FUTEBOL

Posição da experiência

Dos 20 clubes da elite do futebol brasileiro, 15 apostam em goleiros acima dos 30 anos para envergarem suas camisas de número um. Mais velho da lista, Fábio chega ao Fluminense utilizando a rodagem como trunfo no novo desafio

Habituados a jogar isolados debaixo das traves, os goleiros pelo planeta bola também estão acostumados a remar contra a maré quando o assunto é a duração de uma carreira. Enquanto muitos jogadores de linha se esforçam para chegar nas casas dos 30 anos com fôlego e disposição — ou até mesmo aposentam na faixa etária —, os arqueiros mostram que, à frente da meta, a experiência é sinônimo de segurança e liderança. Para ilustrar bem a confiança neles, dos 20 clubes da próxima Série A do Campeonato Brasileiro, 15 apostam em guardiões trintões.

Até mesmo no mercado da bola os mais experientes são grandes alternativas. Ídolo do Cruzeiro, Fábio, de 41 anos, deixou o clube mineiro em janeiro sob muita comoção da torcida. Livre, o camisa um negociou com o América-MG, mas acabou fechando com o Fluminense para jogar a próxima Libertadores. No tricolor, tem tudo para assumir a titularidade. "Estou super motivado e empolgado, como se fosse meu primeiro ano, mas utilizando a experiência que adquiri nessa grande estrada que Deus me permitiu, me concedeu a oportunidade de uma carreira muito longa, pela minha dedicação e meu empenho no dia a dia", ressaltou o goleiro.

A média de idade elevada debaixo das traves brasileiras é uma receita que possibilita fortes vínculos entre os atletas, clubes e suas torcidas. Campeão nacional, estadual, continental e mundial pelo Corinthians, Cássio está prestes a entrar no seleto grupo de jogadores com uma década de Timão. O arqueiro alvinegro tem 550 jogos pelo time, completará 35 anos em julho e garante ainda ter muita lenha para queimar. No rival Palmeiras, Weverton, muitas vezes lembrado por Tite na Seleção Brasileira, é unanimidade. Aos 34 anos, o camisa 21 caminha para a sua quinta temporada no Palestra. Desde o início da trajetória, em 2018, o goleirão faturou duas Libertadores, um Paulistão, uma Copa do Brasil e um Brasileirão.

Bons exemplos se estendem para além da dupla paulista. No Athletico-PR desde as categorias de base, Santos, aos 31, ostenta duas Copas Sul-Americanas no currículo. O faro para títulos internacionais também é virtude de outro rubro negro: o carioca. Diego Alves é dono das luvas na Gávea desde 2017. De lá para cá, conquistou dois Campeonatos Brasileiros, duas Supercopas do Brasil, uma Libertadores e uma Recopa Sul-Americana e alguns títulos do Carioca. Mesmo vindo de uma temporada abaixo, um dos capitães do elenco rubro-negro renovou contrato com o time carioca.

O Brasil é mesmo a fábrica de paredões que se aproveitam da experiência para colocar suas equipes no topo. No quesito, as maiores referências do cenário nacional são, sem dúvidas, Rogério Ceni, no São Paulo, e Marcos, no Palmeiras. Nome de destaque no alviverde nas últimas temporadas, mesmo na condição de reserva, Jaílson é outra opção livre no mercado. Mais um brasileiro garantido na Libertadores, o América-MG está de olho na experiente opção para substituir Matheus Cavichioli, de 35 anos, mas que deixará a meta americana para se recuperar de um procedimento cardíaco.

Apesar de serem poucos, ainda há clubes na elite nacional apostando em nomes abaixo dos 30 anos. Após a negociação de Marcelo Lomba para o Palmeiras, o Internacional entrará no Campeonato Gaúcho com quatro goleiros formados nas categorias de base do clube e talvez pouco conhecidos: Daniel (27 anos), Keiller (25 anos), Emerson Júnior (21 anos) e Anthoni (19 anos). Na Serra do estado, o Juventude tem três peças novas: Arthur Ribas, de 19, William, de 23, e César, de 26, disputarão a vaga no setor.

Na Vila Belmiro, João Paulo está consolidado na posição. O atleta de 26 anos mostrou serviço e venceu a concorrência do companheiro John. No recém-promovido Botafogo, Diego Loureiro, de apenas 23, é o mais cotado para defender a meta alvinegra. O clube carioca, porém, ainda conta o experiente Gatito Fernández, 33, como opção. País do futebol, o Brasil sabe produzir não apenas peças talentosas com os pés, mas, também, aquelas que dificultam a vida de quem precisa colocar a bola na rede. Por aqui, o tempo de maturação pode ser parte da receita de um clube campeão.

* Estagiário sob a supervisão
de Danilo Queiroz