SUPERCOPA DO BRASIL

Como os europeus transformam pequenos torneios em grandes negócios

Enquanto dirigentes de Atlético-MG e Flamengo trocam farpas por causa da escolha da Arena Pantanal e do melhor hotel, competições equivalentes das ligas europeias internacionalizam o evento e geram novas receitas aos clubes

Marcos Paulo Lima
postado em 18/02/2022 15:17
 (crédito: Lucas Figueiredo/CBF)
(crédito: Lucas Figueiredo/CBF)

Treta na definição da sede. Troca de farpas devido à escolha antecipada de um clube pelo melhor hotel de Cuiabá. Alfinetadas sobre um suposto favorecimento ao time mais popular do país e sua torcida nacional. Ataques à estrutura hoteleira e de centros de treinamento de Mato Grosso. Enquanto dirigentes de Atlético-MG e Flamengo agem nos bastidores com picuinhas que lembram o espírito amador dos anos 1980, as principais ligas europeias tratam pequenos torneios como a Supercopa do Brasil de domingo (20/2), às 16h, na Arena Pantanal, como grandes negócios, e cada vez mais internacionalizam a marca do evento.

Não faltou oportunidade. Atlético e Flamengo tiveram a chance de unirem-se à CBF para receberem bem mais do que os R$ 7 milhões que dividirão em Cuiabá — R$ 5 milhões ao campeão e R$ 2 milhões ao vice. Um grupo dos Estados Unidos cobiçava realizar a partida, em julho, no Camping World Stadium, em Orlando, um dos candidatos a hospedar a Copa do Mundo dos EUA, Canadá e México em 2026. Mas para perder dinheiro houve consenso. As diretorias avaliaram que a viagem no meio do ano seria longa e prejudicaria o calendário dos times nas demais competições.

Enquanto Atlético e Flamengo "rasgam dólares", as últimas quatro edições da Supercopa da Espanha foram vendidas a países como Marrocos e Arábia Saudita. A comercialização gerou receita altíssima e polêmicas. Depois de passar por Tanger, o evento armou o circo em Jeddah e Riad. Os sauditas teriam acertado investimento de 30 milhões de euros por ano (cerca de R$ 176,4 milhões) para hospedar a competição. O negócio alimentou debates no país ibérico por ser disputado em uma nação onde os direitos humanos não são respeitados, especialmente das mulheres.

Enquanto o presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, ressuscitou um evento que só havia sido disputado em 1990 e 1991, no início da gestão do cartola Ricardo Teixeira, a Espanha internacionaliza o evento como forma de não extingui-la. "A Supercopa tinha dois caminhos: um era acabar, encerrar a competição. O outro, buscar um formato atraente que gerasse interesse e muito mais receita", argumentou o chefe da Federação Espanhola, Luis Rubiales, para justificar a mudança.

O Trophée des Champions, como é chamada a Supercopa da França, leva vida cigana faz tempo. Foi disputada em oito nações diferentes: Canadá, Tunísia, Marrocos, Estados Unidos, Gabão, China, Áustria e Israel. A Supercopa da Itália se instalou duas vezes nos Estados Unidos, uma na Líbia, na China, no Catar, na Arábia Saudita e voltou para casa nas últimas duas edições devido à pandemia do novo coronavírus.

Outras ligas tratam o evento como consumo interno. As últimas nove versões da Community Shield — Supercopa da Inglaterra — foram na capital Londres, em Wembley. Houve exceção, em 2012, devido aos Jogos Olímpicos. A Supercopa da Alemanha não arrasta o pé do país nem tem sede fixa.

Diante das inúmeras polêmicas, a CBF não descarta mudanças em 2023, como a realização da Supercopa em outro país e a escolha antecipada do palco do confronto.

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