Após seis anos de uma intensa briga por igualdade salarial entre as seleções feminina e masculina de futebol dos Estados Unidos, as atletas que ostentam o título de campeãs do mundo finalmente conseguiram o reconhecimento da injustiça sofrida historicamente no país estadunidense.
Na manhã desta terça-feira (22/2), um acordo feito entre os advogados das jogadoras e ex-participantes do time e a entidade que rege o esporte no país, a US Soccer, liberou um pagamento milionário referente à uma reparação ao time e a promessa de que os salários serão equiparados. Vale lembrar que a seleção feminina dos Estados Unidos é a maior vencedora da Copa do Mundo, com quatro títulos. Já a masculina, no momento, ocupa apenas o 13º lugar no ranking de seleções da FIFA e nunca venceu uma Copa do Mundo.
No acordo, as atletas receberão 24 milhões de dólares (cerca de R$ 125 milhões) da US Soccer, quantia que atende a um cálculo geral do que foi devido para elas nos últimos anos em relação aos salários da seleção masculina. Para as atletas, essa é uma confissão de que a remuneração das equipes era desigual há anos.
O processo judicial prejudicou o relacionamento de importantes atletas da seleção – donas de um dos melhores desempenhos no esporte mundial – com a U.S. Soccer. As jogadoras Alex Morgan, Megan Rapinoe e Carli Lloyd foram algumas das estrelas que se posicionaram contra a entidade e fez com que a US fosse penalizada por patrocinadores e fosse mal vista pelos fãs do esporte.
Ao The New York Times, a presidente da US Soccer, Cind Parlow Cone, afirmou que o acordo é um alívio para a empresa. “Não foi um processo fácil chegar a esse ponto, com certeza, mas o mais importante aqui é que estamos avançando e estamos avançando juntos”, declarou.
Já a estrela da seleção feminina, Alex Morgan, definiu o acordo como “uma vitória monumental para nós e para as mulheres”. Ela comentou que a luta, intensa e desgastante, para obter o reconhecimento foi necessário para o fim de um histórico injusto no esporte.
“O que nos propusemos a fazer foi fazer com que a discriminação da US Soccer fosse reconhecida, o que aconteceu por meio do pagamento previsto no acordo. Nós nos propusemos a ter um tratamento justo e igualitário nas condições de trabalho, e conseguimos isso por meio do acordo de condições de trabalho. E nos propusemos a ter salários iguais para nós e para a equipe masculina por meio do futebol americano, e conseguimos isso”, comemorou Morgan.
O acordo é visto como uma vitória principalmente porque, em 2020, a Justiça dos EUA afirmou que a US Soccer não precisava se retratar com as jogadoras, porque elas não eram mal pagas. Nesse sentido, a entidade federativa deu o passo não de maneira obrigatória, mas o que pode ser visto como um reconhecimento do valor da seleção – além de melhorar a imagem perante patrocinadores e fãs.
Mais do que indenização: atletas comemoram promessa de equidade salarial nos próximos campeonatos
De acordo com fontes do The New York Times, a maior vantagem vista pelas jogadoras no acordo não é o recebimento da indenização milionária, mas sim a promessa de que a US Soccer irá igualar os salários entre as seleções em todas as competições, incluindo a Copa do Mundo. Desde o início da briga do time feminino, essa é a maior bandeira defendida, e que poderá canalizar milhões de dólares para uma nova geração de jogadoras.
No entanto, a equidade ainda não pode ser dada como certa, já que dependerá de um acordo entre a U.S. Soccer e a seleção masculina. Reuniões já foram feitas, mas o martelo ainda não foi batido.
Os jogadores deverão concordar em compartilhar milhões de dólares pagos na Copa do Mundo pela Fifa, órgão que governa o futebol a nível mundial. São esses pagamentos, definidos pela Fifa e com quantias maiores para a Copa do Mundo de futebol masculino, são o principal problema da desigualdade salarial.
A seleção masculina dos EUA ganhou da Fifa, pela participação da Copa do Mundo de 2014, 4,5 milhões de euros – quantia alta para uma eliminação nas oitavas de final. Já a seleção feminina, que ganhou a competição, ganhou apenas 1,45 milhão de euros pela vitória.
Após o anúncio do acordo, a Associação de Jogadoras de Futebol Feminino parabenizou as atletas e a equipe jurídica que cuidou do caso “pelo sucesso histórico no combate a décadas de discriminação perpetuadas pela US Soccer”. No entanto, a instituição deixou claro que não descansará até as promessas serem cumpridas.
“Embora o acordo alcançado hoje seja um sucesso incrível”, disse a associação, “muito trabalho ainda precisa ser feito”.
Após o anúncio do acordo, Alex Morgan comemorou nas redes sociais. “É um dia histórico para nós! Foram anos e anos de luta pela igualdade dentro do nosso esporte. Hoje conseguimos isso com o US Soccer!”, declarou.
A atleta Megan Rapinoe disse que esse será um dia considerado um marco para o nascimento de um novo futebol nos EUA. “É um dia realmente incrível. Acho que vamos olhar para trás neste dia e dizer que este é o momento em que, você sabe, o futebol americano mudou para melhor”, pontuou. “Quando nós vencemos, todos vencem”, acrescentou Megan.
Carli Lloyd agradeceu todas as mulheres que passaram pelo futebol feminino e diz que a luta ajudará as próximas estrelas a receberem o que merecem. “Hoje marca um dia histórico para as jogadoras atuais da seleção dos EUA, as pioneiras das mulheres que vieram antes de nós, as gerações vindouras e as mulheres ao redor do mundo”, disse.
“Foi uma longa batalha que exigiu muito trabalho de tantas pessoas. Gratidão e gratidão por todos os envolvidos”, agradeceu.