FUTEBOL

Os poréns da soberania

Brasil repete feito da Inglaterra e domina decisões da Libertadores e da Sul-Americana. Sucesso, entretanto, inflaciona Brasileirão, cria G-9 e faz até quem briga pela queda sonhar com vagas continentais

O Brasil estabeleceu uma nova ordem na América do Sul. Em 2021, o país subiu o sarrafo no continente e fincou uma bandeira de domínio nas principais competições da Conmebol. Igualando feito obtido pela Inglaterra, quatro times nacionais avançaram para as decisões. Na Libertadores, Flamengo e Palmeiras irão brigar pelo tricampeonato, em Montevidéu. Na Sul-Americana, Bragantino e Athletico-PR coloriram a final, também marcada para a capital uruguaia, de verde e amarelo. Mas há poréns: o feito criou um G-9 no Campeonato Brasileiro e faz até quem briga contra o Z-4 sonhar com torneios continentais.

A importância do feito conquistado pelos brasileiros é tão grande quanto a raridade dele. No Velho Mundo, o domínio aconteceu somente uma vez. Em 2018/2019, os times da Inglaterra estabeleceram uma monarquia nas duas principais competições da Uefa. Na Liga dos Campeões, Liverpool e Tottenham disputaram a orelhuda, com triunfo dos Reds. Na Liga Europa da mesma temporada, Chelsea e Arsenal chegaram na partida decisiva, com os Blues conquistando a consagração. Na Terra da Rainha, porém, o sucesso não provocou inchaço na liga local, pois cada país tem, no máximo, cinco vagas em torneios continentais.

O case de sucesso tupiniquim, até pouco tempo, era algo abominado pela Conmebol. Na Libertadores, até 2016, o regulamento da competição forçava o cruzamento entre compatriotas, mesmo quando vinham de lados opostos do chaveamento, no máximo nas semifinais. O dispositivo surgiu, curiosamente, quando o Brasil dominou as edições de 2005 e 2006. Presentes nas duas finais, o São Paulo jogou contra Atlético-PR e Internacional. À época, a soberania causou questionamentos de outros países sobre a disparidade de nível. Em 2007, o Grêmio foi impactado: pegou o São Paulo, nas oitavas, e o Santos, nas semis.

Quando adotou o sorteio único de chaveamento nas oitavas de final, em 2017, a Conmebol abandonou a prática. Curiosamente, a partir daí, a final entre compatriotas se tornou praticamente uma regra. Nas cinco edições posteriores, foram três decididas com equipes do mesmo país. Em 2018, o top-2 ficou restrito aos argentinos Boca Juniors e River Plate. Em 2020, foi a vez dos brasileiros retomarem o domínio com Palmeiras e Santos, feito repetido na atual temporada, com o alviverde e o Flamengo. Nenhum país, porém, havia classificados também os finalistas da Sul-Americana.

G-9 no Brasileirão

O expressivo domínio continental provocou um upgrade no número de vagas da Libertadores para o país. Em 2022, o Brasil terá nove representantes — os dois donos das taças internacionais, o campeão da Copa do Brasil e seis mais bem colocados do Campeonato Brasileiro. Sete irão direto à fase de grupos. O fato deve proporcionar um inédito G-9 na Série A. Para isso, os vencedores das Copas precisam ficar entre os melhores. Atualmente, os envolvidos nas disputas estão nas cabeças. Com isso, as duas vagas na pré-Libertadores descem o elevador, podendo chegar ao nono colocado.

Com o inchaço, o nível da disputa por lugares na Libertadores terá alterações. Até mesmo quem está brigando contra a Série B sonharia com vagas. Hoje, a diferença entre o 9º e o 17º é de sete pontos. O aproveitamento para participar do torneio mais importante do continente também seria afetado. Historicamente, quem fecha o G-9 costuma ter, em média, 53 pontos. A briga contra a queda, automaticamente, também seria por Sul-Americana. Com seis vagas brasileiras, a linha de corte pode ir até à 15ª posição. Assim, somente um time, fora os quatro rebaixados, ficaria de fora de torneios internacionais em 2022.

Por shows, Conmebol pede intervalos maiores nas finais

O presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, enviou uma carta ao presidente da Fifa, Gianni Infantino, solicitando mudanças nas finais da Libertadores e da Sul-Americana. A entidade que comanda o futebol do continente pediu a ampliação do tempo de intervalo dos dois jogos para 25 minutos de duração, 10 a mais do que o regulamento prevê atualmente. O principal motivo da solicitação é o desejo de promover um espetáculo musical.

Na carta, Domínguez argumenta que “um intervalo ligeiramente mais longo permitiria um espetáculo artístico de alta qualidade aos torcedores presentes e aos que acompanham a transmissão televisiva, tal como acontece em outros esportes com excelente receptividade”. A ideia é oferecer ao público um evento semelhante aos famosos shows do Super Bowl, onde já se apresentaram artistas como Katy Perry, Lady Gaga, Justin Timberlake, Beyoncé, Shakira e Jennifer López. “Isto tornaria mais atrativa a definição das competições”, justifica.

A Conmebol também defende que o prolongamento do tempo de intervalo para 25 minutos beneficiaria fisicamente os jogadores, visto que as finais podem chegar a 120 minutos jogados, em caso de prorrogação. “Os atletas teriam uma melhor recuperação física e os treinadores teriam a oportunidade de dar instruções mais precisas, aumentando assim o nível de competitividade bem como a qualidade do jogo”, diz a Conmebol na carta. A Fifa ainda não respondeu ao pedido, feito exclusivamente para as decisões continentais.


Finais
As decisões da Libertadores da América e da Copa Sul-Americana estão marcadas para o mesmo local: o Estádio Centenário, em Montevidéu, no Uruguai. Bragantino e Athletico-PR irão se enfrentar em 20 de novembro. Sete dias depois, será a vez de Flamengo e Palmeiras duelaraem pelo tricampeonato continental. A Conmebol está trabalhando para liberar a capacidade máxima de público para as partidas finais de seus principais torneios.

Furacão confirma outra decisão brasileira

O Athletico-PR é mais um clube brasileiro garantido na final da Sul-Americana 2021. Na noite de ontem, o time venceu o Peñarol, por 2 x 0, na Arena da Baixada, em Curitiba, pelo confronto de volta da semifinal. Na ida, os paranaenses haviam vencido por 2 x 1. Com isso, o Furacão fará a decisão do campeonato com o Bragantino, que na quarta-feira despachou o Libertad e alcançou sua primeira decisão internacional.

Enquanto o time paulista buscará o título inédito, o Athletico-PR quer o bicampeonato da Sul-Americana, pois levantou a taça em 2018. Em desvantagem no placar agregado, o Peñarol precisou ter postura ofensiva e pressionou o time paranaense pelo primeiro gol. Mas a primeira grande chance foi do Furacão aos nove minutos, quando Bissoli recebeu na entrada da área e finalizou forte para boa defesa de Dawson.

A postura do Athletico-PR foi de esperar os contra-ataques para praticamente encaminhar a classificação. E a estratégia deu certo. Aos 23, David Terans arrancou com a bola no campo de defesa, foi até a linha de fundo e tocou para Nikão finalizar de esquerda, no canto do goleiro. Mas a vaga poderia ter ganhado requintes de sofrimento, aos 28, quando Erick derrubou Juan Ramos na área e o árbitro marcou pênalti. Cappellini foi para a cobrança e mandou no meio do gol. O goleiro Santos, que não se mexeu, defendeu.

No segundo tempo, o Athletico-PR claramente jogou com o regulamento ao seu favor e controlou as ações. Tanto é que o Peñarol não conseguiu passar pela marcação e, consequentemente, incomodar o goleiro Santos. Bem na partida, o Furacão teve paciência e, aos 34, ampliou. Abner começou a jogada, tocou para Nikão e o meia encontrou Pedro Rocha. O atacante passou pela marcação e chutou com força, sem chances de defesa.

Com 4 x 1 no agregado e o Peñarol entregue na partida, o clima na reta final foi de amistoso e com os paranaenses tocando a bola com tranquilidade. E o Athletico-PR até poderia ter feito mais gols, mas parou no goleiro adversário. Placar justo na Arena da Baixada.