Eterno menino da Vila Belmiro, referência do Paris Saint-Germain e único jogador da Seleção Brasileira considerado fora de série, Neymar completa, hoje, 30 anos. O atacante atingiu uma idade na qual, teoricamente, não cabe mais atitudes que não sejam de um homem formado. A falta de sinais de amadurecimento, no entanto, é uma crítica que o acompanha desde quando deixou o Santos para vestir a camisa do Barcelona. Mas ele ainda parece distante de suportar o fardo e lidar com as responsabilidades de um dos craques mais talentosos do planeta.
O desenvolvimento pessoal do atacante contrasta com as expectativas depositadas nele por parte de torcedores e por quem acompanha o dia a dia do esporte. Mesmo sendo dono de atributos raros, ainda falta muito para o camisa 10 virar unanimidade, fato causado, principalmente, por controversos episódios fora das quatro linhas do gramado. Ser o melhor jogador do planeta e conquistar a Copa do Mundo são algumas das exigências para figurar entre os gigantes e se aproximar do patamar de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo — o astro português é outro aniversariante ilustre deste 5 de fevereiro, que chega aos 37 anos
A conquista do troféu de melhor jogador do mundo parece cada vez mais distante. Diante da ausência entre os finalistas nas recentes premiações, Neymar não coloca o prêmio como um objetivo pessoal indiscutível. As melhores colocações do brasileiro na corrida pela condecoração individual foram os terceiros lugares nas edições de 2015 (última edição organizada junto à Bola de Ouro da revista France Football) e de 2017, novamente sob a tutela exclusiva da Fifa
Maior desafio
Para driblar as críticas e incertezas, Neymar encara 2022 como o ano-chave para escrever capítulos inéditos dentro das quatro linhas. O mais novo membro do time dos trintões entre os boleiros viverá, neste ano, decisões que poderão mudar totalmente o rumo da carreira e definir, de uma vez por todas, o patamar em que ele será lembrado futuramente. O maior desafio estará na Copa do Mundo do Catar, marcada entre novembro e dezembro. Será o terceiro Mundial no currículo do camisa 10. O sentimento desta edição, porém, difere, pois pode ser a última da jornada profissional de Neymar
“Eu encaro como a minha última, porque não sei se terei mais condições, de cabeça, de aguentar mais futebol”, revelou em outubro do ano passado, em entrevista à DAZN. A constatação não é ratificada pela exigência do esporte. Zidane tinha 34 anos quando levou a França ao vice-campeonato na Alemanha, em 2006. Messi terá 35 e Cristiano Ronaldo, 37, quando a bola rolar no Catar. Em âmbito nacional, várias outras referências realmente tiveram o último Mundial antes dos 30 anos. Casos de Romário, Rivaldo, Ronaldo e, até mesmo, Pelé, a quem Neymar persegue na artilharia máxima da Seleção.
Afirmar não ter mais cabeça para o futebol é um alerta para um atacante acostumado a trombar com problemas muito maiores do que os zagueiros adversários. Neymar protagonizou, fora das quatro linhas, alguns episódios imaturos e de relativos desequilíbrios emocionais. Talvez, o mais lembrado seja o da final da Copa da França, em 2019, quando acertou um soco em um torcedor do Rennes e criticou jovens companheiros de PSG. À época, o brasileiro foi suspenso por três jogos de competições nacionais.
Teste de confiança na Liga dos Campeões
Assim como o psicológico, o fator físico também é um entrave para o ex-santista. Desde a chegada ao Velho Continente, Neymar sofreu com, pelo menos, cinco lesões graves. A mais recente, em novembro de 2021, quando torceu o tornozelo e precisou deixar o campo de maca. Isso diminui a confiança e o tempo do craque no campo de jogo. Pouco mais de dois meses depois, o camisa 10 está em fase final de recuperação e não esconde a ansiedade para retornar aos gramados.
Sorridente, ontem, ele treinou pelo segundo dia consecutivo com os companheiros de PSG, chegando a trabalhar com bola. Ele ainda não joga a partida contra Lille, amanhã, pelo Campeonato Francês, mas tem a expectativa de estar entre os relacionados para o jogo de ida das oitavas de final da Liga dos Campeões, contra o Real Madrid, no próximo dia 15.
Os confrontos contra os merengues são dois dos principais obstáculos para Neymar em 2022. Após superar os discursos de ódio dos próprios torcedores do PSG e deixar de lado os capítulos em que queria pular fora do clube — chegando a dizer que toda partida para ele seria “fora de casa” —, o brasileiro deu uma resposta ao renovar contrato até 2025, mostrando-se comprometido na principal missão na Cidade Luz: a inédita conquista do principal torneio europeu de clubes.
As campanhas recentes no torneio continental mostram que a equipe da capital francesa pode estar amadurecendo o título. Em 2019/2020, os parisienses ficaram com o vice-campeonato na final contra o Bayern de Munique. Na temporada seguinte, caíram na semifinal diante do Manchester City.
Neymar, naturalmente, comemorará muito os 30 anos, pois este 5 de fevereiro pode marcar o amadurecimento de um dos personagens mais polêmicos, cobrados e promissores que o futebol mundial conheceu nos últimos anos. As comemorações dele podem, ainda, se estender a milhões de brasileiros e parisienses em 2022, em ano de Copa do Mundo e mata -mata de Liga dos Campeões.
*Estagiário sob a supervisão de Fernando Brito