ESTADUAIS

SAF mostra que, no futebol brasileiro, é bola rolando e negócios à parte

Enquanto vivem profundas reformulações da SAF, clubes como Cruzeiro, Botafogo e Gama usam torneios caseiros como laboratórios para o novo modelo. Veja como cada um está se saindo no campo em meio ao processo para virar empresa

Aprovada em agosto de 2021 após longa tramitação no Congresso Nacional, a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) virou tema central do noticiário de diversos clubes que enxergam no projeto uma luz no fim do túnel para se reinventarem e abandonarem, de vez, os problemas financeiros.

Nos últimos meses, vários deles atuam fora de campo para colocar em ordem os trâmites necessários no processo de migração. Enquanto isso, a bola rola em campo. Com a morosidade para se tornarem uma empresa, as agremiações conciliam a burocracia e a necessidade de resultado nos Campeonatos Estaduais.

Times como Cruzeiro, Botafogo, Gama, Athletic-MG e Figueirense vivem a situação. Em etapas distintas da implementação das SAFs, todos fazem dos estaduais uma espécie de “prétemporada” do novo modelo de administração. No futebol, porém, os resultados raramente ficam à parte dos negócios

Com isso, os clubes implementam as mudanças administrativas — como dispensa de atletas, criação e reformulação de processos internos —, em meio à necessidade de agradar seus consumidores sedentos por vitórias e evitarem tumultos causados por desempenho esportivo ruim nos primeiros passos da nova era.

Vendido para Ronaldo em dezembro, o Cruzeiro vive uma fase de inserção na verdadeira realidade do clube. O grupo liderado pelo Fenômeno reviu contratos, renunciou a nomes históricos, como o goleiro Fábio, e implantou profundas políticas financeiras para conter a sangria causada pela dívida de cerca de R$ 1 bilhão.

Mesmo com as dificuldades encontradas nos bastidores — desde que virou SAF, a Raposa conseguiu apenas expandir a receita de sócios —, o time azulceleste vem bem em campo e lidera a primeira fase do Campeonato Mineiro com cinco vitórias e uma derrota.

Finalizando a negociação do departamento de futebol com o norte-americano John Textor, o Botafogo também atravessa um processo de reconstrução, mas com menor turbulência. Com meta de colocar o alvinegro em um novo patamar, o investidor está tomando as rédeas do clube. Ele reviu, por exemplo, contratos de patrocínio e desfez aqueles que não se enquadram na nova política.

No gramado, a principal mudança da gestão foi a opção pela demissão do técnico Enderson Moreira. Estável nas quatro linhas, o Glorioso está em terceiro no Carioca, mas brigando ponto a ponto com os três rivais estaduais.

Tensão na capital

A experiência mais traumática de transformação em SAF está no Distrito Federal. Em dezembro, o Gama aderiu ao modelo. Porém, em janeiro, entrou em litígio com Leonardo Scheinkman, gestor responsável por captar os investimentos. Sob a alegação de descumprimento de acordos financeiros, o alviverde tenta encerrar o acordo.

Em meio ao fogo cruzado, o elenco gamense cobra salários atrasados. Nos últimos dias, o grupo decretou greve, evitou W.O. contra o Brasília apenas horas antes do jogo e ainda vive clima tenso. A equipe só joga, hoje, às 15h30, contra o Luziânia, se receber os valores a que tem direito.

Outro clube de menor investimento na esteira da SAF, o Athletic-MG vive situação totalmente oposta. Com o projeto, o time sonha alto após vender 49% de suas ações para um grupo de empresários. Enquanto se consolida no novo modelo, a equipe vem bem no Campeonato Mineiro: ocupa o terceiro lugar, atrás somente dos gigantes Cruzeiro e Atlético -MG.

Com o modelo constituído e já com novo CNPJ, o Figueirense joga o estadual de Santa Catarina ao mesmo tempo em que vasculha o mercado atrás de um investidor. Com as atenções divididas, o Furacão está no modesto sétimo lugar da primeira fase.

Clubes como Chapecoense e Coritiba aprovação a constituição das SAFs em seus conselhos e, agora, trabalham na estruturação interna para constituir um modelo próprio. A busca por investidores começará somente após a conclusão de todo o processo.

Clube-empresa desde sua criação, em 2001, o Cuiabá apenas migrou para o modelo, visto como mais atrativo. Todos eles têm uma mesma meta nos primeiros meses da temporada 2022: a missão de buscar dias melhores administrativamente enquanto lida com a pressão constante por resultados dentro das quatro linhas do gramado.