Novak Djokovic agradeceu em mensagem na internet o apoio que vem recebendo nas últimas horas vindo de "ao redor do mundo" depois de ficar em um centro de retenção em Melbourne, esperando para saber se pode entrar na Austrália ou se terá que voltar para casa.
"Obrigado à minha família, meus amigos, a Sérvia e todas as pessoas boas ao redor do mundo que me enviaram seu apoio. Agradeço a Deus pela saúde", escreveu ele em uma mensagem em sérvio.
Esse apoio, "eu posso senti-lo e estou muito agradecido", escreveu também, em inglês.
O tenista número 1 do mundo também desejou um Feliz Natal aos ortodoxos, depois de acordar pela segunda vez, nesta sexta-feira, em um centro de retenção em Melbourne, onde o Aberto da Austrália, o primeiro torneio de Grand Slam de 2022, começa no dia 17 de janeiro.
Como em uma "prisão"
A tenista tcheca Renata Voracova está no mesmo centro de retenção que Djokovic, disse o Ministério das Relações Exteriores da República Tcheca nesta sexta-feira, e a própria jogadora disse que se sentia "como em uma prisão".
O ministério declarou que estava protestando contra essa retenção e que Voracova havia concordado em deixar o país e não participar do Open "já que suas possibilidades de treinamento são limitadas".
Em entrevista aos jornais tchecos DNES e Sport nesta sexta-feira, Voracova falou sobre sua experiência naquele centro.
"Estou em um quarto e não posso ir a lugar nenhum", disse a especialista em dublas de 38 anos.
"Não posso abrir uma fresta da minha janela mais do que alguns centímetros", disse ela.
"Há guardas em todos os lugares, inclusive em baixo da minha janela, o que é muito engraçado. Talvez eles pensem que eu vou pular e fugir", acrescentou.
"Me trazem comida e há um guarda no corredor. Tudo é racionado. Eu me sinto um pouco como em uma prisão", afirmou ela.
Fãs de Djokovic protestam
Fãs do tenista sérvio Novak Djokovic protestaram mais cedo contra a retenção do número um do mundo na Austrália, situação que gerou reação furiosa da Sérvia.
Enfrentando a chuva, 50 pessoas - incluindo fãs de tênis, manifestantes antivacinas e defensores dos direitos dos migrantes - se reuniram neste dia de Natal ortodoxo em frente ao centro de retenção em Melbourne.
"Viemos para apoiá-lo, porque é o nosso Natal, e ele está passando por momentos difíceis", disse Sash Aleksic, em frente às instalações.
Nem todos os manifestantes eram fãs de Djokovic.
"Refugiados são bem-vindos, Djokovic não é", gritava um grupo até a intervenção da polícia para separá-lo dos fãs do atleta.
O centro de detenção, localizado no antigo Hotel Park, abriga 32 refugiados e requerentes de asilo, presos no rígido sistema de migração australiano.
Acredita-se que o tenista sérvio esteja entre eles, mas as autoridades se recusam a dizer onde Djokovic está sendo mantido.
Por enquanto, o tenista de 34 anos passará o Natal ortodoxo à espera da batalha judicial contra o cancelamento de seu visto para participar do Aberto da Austrália.
A dez dias do início do torneio (de 17 a 30 de janeiro), não se sabe se o sérvio conseguirá buscar sua décima vitória em Melbourne, a quarta consecutiva, e quebrar o recorde de 21 Grand Slams. Apenas ele, Roger Federer e Rafael Nadal ostentam esta marca.
O visto de Djokovic, que é cético em relação à vacinação anticovid e não quer revelar se foi imunizado, foi cancelado na quarta-feira por descumprir as regras sanitárias para cruzar a fronteira australiana.
O sérvio conseguiu adiar sua expulsão pelo menos até segunda-feira, quando seu caso será examinado por um juiz de Melbourne.A Austrália quase não permite a entrada de estrangeiros em seu território e os poucos autorizados devem apresentar comprovante de vacinação completa, ou isenção médica.
O sérvio obteve dispensa médica dos organizadores da competição, mas seus requisitos são sutilmente diferentes. Por exemplo, uma infecção recente de covid permite disputar o torneio, mas essa condição não garante o acesso ao país.
A reação da Sérvia foi furiosa. O presidente Aleksandar Vucic denunciou o "infame" hotel onde se encontrava o tenista e denunciou a "perseguição política" contra seu herói nacional.
Em Belgrado, a família do tenista organizou uma manifestação na véspera do Natal ortodoxo, a religião majoritária no país balcânico.
"Jesus foi crucificado e submetido a muitas coisas, mas ele resistiu e ainda está entre nós. Novak também foi crucificado da mesma forma, o melhor atleta e homem do mundo", assegurou seu pai Sdrjan.
"Eles estão mantendo-o como um prisioneiro. Não é justo. Não é humano", lamentou sua mãe Djina, em declaração à imprensa na manifestação.
Nesta sexta, a ministra australiana do Interior, Karen Andrews, negou que Djokovic estivesse detido e revelou que outras duas pessoas da delegação do torneio estão sob investigação. Não especificou se são jogadores, ou treinadores.
"Djokovic não está preso na Austrália. Ele está livre para sair quando quiser, e a guarda de fronteira facilitará isso", garantiu.
O caso colocou em apuros o governo do primeiro-ministro Scott Morrison, questionado sobre a gestão do incidente alguns meses antes das eleições federais de maio.
Sob a pressão da explosão de casos de covid-19 e do colapso do sistema de testagem anteriormente considerado eficaz, Morrison se defendeu por ter revogado o visto de Djokovic no último minuto.
Muitos australianos veem essa polêmica como uma distração, já que o saldo de infecções ultrapassa 70.000 por dia, após quase dois anos sem quase nenhuma infecção.
"Isso está acontecendo enquanto enfrentamos uma grande crise pela ômicron", comentou o vice-presidente da Associação Médica Australiana, Chris Moy.
"É realmente irritante do ponto de vista sanitário (...) Precisamos que os governos se concentrem na crise da saúde, não em coisas estúpidas, francamente", disse Moy.