, o Kremlin criticou a transferência da final da Liga dos Campeões para Paris. "É uma pena que tal decisão tenha sido tomada", disse o porta-voz do poder russo, Dmitry Peskov. "São Petersburgo teria proporcionado as condições ideais para a realização do evento", completou. Presidente da Federação Russa de Futebol (RFU) e do conselho de administração da Gazprom, patrocinadora da entidade, Alexander Dyukov endossou a reclamação. "Acreditamos que a decisão de mudar o local foi ditada por razões políticas. A RFU sempre adere ao princípio do esporte estar fora da política", ressaltou.

O Comitê Executivo da entidade também decidiu sobre clubes e seleções dos dois países. Até "segunda ordem", essas equipes terão de atuar em estádios considerados neutros durante os torneios. A ação é uma resposta ao pedido da Polônia sobre o jogo contra a Rússia pela repescagem das Eliminatórias da Copa do Mundo. A Ucrânia também está envolvida, mas pega a Escócia, fora de casa, no fim de março. "A Uefa vai dar suporte a vários envolvidos para garantir o resgate de jogadores de futebol e suas famílias na Ucrânia, que enfrentam terríveis sofrimentos humanos, destruição e deslocamento", destacou.