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Afetados pela nova onda

FUTEBOL Em meio ao avanço da variante ômicron no país, clubes da Série A do Campeonato Brasileiro registram 87 casos de covid-19 após o início da pré-temporada. Times que mais testam, trio paulista enfrenta surto interno

No futebol, início de temporada é sinônimo de renovação dos exames médicos para averiguar a fundo o estado de saúde de cada jogador. Desde 2020, com o avanço da pandemia pelo mundo, o checklist de todos os clubes do país ganhou mais um item: os testes para detectar a infecção pelo vírus da covid-19. Na preparação para 2022, não foi diferente. E o índice de atletas positivados para a doença chamou a atenção. Nas reapresentações das 20 equipes da próxima Série A do Campeonato Brasileiro, foram diagnosticados 87 casos da doença.

O número significa um índice de 14,5% de contaminações em um universo de aproximadamente 600 jogadores. Apesar dos clubes não especificarem a cepa contraída pelos atletas, o alto número de contaminações evidencia o avanço da variante ômicron, uma das mais transmissíveis do novo coronavírus. De acordo com levantamento do Correio, somente três clubes da primeira divisão — Athletico-PR, Avaí e Cuiabá — não divulgaram a incidência de novas infecções após a reapresentação dos elencos para a temporada 2022 durante os primeiros dias de janeiro.

Todos os outros 15 participantes da elite nacional tiveram, pelo menos, um caso na volta aos trabalhos. Apostando na testagem diária dos jogadores durante a pré-temporada, os paulistas Palmeiras, Santos e São Paulo registraram pequenos surtos em seus elencos. O alviverde teve 11 casos, enquanto o alvinegro registrou 13 infecções e o tricolor, líder de positivados, teve 14 diagnósticos. Com a flexibilização do período em quarentena, grande parte dos infectados retornaram ao trabalho após cumprirem o isolamento social. Não houve, ainda, registro de sintomas graves nos atletas.

O infectologista Hemerson Luz ressalta, porém, que assintomáticos podem ficar dois ou três dias transmitindo o vírus, principalmente a variante. "O índice de 14,5% de jogadores infectados pelo coronavírus mostra a maior transmissibilidade da covid-19, que está ocorrendo atualmente. Os jogadores são submetidos a protocolos e, em cada clube, existem regulamentos que devem ser seguidos. Porém, existem as equipes de apoio, técnica, além da vida do jogador fora do clube. Isso tudo impacta na forma que a doença se manifesta, pois até mesmo os assintomáticos transmitem o vírus", explica.

Afetado por um surto interno nos primeiros meses da pandemia, em 2020, o Flamengo teve praticamente todos os jogadores do elenco positivados para a covid-19 em algum momento. Com isso, na reapresentação, em 10 de janeiro, o rubro-negro realizou exames cardiológicos específicos para investigar possíveis sequelas cardiológicas causada pela covid-19. Nos primeiros dias de 2022, somente um atleta do elenco carioca foi diagnosticado com a doença.

Luz elogiou a iniciativa do Flamengo para entender melhor o processo do vírus em esportistas de alto rendimento. "Estudos clínicos e epidemiológicos sobre o impacto da covid-19 entre as pessoas são necessários. Um estudo que abranja as sequelas ou possíveis impactos da doença em atletas, jogadores de elite, é de suma importância. O teste rápido de antígeno, o RT-PCR ou mesmo a sorologia ajudam a montar um banco de dados para perceber qual o tipo de manifestação mais comum nesse grupo de atletas e a melhor forma de lidar com o vírus", detalha o infectologista.

Impactos

Apesar do alto número de casos nos clubes envolvidos na disputa da Série A do Campeonato Brasileiro, alguns times de fora da elite registraram impactos mais graves em seus elencos. Integrante da Série B do torneio nacional em 2022, a Chapecoense registrou 24 diagnósticos positivos e precisou interromper a pré-temporada por alguns dias. Com nove casos simultâneos, a Ponte Preta seguiu o mesmo caminho e paralisou os treinos presenciais como medida de precaução. Gradualmente, os dois clubes tentam retomar a rotina normal de preparação.

"A variante ômicron se caracteriza por ter uma maior transmissibilidade. Ela passa mais facilmente de uma pessoa para outra e está relacionada a surtos, como através do aumento do número de casos em locais fechados, como empresas, escolas e até mesmo nos clubes de futebol. Temos que considerar que qualquer atividade que tenha aglomeração ou quebra do distanciamento entre as pessoas poderá facilitar a transmissão dessa variante", alerta o infectologista Hemerson Luz.