Olimpíadas

Jogos Olímpicos de Inverno 2022: os países tropicais que tentam medalha inédita em Pequim

O Brasil está levando uma delegação de 11 atletas a Pequim, dois a menos que em Sochi 2014, quando o país bateu o seu recorde de participantes



Um país tropical jamais ganhou uma medalha em Jogos Olímpicos de Inverno. Mas isso não impede que um número crescente de países continue tentando.

O Brasil está levando uma delegação de 11 atletas a Pequim, dois a menos que em Sochi 2014, quando o país bateu o seu recorde de participantes. Ainda assim, é um número maior do que os nove atletas que foram para PyeongChang 2018. O Brasil vai concorrer no esqui cross-country, bobsled, esqui alpino, skeleton e esqui freestyle mogul.

Confira alguns casos de atletas de países tropicais que buscam o pódio nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, realizados em Pequim - incluindo um esquiador alpino da Arábia Saudita, um time de bobsled jamaicano (assim como no filme Jamaica Abaixo de Zero) e uma esquiadora de cross-country competindo pela Tailândia.

Das dunas da Arábia Saudita às descidas com neve

Você estaria desculpado se não associasse imediatamente a Arábia Saudita a Jogos de Inverno, mas um atleta do reino do deserto em breve vai tentar fazer história em Pequim.

Fayik Abdi, de 24 anos, será o único representante de seu país nos Jogos, competindo na prova de esqui alpino.

"Estou ciente de que representar a Arábia Saudita nos Jogos de Inverno parece curioso para muitas pessoas, mas é uma grande honra fazer história não apenas para o meu país, mas para toda a região do Golfo", disse Abdi à BBC.

Estes Jogos Olímpicos de Inverno, que começam nesta sexta-feira (4/2) na capital chinesa, serão os primeiros com participação de um atleta da Arábia Saudita.

Como Abdi chegou em Pequim?

Seu sonho olímpico teve um começo curioso.

Abdi foi um dos mais de cem candidatos que responderam a um anúncio feito pela recém-formada Federação de Esportes de Inverno da Arábia Saudita, pedindo potenciais candidatos para uma equipe olímpica. Abdi aprendeu a esquiar quando tinha apenas 4 anos e, depois, aproveitou seus estudos universitários nos EUA para praticar esqui.

Seu exemplo ilustra a tendência de aumento da participação de países "sem neve" nas Olimpíadas de Inverno.

Enquanto os primeiros Jogos de Inverno, em 1924, contaram apenas com 14 países europeus ao lado dos EUA e Canadá, um recorde de 92 países, de todo o mundo, participaram dos últimos Jogos, realizados na Coreia do Sul em 2018.

Em Pequim, serão 91 nações concorrentes, incluindo as estreantes Arábia Saudita e Haiti, além de outros países conhecidos pelo clima mais quente, como Brasil, Timor Leste, Gana e Taiwan.

E, claro, a Jamaica.

A equipe de bobsled jamaicana (como em 'Jamaica Abaixo de Zero')

Getty Images
A surpreendente participação da Jamaica nos Jogos de Inverno de 1988 ficou imortalizada no filme 'Jamaica Abaixo de Zero'

A ilha caribenha da Jamaica sempre vem à mente quando se pensa em "um país tropical participando das Olimpíadas de Inverno". E isso se deve a Hollywood e ao filme Jamaica Abaixo de Zero, de 1993.

Baseado na história da equipe jamaicana de bobsled de quatro homens que chegou aos Jogos Olímpicos de Inverno de Calgary em 1998, no Canadá, o filme fez mais do que apenas entreter o público em todo o mundo. Ele inspirou outras "nações sem neve" a tentar a sorte.

E enquanto o país participou de várias Olimpíadas seguintes nos eventos de bobsled de dois homens, Pequim marcará a primeira participação de uma equipe de quatro homens desde os Jogos de Nagano, em 1998.

Em Pequim, a ilha caribenha também será representada por uma equipe de dois homens, enquanto Jazmine Fenlator-Victoria participará do monobob feminino.

Shanwayne Stephens
A pandemia fez com que a equipe jamaicana de 2022 usasse alternativas de treinamento, como empurrar um Mini Cooper

Mas o quarteto também ganhou manchetes devido a alguns métodos de treinamento que pareciam uma cena do filme de 1993.

Em 2020, dois membros da equipe, Shanwayne Stephens e Nimroy Turgott, foram vistos empurrando um Mini Cooper em uma propriedade industrial na cidade britânica de Peterborough (as academias do Reino Unido estavam fechadas na época devido ao lockdown para conter a pandemia).

"Eu adorava aquele filme quando criança e me ensinou a nunca desistir dos meus sonhos", disse Stephens à BBC.

E o filme não inspirou apenas a Jamaica. Ele foi usado até mesmo como parte de uma campanha em busca por financiamento para uma equipe brasileira, que tentou se classificar para os Jogos de 1998.

Mas a história dos países sem neve que participam da competição é muito mais antiga. O Comitê Olímpico Internacional (COI) afirma que o México foi a primeira nação de clima quente a competir nos Jogos de Inverno, em 1928.

As nações tropicais só chegariam em 1972, quando as Filipinas tiveram dois competidores masculinos no evento de esqui alpino.

O aumento do interesse de países não-tradicionais nos Jogos de Inverno proporcionou maiores oportunidades para os atletas.

Um dos exemplos é o Haiti, que fará sua estreia olímpica em Pequim, com o esquiador alpino Richardson Viano. Embora haitiano de nascimento, ele foi adotado por uma família francesa aos três anos de idade e vive na Europa desde então.

Depois de não se classificar para a seleção olímpica francesa para os Jogos de PyeongChang de 2018, Viano foi abordado pelas autoridades esportivas haitianas para competir sob sua bandeira.

Em entrevista ao site de notícias haitiano Haiti Libre, o esquiador disse que o convite deu um novo fôlego à sua carreira.

"Sem essa ligação, eu certamente teria parado de esquiar e estaria trabalhando na construção civil", disse Viano.

Uma esquiadora cross-country representando a Tailândia

Karen Chanloung
Karen Chanloung e seu irmão Mark nasceram na Itália, mas representarão o país de nascimento de seu pai, a Tailândia, em Pequim

Karen Chanloung será uma das quatro atletas representando a Tailândia em Pequim.

A jovem de 25 anos nasceu na Itália e competiu sob a bandeira italiana ao lado de seu irmão Mark nas categorias de base. Mas em 2016, a Tailândia, terra natal de seu pai, a procurou.

Ambos os irmãos participaram dos Jogos de 2018 no evento de esqui cross-country e Mark também estará presente em Pequim.

"Nós sempre quisemos representar o país do meu pai quando éramos crianças, mas a Tailândia não tinha uma Federação de Esportes de Inverno por muitos anos", explica Karen Chanloung.

"Mas é algo muito importante para mim e para meu irmão representar a Tailândia. O país faz parte de nós e crescemos com a cultura tailandesa."

Em termos de treino, atletas de países sem neve costumam enfrentar mais viagens para conseguir treinar, o que provou um desafio a mais em tempos de restrições de covid-19.

"A pandemia atrapalhou, é claro, mas é a realidade da vida de todos agora", diz o esquiador saudita Fayik Abdi.

"Mas isso só contribuiu para deixar ainda mais doce a sensação de se classificar para os Jogos Olímpicos de Inverno."

Getty Images
A Austrália é o melhor exemplo de um país quente indo bem e ganhando medalhas nos Jogos Olímpicos de Inverno

À medida que mais nações sem neve participam dos Jogos Olímpicos de Inverno, o fato é que muitos ainda não tiveram um impacto significativo (em termos de medalhas).

Segundo o COI, nenhum país tropical ganhou uma única medalha na competição.

A Austrália é a única exceção quando se trata de um país com clima mais quente, tendo conquistado 15 medalhas em 19 Jogos de Inverno.

Mas como o COI adota o sistema de classificação climática de Koppen, a Austrália é considerada um país seco, e não tropical.

No entanto, essa barreira não diminui o ânimo de atletas como Fayik Abdi e Karen Chanloung.

"É importante que os países tenham sua bandeira em uma competição tão importante quanto as Olimpíadas", acredita Chanloung.

"Como atletas, não há nada maior do que esta competição. Queremos dar o nosso melhor."

E Abdi concorda. Seu sonho olímpico faz parte de um esforço maior para desenvolver uma cultura de esportes de inverno na Arábia Saudita, que inclui a construção do quarto maior centro de neve indoor do mundo.

"Espero ajudar a inspirar as pessoas", diz Abdi, porque no futuro ele quer que outras pessoas "na Arábia Saudita e na região do Golfo pratiquem esportes de inverno e talvez cheguem aos Jogos de Inverno também."


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