CANDANGÃO

A maldição da quebra de poder no futebol candango

Dos quatro clubes que interromperam alternância de títulos de Gama e Brasiliense, três amargaram rebaixamentos após as glórias locais. O último deles, o bicampeão Luziânia

Victor Parrini*
postado em 18/02/2022 15:08
 (crédito: Andre Borges/Agencia Brasilia)
(crédito: Andre Borges/Agencia Brasilia)

O futebol do Distrito Federal tem as suas particularidades. Ao longo dos anos, o Campeonato Candango mostra que chegar ao topo é difícil e que se manter nele é uma missão ainda mais complicada. Principalmente para os times de menor poderio. Na capital do país, a bola é fiel aos costumes e a quebra de tradições custou caro para alguns times. Dos quatro times que ousaram dar fim à alternância de poder de Gama e Brasiliense nos últimos 20 anos do torneio local, três foram rebaixados para a segunda divisão anos após as conquistas: CFZ, Sobradinho e, neste ano, Luziânia.

Fundado em 1999 pelo ídolo flamenguista Zico, o CFZ não demorou muito para despontar como uma possível potência do futebol do DF. Em 2001, a equipe foi finalista da divisão de acesso e conquistou o direito de disputar a elite local na temporada seguinte. Sob a batuta do técnico Reinaldo Gueldini — hoje auxiliar permanente do Brasiliense — o time deu um passo a mais: não tomou conhecimento dos adversários e faturou o título candango de forma invicta, algo que apenas o Brasília (1977, 1978 e 1980) e Gama (1999) haviam conseguido até então. A conquista quebrou a hegemonia gamense que durava quatro anos.

Mas a ascensão do CFZ no primeiro escalação do quadradinho não foi adiante. Nas temporadas subsequentes, o clube conseguiu avançar no torneio e até ser vice-campeão, em 2004, frente ao Brasília. Porém, a campanha histórica de 2002 jamais foi repetida. Quatro anos depois do caneco absoluto, o time de Zico amargou o seu primeiro rebaixamento. Em 2007, a agremiação disputou a segunda divisão local. A campanha foi péssima e culminou na queda para a terceira prateleira do futebol local. O retorno à elite aconteceu apenas em 2011 e, na mesma temporada, veio um novo tombo.

Elenco do CFZ campeão candango em 2002
Elenco do CFZ campeão candango em 2002 (foto: Reprodução)

A outra história de um campeão que ousou quebrar as relações de poder e paradigmas é contada pelo Luziânia. Em 2014 e 2016, a equipe do entorno venceu o torneio e rompeu a hegemonia do Brasiliense, campeão de oito das últimas dez edições à época. De quebra, a Igrejinha se tornou o primeiro clube "forasteiro" a conquistar uma competição organizada por uma entidade de outro estado.

Os goianos sabem que ser campeão é difícil e viram que se manter no controle do jogo é uma tarefa ainda mais árdua. Na última rodada do Candangão 2022, o Luziânia chega com a terceira queda concretizada, igualando os feitos negativos de 2000 e 2007. Com bastidores conturbados, a equipe foi derrotada em seis dos oito jogos disputados. Às vésperas da nona e última jornada, o plantel não comemorou uma vitória sequer e seus pontos são provenientes de dois empates.

A maldição dos intrusos na sequência de títulos da dupla Gama e Brasiliense é comprovada por mais um que sentiu o gosto amargo do rebaixamento pouco tempo depois. Em 2018, o Sobradinho representou aquilo que o DF tinha de melhor nas quatro linhas. O caneco veio de forma emocionante após superar o Jacaré, atual campeão na ocasião, nos pênaltis, por 4 x 3. Foi o primeiro título candango do Leão da Serra após 32 anos, somando-se aos troféus de 1985 e 1986.

Sobradinho levanta a taça de campeão candango de 2018
Sobradinho levanta a taça de campeão candango de 2018 (foto: Divulgação/Sobradinho E.C.)

A glória do Sobradinho marcou, também, o início da decadência de um tradicional do DF. Após o título, a equipe teve mais os mesmos brilhos e chegou, no máximo, às quartas de final em 2019 e 2020. Até aí, tudo bem. Porém, em 2021, o alvinegro teve a segunda pior campanha do campeonato local e sentiu o peso do rebaixamento com cinco derrotas em seis jogos.

Foi a despedida do último intruso nas alternâncias de títulos de Jacaré e Periquito. Em 2019 e 2020, o plantel gamense reinou absoluto, enquanto, em 2021, o Distrito Federal foi amarelo novamente. Mas a curiosa história dos gramados do DF continua. Ainda há páginas a serem escritas nos capítulos de 2022. Caminhando para o quadrangular semifinal, Capital, Ceilândia e Brasiliense já estão garantidos. O Gama tenta contornar os problemas internos e depende apenas de suas próprias forças para pegar a vaga e sonhar com calendário nacional no ano que vem.

*Estagiário sob a supervisão de Danilo Queiroz

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  • Sobradinho levanta a taça de campeão candango de 2018
    Sobradinho levanta a taça de campeão candango de 2018 Foto: Divulgação/Sobradinho E.C.
  • Elenco do CFZ campeão candango em 2002
    Elenco do CFZ campeão candango em 2002 Foto: Reprodução
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