Era para ser uma carta manifestando por que a nação alviverde deve acreditar no tricampeonato da Libertadores na decisão de hoje, às 17h, no Estádio Centenário, em Montevidéu. Era o que estava combinado. Mas o remetente subverteu a ordem. Em vez do textão, expressão das gerações mais jovens, Ademir da Guia enviou um gentil áudio-bilhete. Estava exausto devido ao assédio na semana da decisão da final da Libertadores. Ainda assim, agiu com a elegância dos tempos da Academia de Futebol na atenciosa mensagem ao Correio.
A voz do Divino, adjetivo herdados do pai, Domingos da Guia, baita zagueiro das décadas de 1930 e 1940, lembra o estilo dele nos tempos de maestro do Palmeiras. Ritmo cadenciado, passadas largas, visão de jogo, habilidade com a bola nos pés e a gana por conquistas em 16 anos de Palmeiras. Sim, faltou a Libertadores no currículo. Azar dela. Ademir da Guia amargou o vice, em 1968, contra o Estudiantes de La Plata. O timaço comandado por um técnico estrangeiro, o argentino Alfredo González, como agora, sob a batuta do português Abel Ferreira, perdeu a partida desempate justamente no palco da decisão de hoje, o Centenário, em Montevidéu.
Atuante nas redes sociais, Ademir da Guia viveu para ver o Palmeiras campeão pela primeira vez em 1999. Celebrou o bicampeonato conquistado em janeiro contra o Santos. E no bilhete à nação alviverde enviado ao Correio, diz por que os 12 milhões de alviverdes devem pôr fé no título.
"O Palmeiras merece ser tricampeão da Libertadores pela sua torcida, pela sua camisa, pelo seu elenco de muitos craques e pela sua campanha. E precisa, no jogo contra o Flamengo, defender muito bem e atacar com rapidez para fazer os gols e vencer o jogo", recomenda o senhor "sereno, calmo e econômico nas palavras", como define o assessor dele, André Oliveira.
Ademir da Guia fala pouco, mas diz tudo.
Antes do jogo de ida da semifinal contra o Atlético-MG, escreveu: "Vocês sabem da capacidade dos companheiros e não precisam provar nada. Joguem com a alma e o coração de um verdadeiro palestrino. E sempre diz em decisões como a de Montevidéu: "Hoje, temos uma batalha pela frente, e todos sabemos o que temos que fazer. Nós como torcida e nosso elenco em campo"
Bom jogo para o Palmeiras.
Com carinho, Ademir Divino!